Os Espigueiros do Soajo e a imponderabilidade do modelo contemporâneo
A Extemporay Capsule foi construída no pátio exterior do Museu Nacional da Ciência e Tecnologia Leonardo da Vinci, mas a sua vida não fica por aqui: vai ser instalada no Estabelecimento Penitenciário para Menores de Milão, dando coerência à preocupações sociais e ambientais assumidas
Paradoxalmente, num mundo cada vez mais mecanizado e informatizado — com uma sociedade esgotada pelo modelo industrial e esmagada pelo capitalismo, ávida de exclusividade, da série limitada que lhe valha a excelência — a habilidade artesanal do homem (Richard Sennett) ou o desejo de fazer as coisas bem-feitas tem sido constantemente negligenciado ou reprimido e torna-se urgente redescobrir o prazer no trabalho, redescobrir o artesão que há em nós.
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Paradoxalmente, num mundo cada vez mais mecanizado e informatizado — com uma sociedade esgotada pelo modelo industrial e esmagada pelo capitalismo, ávida de exclusividade, da série limitada que lhe valha a excelência — a habilidade artesanal do homem (Richard Sennett) ou o desejo de fazer as coisas bem-feitas tem sido constantemente negligenciado ou reprimido e torna-se urgente redescobrir o prazer no trabalho, redescobrir o artesão que há em nós.
A Extemporay Capsule — construída no pátio exterior do Museu Nacional da Ciência e Tecnologia Leonardo da Vinci e integrada no programa Objects After Objects, no âmbito da Representação Portuguesa na XXI Trienal de Milão — surge de um "workshop" integrado no programa de Mestrado em Design de Interiores da ESAD/Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos, sob o tema A Mão Encontra a Mente, desenvolvido simultaneamente por alunos da ESAD e do Politécnico de Milão, na exploração das relações de interacção e proxémia do corpo com o espaço-objecto, definidas por três acções corpo-espaço-corpo distintas — "Entrar, Atravessar e Estar" — das quais resultaram, respectivamente, três soluções de projecto.
Numa primeira fase repropôs-se um processo projectual que reaproximasse a mão e a mente, o acto de fazer com o de projectar, numa abordagem prática de "hands-on" ["mão na massa"], numa reflexão em comunidade com os alunos sobre as questões ambientais e sociais levantadas na actual conjuntura internacional, do design à arquitetura, reavaliando processos, posturas, escalas e velocidades na relação do homem com o espaço-objecto.
Das soluções de microarquitectura resultantes foi eleita para a construção efectiva aquela com a maior carga simbólica integral, pela sua inspiração — os Espigueiros de Lindoso —, pela acção que implicava — o "Atravessar"—, pelos materiais empregues — a madeira e a cortiça—, e ainda pela própria fisionomia da peça e pelas sensações a que seria potencialmente capaz de induzir.
Seguiu-se um segunda fase, com o "happening" de auto-construção conjunta entre professores e alunos na ocasião da inauguração da Representação Portuguesa na XXI Trienal de Milão, processo que decorreu entre 29 de Março e 2 de Abril, ficando patente no espaço até 12 de Setembro.
Mas a vida deste pórtico-manifesto não fica por aqui: depois de fazer reflectir professores e alunos sobre a necessidade de mudança de paradigma da produção/construção actual, a urgência do regresso à escala do corpo como meio legitimador da relação entre objecto e espaço, a redução da velocidade, o fazer para pensar, aprender, compreender e evoluir do homem-artesão, irá completar o seu ciclo numa terceira e última fase, coincidente com a sua desmontagem e posterior adaptação para um espaço de estar, no Estabelecimento Penitenciário para Menores de Milão (Istituto Penale per i Minorenni di Milano), dando coerência às preocupações sociais e ambientais que o "workshop" assumiu desde o início.
Fica uma experiência marcada de forma indelével na mente e nas mãos dos alunos participantes e a mensagem, sob a forma de túnel, que progressivamente estreitando nos reduz à real condição humana, questionando-nos sobre o modelo de habitar moderno.