Uma casa para conhecer Guimarães para lá do que é óbvio

Casa da Memória é inaugurada esta segunda-feira reunindo no mesmo espaço a história canónica da cidade e as pequenas histórias, o trabalho de artesão e o de artistas contemporâneos.

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De Guimarães, quase todos conhecem o castelo, a tradição têxtil ou o centro histórico classificado como Património Mundial da Humanidade. Mas há uma cidade para além desse lado mais óbvio, que tem tradições seculares e pequenas histórias de gente de verdade disposta a contá-las. É para mostrar essas diferentes camadas de que se faz esta comunidade que nasce, esta segunda-feira, a Casa da Memória, um centro interpretativo que junta, no mesmo espaço, o trabalho de artesãos populares e artistas contemporâneos.

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De Guimarães, quase todos conhecem o castelo, a tradição têxtil ou o centro histórico classificado como Património Mundial da Humanidade. Mas há uma cidade para além desse lado mais óbvio, que tem tradições seculares e pequenas histórias de gente de verdade disposta a contá-las. É para mostrar essas diferentes camadas de que se faz esta comunidade que nasce, esta segunda-feira, a Casa da Memória, um centro interpretativo que junta, no mesmo espaço, o trabalho de artesãos populares e artistas contemporâneos.

A Casa da Memória de Guimarães faz-se de aparentes paradoxos. Nas mesmas salas cabe a grande história da cidade e as pequenas histórias dos seus cidadãos. Por exemplo, no último espaço deste centro interpretativo estão, lado a lado, um conjunto de dezenas de caixas onde se conta quem foram as grandes figuras da vida da cidade, desde S. Dâmaso e Afonso Henriques, e dispositivos vídeo que mostram 60 entrevistas com vimaranenses dos dias de hoje. “É memória a memória que se recolhe da memória da comunidade”, afirma a coordenadora da programação deste espaço cultural, Catarina Pereira.

“Este não é um museu de história”, acrescenta Inês Moreira, que assina a curadoria da exposição permanente do espaço. Na base da criação dos conteúdos da Casa da Memória está uma investigação científica, que suporta o lugar da cultura material na exposição permanente, mas também se encontra espaço para a tradição oral, os mitos e mesmo alguma ficção. As histórias que se contam a partir do baú do casal minhoto, a “valise en carton” dos emigrantes do século XX, ou da mala de porão do brasileiro de torna-viagem do século XIX, são imaginadas, ainda que correspondam a uma ideia dos seus usos e dos seus donos que se instalou na memória colectiva.

O projecto da Casa da Memória nasceu em 2005, por iniciativa da Sociedade Martins Sarmento, uma histórica instituição cultural local, e da Universidade do Minho. A iniciativa foi incluída na candidatura e no programa da Capital Europeia da Cultura de 2012, mas nesse ano apenas o edifício foi aberto ao público, tendo desde então recebido exposições e outros eventos culturais. A concretização dos conteúdos foi, porém, sofrendo vários atrasos, e só agora, quatro anos depois do previsto, o equipamento está pronto para ser inaugurado.

O espaço vai ser gerido pela cooperativa municipal de cultura A Oficina, que já é responsável por outros equipamentos culturais da cidade, como o Centro Cultural Vila Flor ou o Centro Internacional de Artes José de Guimarães.

A exposição permanente, que é inaugurada esta segunda-feira, divide-se em duas áreas, seguindo a organização da fábrica de plásticos que ocupou este edifício durante o século XX. O grande armazém da esquerda é dedicado ao território e é mais escuro, uma vez que a exposição se suporta sobretudo em dispositivos audiovisuais. Do lado contrário, o espaço é dedicado à comunidade e é completamente distinto do primeiro. Desde logo, porque é luminoso e construído de uma forma labiríntica. Mas também porque é mais analógico.

De resto, um dos aspectos que promete ser marcante numa visita à Casa da Memória é a possibilidade de “meter as mãos na massa” da história e das tradições locais. Por exemplo, há uma caixa onde se pode realmente praticar ou aprender a tocar os toques das Nicolinas, as festas dos estudantes da cidade que acontecem entre o final e Novembro e o início de Dezembro.

Não são só a História e as histórias que são colocados lado a lado na Casa da Memória. O centro interpretativo também coloca em pé de igualdade os artesãos locais e os artistas contemporâneos. Foi uma barrista de Guimarães quem fez as peças originais com que se conta, por exemplo, a tradição da procissão da Ronda da Lapinha, ao passo que as cruzes alegóricas da Festa das Cruzes de Serzedelo são obra da Casa da Marcha Gualteriana.

Nos mesmos espaços, os visitantes vão poder cruzar-se também com 11 histórias ficcionais, escritas por Gonçalo M. Tavares a partir de outros tantos objectos, uns mais quotidianos, como uma colher de pau, outros ligados à tradição local, como as Passarinhas e Sardões, doces em pasta de farinha de trigo ou centeio coberta de açúcar, que são trocados entre homens e mulheres no período entre as festas da Senhora da Conceição e Santa Luzia, no início de Dezembro.

Para a Casa da Memória, o fotógrafo Tito Mouraz faz um exercício de re-fotografia, partindo de imagens históricas da cidade, e a ilustradora Ana Aragão, partindo de histórias reais – como a proposta de demolição do castelo no século XIX –, desenha os futuros que a cidade não teve.

Além da exposição permanente, a Casa da Memória tem ainda uma sala de mostras temporárias – que se inaugura também esta segunda-feira com Flor na pele, um projecto sobre o ciclo do linho, com fotografia de Carlos Lobo, sonoplastia de Filipe Silva e cenografia de Sara Franqueira. E vai ter também um repositório documental, que permitirá continuar a registar e recuperar as memórias da cidade ao longo dos próximos anos, mas que só entrará em funcionamento dentro de algumas semanas.