O coworking está a ganhar ainda mais espaço em Lisboa

Um antigo armazém de quatro mil metros quadrados está a ser reconvertido: por onde antes entravam e saíam carruagens de carga, vão passar startups, trabalhadores independentes e artistas.

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Perto do Tejo, um novo e enorme espaço de coworking está a preparar-se para surfar a onda de empreendedorismo que assaltou Lisboa nos últimos anos. Num armazém antigo na zona de Marvila, com uma fileira de janelas partidas que permitem ver o rio, e onde em tempos entravam carruagens para transferir a carga para camiões, vai nascer o No Office Work (NOW), um espaço de cowork com quatro mil metros quadrados (cerca de três piscinas olímpicas), que pretende acolher startups, trabalhadores independentes e artistas.

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Perto do Tejo, um novo e enorme espaço de coworking está a preparar-se para surfar a onda de empreendedorismo que assaltou Lisboa nos últimos anos. Num armazém antigo na zona de Marvila, com uma fileira de janelas partidas que permitem ver o rio, e onde em tempos entravam carruagens para transferir a carga para camiões, vai nascer o No Office Work (NOW), um espaço de cowork com quatro mil metros quadrados (cerca de três piscinas olímpicas), que pretende acolher startups, trabalhadores independentes e artistas.

A história começou há quase dois anos. Miguel Muñoz Duarte, professor na Universidade Nova e sócio numa consultora de inovação chamada iMatch, andava à procura de 300 metros quadrados de escritório onde pudesse acolher algumas startups. A busca levou-o àquele armazém e, com o espaço, a ideia tornou-se maior. Depois da primeira visita, foram “nove meses a namorar as proprietárias”, conta ao PÚBLICO, numa conversa no próprio armazém.

O acesso é feito por uma rampa larga, por onde em tempos circulavam camiões (na nova vida, a rampa servirá para exposições de arte). Lá dentro, haverá um auditório, uma zona de alimentação, uma área para exposição de fotografias, talvez um ginásio. O tamanho abre muitas possibilidades e a ideia é misturar profissionais liberais, empresas e artistas. “Queremos juntar aqui os públicos todos. A escala levanta problemas, mas permite fazer coisas que no Cowork Lisboa não consigo fazer”, diz Fernando Mendes, outro dos responsáveis pelo NOW e que gere um outro espaço de coworking, muito mais pequeno, no lado oposto da cidade.

O conceito de coworking é simples: espaço de trabalho partilhado. Tipicamente, é possível alugar uma mesa de trabalho e pequenas empresas podem alugar um conjunto de mesas ou até uma sala. Normalmente, estes utilizadores têm acesso a salas de reunião, impressoras, internet e outros serviços partilhados. Há espaços em que muitos dos trabalhadores são jovens associados a profissões criativas, ou a startups numa fase inicial. Mas também há espaços deste género em que o ambiente é muito mais formal.

As motivações para se trabalhar num destes espaços são várias: por um lado, é uma alternativa relativamente barata a trabalhar em casa. Por outro, facilita o contacto com outros profissionais, o que ajuda tanto a gerar e aperfeiçoar ideias, como a encontrar clientes ou fornecedores de serviços.

Dados divulgados no final do ano passado pela revista Deskmag, uma publicação dedicada a estes negócios, sugerem que a conversa e o contacto com os outros é uma das vantagens mais apreciada pelos trabalhadores nos espaços de coworking. Os dados – compilados a partir de inquéritos feitos a trabalhadores (incluindo em Portugal), mas sem validade científica - indicam que 68% esperam partilha de conhecimento e 55% consideram haver oportunidades de novos trabalhos ou projectos (e cerca de metade afirmaram que não teriam problemas em deixar o telemóvel esquecido).

Os responsáveis pelo NOW reconhecem que o projecto quer aproveitar a vaga de empreendedorismo que se sente em Lisboa. Nos últimos anos, têm surgido espaços de incubação (onde as empresas dão os primeiros passos), programas de aceleração (onde recebem aconselhamento para um desenvolvimento mais rápido) e mais investidores de risco. A Web Summit, em Novembro, será um enorme evento, para o qual são esperadas 50 mil pessoas. Não são os únicos a ver oportunidades de negócio.

Este Verão, o Mercado da Ribeira – um mercado transformado em espaço de restauração e muito frequentado pelos turistas na capital – deverá acolher a primeira expansão internacional do londrino Second Home, que se define como “um acelerador criativo” e um “espaço de trabalho e local cultural para pensadores, fazedores, artistas e empreendedores”. Co-fundado em 2013 por Rohan Silva, um ex-assessor do primeiro-ministro David Cameron, o Second Home fez levantar sobrancelhas com um anúncio de emprego para o gestor do espaço em Portugal, no qual era oferecido um salário anual entre 80 mil e 100 mil euros. Outro espaço britânico,  chamado Ministry of Startups, vai abrir na zona da Praça de Espanha, depois de ter ponderado cidades como Atenas, Berlim, Paris e Tel-Aviv. Juntam-se aos múltiplos coworks e espaços de incubação que já existem na cidade.

Já dentro do NOW, funcionará também um Impact Hub, um conceito que nasceu no Reino Unido e que chegará agora a Portugal. “É uma comunidade mundial direccionada para quebrar barreiras”, diz Filipe Portela, mentor do projecto. Na prática, isto significa que o Impact Hub dará vários tipos de apoio a empresas (ajudá-las a conhecer clientes ou investidores, por exemplo) desde que estas sejam “negócios de impacto, que tenham valor social ou ambiental”.

O novo espaço em Marvila deverá abrir portas já em Junho, mas só estará a funcionar em pleno depois do Verão. Por ora, ainda é preciso fazer as obras no velho armazém. É um investimento que rondará meio milhão de euros, dividido pelas proprietárias, pela iMatch, pela Fundação + (uma organização não governamental que já gere um outro espaço de coworking na cidade) e pelo Cowork Lisboa. “A correr bem”, dizem os responsáveis, o investimento começará a dar retorno dentro de cinco ou seis anos.