Lisboa: e se a frente ribeirinha nunca dormisse?

Investigador defende a criação de um espaço lúdico aberto 24 horas na frente ribeirinha de Lisboa. "Não é só dançar e beber, também podem haver exposições, exibições de arte", aponta Jordi Nofre

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Rui Gaudêncio

O investigador Jordi Nofre defende a criação de um espaço lúdico que funcione 24 horas na frente ribeirinha de Lisboa, com actividades diurnas e nocturnas, ideia semelhante ao que o município pretende concretizar após gerir espaços da administração portuária.

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O investigador Jordi Nofre defende a criação de um espaço lúdico que funcione 24 horas na frente ribeirinha de Lisboa, com actividades diurnas e nocturnas, ideia semelhante ao que o município pretende concretizar após gerir espaços da administração portuária.


"A frente ribeirinha de Lisboa tem algumas semelhanças com a de São Francisco, nos Estados Unidos, que tinha uma área portuária, com docas, e que foi reabilitada como espaço lúdico aberto quase 24 horas", disse à agência Lusa o especialista espanhol do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (Universidade Nova de Lisboa), sugerindo que o mesmo seja feito na capital portuguesa.


De acordo com Jordi Nofre, esta mudança foi "muito positiva em termos económicos", mas também "em termos sociais", já que a zona funciona agora como "um ponto de convívio entre diferentes grupos sociais". "Hoje, a noite de Lisboa não é um espaço de convívio nem de encontro entre diferentes grupos sociais", pois "está fortemente segregada", considerou.
Desta feita, defendeu que a aposta na frente ribeirinha de Lisboa — que pode ir "desde o Oriente praticamente até Cascais" — deve ser baseada numa "intervenção comunitária". "Não é só dançar e beber, também podem haver exposições, exibições de arte", apontou o investigador.


Jordi Nofre é também coordenador do projecto LX Nights, que visa estudar este tipo de transformações urbanas nos bairros históricos, e indicou à Lusa já ter apresentado a ideia do espaço de diversão à Câmara de Lisboa, com quem teve "conversações informais". Além disso, "vamos propor o lançamento de um plano estratégico de lazer nocturno. Se a Câmara Municipal não avança com isso, vamos propor, contando com a população da associação de moradores, proprietários e de cidadãos em geral", vincou. A seu ver, "não há uma meta definida do que tem de ser a diversão nocturna" na cidade, o que gera problemas para os residentes, como o ruído e a sujidade. 

Autarquia sabe "muito bem o que quer" 

Em declarações à Lusa, o vice-presidente da Câmara de Lisboa, Duarte Cordeiro, salientou que o município "tem uma estratégia muito clara e sabe muito bem o que quer". "Na prática, a noite de Lisboa tem de estar dispersa por mais zonas e os horários [...] têm de estar mais compatibilizados", sustentou, referindo que a diversão "pode funcionar até mais tarde nas zonas onde tem menos conflito com os moradores", na frente ribeirinha.

A autarquia pretende que neste local (entre o Passeio das Tágides, no Parque das Nações, e a DocaPesca, em Belém) deixem de existir limites de horário, acreditando que vai conseguir "levar um novo público para a frente ribeirinha", argumentou Duarte Cordeiro, falando em festivais de música e actividades desportivas. Ainda assim, o autarca frisou que "é preciso mais competências para o município de Lisboa, porque não faz muito sentido a Administração do Porto de Lisboa ter competências sobre a administração de determinados espaços" junto ao rio, alguns dos quais "não têm vitalidade". "Estou certo de que, nas nossas conversações com o Governo, conseguiremos a possibilidade de ter mais intervenção no espaço público da frente ribeirinha, que nos permitirá ter mais sucesso nesta estratégia", advogou.

A ideia agrada à representante da associação Aqui Mora Gente, de moradores do Cais do Sodré. Isabel Sá da Bandeira disse à Lusa esperar "que a moda da noite passe para o outro lado" e que "se instalem aqui coisas de qualidade e comércio durante o dia". Na sua óptica, isso iria atrair gente para ali morar, já que os residentes estão a sair devido às "noites mal dormidas" e aos preços do mercado imobiliário.


Uma perspectiva optimista tem a presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, Carla Madeira, que diz ver "um Cais do Sodré completamente reabilitado" daqui a 10 anos.