Marcelo alerta: “Há qualquer coisa” que falha na Europa na distribuição de refugiados
Em Évora, o Presidente da República almoçou com 13 refugiados, na sua maioria recém-chegados a Portugal e com histórias dramáticas.
Nour Nasser nunca pensou vir para Portugal, de que só conhecia Cristiano Ronaldo e “talvez o Benfica”. Mas este arquitecto sírio de quase 27 anos, sobrevivente a um naufrágio e a muitas desventuras, está agora feliz: um mês e meio depois de ter chegado a Évora, a Cruz Vermelha já activou o programa de emergência que lhe permitirá fazer uma pós-graduação na Universidade do Porto.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Nour Nasser nunca pensou vir para Portugal, de que só conhecia Cristiano Ronaldo e “talvez o Benfica”. Mas este arquitecto sírio de quase 27 anos, sobrevivente a um naufrágio e a muitas desventuras, está agora feliz: um mês e meio depois de ter chegado a Évora, a Cruz Vermelha já activou o programa de emergência que lhe permitirá fazer uma pós-graduação na Universidade do Porto.
Muito mais ansioso está Tamam Alnajjar, 39 anos, estofador de automóveis sírio mas que, como chefe de equipa, trabalhava também na Arábia Sauditra, Líbano e Jordânia. Os seus olhos rogam ao Presidente, mas só fala árabe e precisa de um tradutor que conte a sua história: tem três filhos pequenos, a mulher está grávida de outro, faltam três meses para nascer. Ficaram na Turquia, ele não quis arriscar metê-los num bote de borracha para a Grécia. Ele veio com o pai, 87 anos, completamente dependente dele.
“Ele só quer trazer a família da Turquia para cá, antes que o filho nasça ou o pai morra”, conta-nos o tradutor. “É possível o reagrupamento familiar”, pergunta Marcelo Rebelo de Sousa a Carla Vieira, directora do Centro Humanitário de Évora da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), instituição que recebeu estes refugiados. “É, ao abrigo da lei é possível”, responde a responsável. Marcelo repete – “sim, é possível” – ao tradutor. Tamam Alnajjar abraça o Presidente, cerra os olhos, emocionado.
São duas das 13 histórias que o chefe de Estado ouviu ao início da tarde em Évora, onde almoçou com outros tantos refugiados no Centro Humanitário da CVP. Estas estão bem encaminhadas para um final feliz. Mas a montante algo de grave parece falhar. Foi esse o alerta que Marcelo quis deixar com esta visita: os refugiados não estão a chegar aos países de acolhimento. “Isto está a passar-se em toda a Europa: há qualquer coisa que não funciona”. O recado vai direito para Bruxelas.
“O Governo e toda a sociedade portuguesa têm estado muito atentos a esta realidade – a plataforma de apoio aos refugiados e as instituições mais diversas têm estado muito disponíveis para receber. O problema está a nível europeu: há muita disponibilidade mas depois é difícil encontrar refugiados que queiram vir para Portugal”, afirmou.
“É uma situação incompreensível, mas infelizmente é a situação da Europa”, sublinhou. “Países como Portugal – que em proporção à sua população, é dos países que mais tem mostrado disponibilidade para receber refugiados – estão disponíveis para receber uns milhares e depois chegam umas dezenas… Isto está a passar-se em toda a Europa e não tem a ver nem com a sociedade portuguesa nem com o governo português”, insistiu, deixando mais uma vez um elogio às opções políticas do executivo socialista.