Boris Johnson acusado de racismo ao criticar intervenção de Obama a favor da UE

Mayor de Londres escreveu que Obama é em "parte queniano" num artigo no The Sun.

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E se a polémica sobre a intervenção de Obama na campanha era já enorme, maior ficou perante o artigo que Boris Johnson – privado do seu principal palanque no Telegraph – escreveu para o igualmente eurocéptico The Sun. Nele, o mayor de Londres repete que é “incoerente, inconsistente e totalmente hipócrita” um país como os Estados Unidos defender que os interesses do Reino Unido estão mais bem servidos na UE quando eles “nunca admitiriam nada nada semelhante, para eles ou para os seus vizinhos”.

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E se a polémica sobre a intervenção de Obama na campanha era já enorme, maior ficou perante o artigo que Boris Johnson – privado do seu principal palanque no Telegraph – escreveu para o igualmente eurocéptico The Sun. Nele, o mayor de Londres repete que é “incoerente, inconsistente e totalmente hipócrita” um país como os Estados Unidos defender que os interesses do Reino Unido estão mais bem servidos na UE quando eles “nunca admitiriam nada nada semelhante, para eles ou para os seus vizinhos”.

Só que o artigo vai mais longe, sugerindo que Obama não é tão amigo dos Reino Unido como afirma. Fá-lo de forma indirecta ao lembrar uma história, invocada no ano passado pelo candidato republicano à presidência Ted Cruz, de que Obama teria mandado retirar da Sala Oval o busto de Winston Churchill que o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair tinha emprestado ao seu antecessor, George W. Bush. “Ninguém sabe se o próprio Presidente esteve envolvido na decisão. Alguns dizem que foi um agravo ao Reino Unido. Outros dizem que é um símbolo da antipatia ancestral de um Presidente em parte queniano com o Império britânico – do qual Churchill era um fervoroso defensor”.

A história tinha já sido desacreditada – o Washington Post noticiou em 2015 que a decisão foi tomada pelos curadores da Casa Branca que, com o fim do mandato de Bush, decidiram devolver o busto à embaixada britânica, mantendo-se na residência um outro exemplar que ali está desde a década de 1960. Mas o que os opositores não perdoaram a Johnson foi a colagem ao discurso xenófobo, mais próprio dos populistas do partido antieuropeu UKIP do que um político que diz ser pró-americano.

“Usar este tipo de linguagem não reflecte o posicionamento do Reino Unido no mundo ou o país que queremos ser”, lamentou o antigo embaixador britânico na UE, Stephen Wall. “A máscara voltou a cair. O comentário de Johnson sobre Obama ser parcialmente queniano é um novo exemplo do racismo encapotado de muitos conservadores”, acrescentou John McDonnell, número dois da liderança trabalhista, enquanto o deputado Nicholas Soames, neto de Churchill, classificou o artigo como “aterrador”, assegurando que para o avô seria “inconcebível” recusar ouvir a opinião de um Presidente americano.

Quem agradeceu a boleia foi Nigel Farage, que como todos os rostos da campanha pelo “Brexit” repudiou o que diz ser a ingerência americana. “Eu conheço o background familiar [de Obama]. Quénia. O Colonialismo. Há certamente alguma coisa aí”, afirmou o líder do UKIP, sublinhando que os familiares quenianos do Presidente pertencem à “escola de pensamento” que vê os colonizadores como “invasores estrangeiros”.