Arábia Saudita recebe Obama com frieza inédita

Rei Salman não recebeu o Presidente norte-americano no aeroporto para marcar distanciamento de posições relativamente ao Irão.

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Pontos de vista diferentes na cimeira EUA-Conselho de Cooperação do Golfo Pérsico Kevin Lamarque/Reuters

Um Presidente dos Estados Unidos está habituado a recepções fortes quando visita outros países, especialmente tratando-se de importantes aliados. Não foi isso que aconteceu quando Barack Obama aterrou em Riade. À sua espera estava uma pequena delegação chefiada pelo governador local e a chegada nem sequer teve direito a transmissão televisiva, como em 2015.

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Um Presidente dos Estados Unidos está habituado a recepções fortes quando visita outros países, especialmente tratando-se de importantes aliados. Não foi isso que aconteceu quando Barack Obama aterrou em Riade. À sua espera estava uma pequena delegação chefiada pelo governador local e a chegada nem sequer teve direito a transmissão televisiva, como em 2015.

Em diplomacia, os pequenos gestos contam. O reino saudita quis deixar bem claro que não está contente com a recente conduta da Administração Obama, especialmente a aproximação ao Irão, grandes rivais pela hegemonia regional. A recepção do Presidente norte-americano contrastou com aquela que foi oferecida aos chefes de Estado dos membros do Conselho de Cooperação do Golfo Pérsico (CCG) — em Riade para uma cimeira com Obama esta quinta-feira —, que tiveram direito à presença do rei Salman no aeroporto. A Casa Branca disse não ter atribuído um carácter político à ausência do rei saudita e explicou que foi oferecido pelo palácio um almoço de boas-vindas, ao qual Obama não pôde comparecer por questões de agenda.

A tarefa do Presidente dos EUA nesta última deslocação à Arábia Saudita era tentar apaziguar o descontentamento dos seus aliados na região, assegurando que o levantamento das sanções ao Irão não significa uma viragem na política externa de Washington. A nota oficial da Casa Branca sobre o encontro entre os dois líderes tenta fazer a quadratura do círculo, ao qualificar como “provocatórias” as acções do Irão na região, mas sublinhando “a importância de uma abordagem inclusiva para o desanuviamento dos conflitos regionais”.

Entre os restantes temas discutidos no encontro entre o rei Salman e Obama esteve a campanha de bombardeamentos aéreos contra posições do autoproclamado Estado Islâmico no Iraque e na Síria e conflitos regionais como a guerra civil no Iémen, onde Arábia Saudita e Irão protagonizam um confronto por procuração. De uma forma geral, o mesmo memorando dá conta de “trocas de pontos de vista” entre os dois líderes, mas não há qualquer referência a acordos alcançados ou mesmo coincidência em abordagens.

A frieza da Arábia Saudita face a Washington é partilhada pelos restantes membros do bloco regional, que se reuniu esta quinta-feira com o terrorismo e as relações com o Irão no topo da agenda. “A segunda cimeira EUA-CCG chega numa altura em que os pontos de vista dos Estados Unidos e do Conselho de Cooperação do Golfo acerca da política regional são drasticamente diferentes”, escreve na Al-Jazira a analista Hala Aldosari.

“Nas questões centrais, há um acordo sobre onde queremos chegar”, disse Ben Rhodes, um dos conselheiros de Obama para a segurança nacional, antes do encontro do Presidente com os países do Golfo Pérsico. “Esta cimeira permite-nos alinhar as nossas abordagens e estratégias”, acrescentou o responsável, citado pela Reuters.

Nas palavras que dirigiu aos líderes regionais, Obama deixou uma mensagem clara contra as divisões tendo por base as diferenças religiosas, numa alusão à crescente tensão entre sunitas e xiitas – representada pela rivalidade Arábia Saudita-Irão. “Se as pessoas se vêem a si próprias não como cidadãs de um país, mas como membros de um particular ramo do islão, isso é uma receita para os países colapsarem.”