Alfaiataria: corte e costura com um copo na mão

Tem carrinhos de linhas, alfinetes de dama, dedais e botões mas (já) não é casa de costureira ou alfaiate. Às prateleiras foram acrescentadas garrafas de gin, cervejas e petiscos – é assim a Alfaiataria, agora bar, em Lisboa

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O nome e a decoração não enganam: isto é uma alfaiataria. Durante 40 anos um alfaiate cortou e costurou tecidos com a fita métrica ao ombro e agulha na mão e Vanessa Vargas, mentora do espaço, não quis mudá-lo muito. O alfaiate arrumou as linhas, Vanessa desarrumou-as. Deixaram de se alinhavar fatos para se alinhavarem bebidas e costurar petiscos. O novo bar é “uma homenagem à profissão que quase já não existe”, explica a mentora do projecto, e “um espaço acolhedor para descontrair depois do trabalho”.

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O nome e a decoração não enganam: isto é uma alfaiataria. Durante 40 anos um alfaiate cortou e costurou tecidos com a fita métrica ao ombro e agulha na mão e Vanessa Vargas, mentora do espaço, não quis mudá-lo muito. O alfaiate arrumou as linhas, Vanessa desarrumou-as. Deixaram de se alinhavar fatos para se alinhavarem bebidas e costurar petiscos. O novo bar é “uma homenagem à profissão que quase já não existe”, explica a mentora do projecto, e “um espaço acolhedor para descontrair depois do trabalho”.

Numa rua movimentada perto de Santos, local de saídas nocturnas, uma porta em ferro verde abre-se para desvendar várias máquinas de costura pretas da Singer, prateleiras carregadas de elementos essenciais à vida de um alfaiate – o anterior proprietário não deixou muitos dos seus materiais mas Vanessa procurou-os em lojas antigas e em casa de familiares e trouxe-os novamente para o espaço. “Dão cor e mantém a temática”, realça a decoradora, Tânia Martins, de volta do balcão numa segunda-feira a meio da tarde, ainda de portas fechadas – até ao final do mês, a Alfaiataria abre portas apenas a partir das 18 horas; depois estará aberta durante todo o dia como um “café normal”.

O chão é em xadrez e há mesas que imitam tábuas de engomar, com pequenos bancos em madeira. Outras têm tampos envidraçados que deixam ver os botões multicoloridos, com pequenas âncoras, tesouras, agulhas soltas. É numa destas mesas, junto à porta de vidro e com a luz de meio da tarde a incidir nos botões metalizados, que Vanessa Vargas conta como foi achando as “antiquíssimas” linhas de seda da Singer, as capas de livros de costura ou os moldes pendurados nas paredes.

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Miguel Manso

“Tudo tem uma lembrança”, diz. A avó costurava nas horas vagas e tinha os materiais guardados em casa, Vanessa foi lá e trouxe-os para os compartimentos das mesas, separados como se de caixas de costura se tratassem. Também os vizinhos se lembram do anterior inquilino e vão passando com curiosidade. “O alfaiate abriu de novo? O que tem lá agora?”.

Só as máquinas emolduradas no balcão não são de família e das dez, todas iluminadas, só duas não funcionam. “Não foi fácil arranjar tantas”, conta, mas tinha de as encontrar, para “compor” o imaginário de uma retrosaria ou alfaiataria. Todas têm números de referência, a do meio é manual, de 1932, e a mais antiga é de 1864, continua, apontando para uma e outra máquina, pretas com ornamentos dourados.

Do jazz diurno à electrónica "ouvível"

E o que distingue este bar, que concorre directamente com a movida nocturna de Santos? Primeiro, a localização. O eléctrico passa, rua acima, rua abaixo, e o movimento na rua é constante. Mas é “a vibe” pensada para o espaço que fará a maior diferença, responde peremptoriamente Vanessa Vargas. Durante o dia haverá jazz e muita luz natural. À noite a música muda para electrónica – “ouvível, não é tanto batida para dançar”, ri-se Vanessa. A ideia é ser um espaço “muito ecléctico”, que passa um bocadinho de tudo.

Não tem um público definido, quer agradar não só aos locais que vão trazendo amigos de amigos mas também a turistas. “Para quem está viajando é normal passar, olhar e querer entrar num café que seja giro”, diz. Este é um espaço para “as pessoas que saem para o convívio, para estarem com quem gostam. Nós queremos unir o útil ao agradável” com bebidas, petiscos e um espaço acolhedor, reforça.

A longo prazo, a grande aposta da Alfaiataria será no conceito "happy hour". “Os portugueses ainda não têm muito esta cultura, como em Itália onde se bebe um copo antes de ir para casa. A ideia é vir, comprar uma bebida e eu ofereço os petiscos”, explica Vanessa Vargas.

O menu ainda está a ser delineado e os cocktails estão a ser definidos por Dave Palethorpe, proprietário do bar de cocktails CINCO Lounge, no Príncipe Real. A hora feliz será entre as 17h30 e as 19h30/20h e os petiscos serão “simples” mas “gostosos”, promete a proprietária.