Contestado regresso de ex-governante à direcção de escola em Coimbra
Ex-secretária de Estado quer regressar a um cargo que foi seu antes de integrar o último Governo de Passos Coelho. PSP já foi chamada à escola.
Uma ex-secretária de Estado do último Governo, que tinha cessado funções como directora do Agrupamento de Escolas Coimbra Centro (AECC), quis regressar ao mesmo cargo, mas a subdirectora afirma que decisão é irregular e à margem da lei.
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Uma ex-secretária de Estado do último Governo, que tinha cessado funções como directora do Agrupamento de Escolas Coimbra Centro (AECC), quis regressar ao mesmo cargo, mas a subdirectora afirma que decisão é irregular e à margem da lei.
O caso já envolveu uma ida da PSP à Escola Jaime Cortesão na segunda-feira, a pedido da subdirectora, Maria Luísa Lima, que não aceitou a nomeação "irregular e à margem da lei" da ex-secretária de Estado Amélia Loureiro para o cargo, por parte do Conselho Geral do AECC.
Segundo Maria Luísa Lima, a antiga directora "não está na sala da direcção, mas já desencadeou uns quantos procedimentos" como directora do agrupamento, tendo Amélia Loureiro pedido para alterar as palavras-passe dos "e-mails da direcção", sendo que a subdirectora está neste momento "sem acesso" ao correio electrónico.
A situação já foi exposta ao ministro da Educação, a dois secretários de Estado, à Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares e "também à inspecção", pela subdirectora, que assumiu a direcção da escola até acabar o procedimento concursal para se determinar novo director.
Amélia Loureiro foi directora do AECC desde 2012/2013 até ao momento em que cessou funções para integrar o último Governo de Passos Coelho, que durou 27 dias, como secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário, regressando ao agrupamento como professora, mas a tempo de concorrer ao procedimento concursal para o cargo que tinha desempenhado.
No entanto, durante o concurso, uma das candidatas, a docente Hilda Gonçalves, requereu a exclusão de Amélia Loureiro por não ser titular de uma especialização em Gestão e Administração Escolar, certificada pelo Conselho Científico e Pedagógico de Formação Contínua — requisito criado em 2015.
Desde então, foram várias as "irregularidades" cometidas para Amélia Loureiro "regressar" ao cargo que tinha ocupado, sublinham Hilda Gonçalves e a subdirectora do agrupamento, Maria Luísa Lima.
A consequência de não preencher o requisito do concurso seria "a sua exclusão", sendo que, a 3 de Março, o Conselho Geral do AECC reuniu para eleger um director e apreciar o relatório da comissão especializada do concurso, tendo a ordem de trabalhos sido alterada e "acrescentado um novo ponto" para apreciação de um requerimento de Amélia Loureiro, conta Hilda Gonçalves.
Nesse requerimento, entregue "a 26 de Fevereiro", a antiga directora do AECC pedia o regresso às suas antigas funções, sendo que o Conselho Geral (CG), que "não tinha competência para apreciar o requerimento", decidiu dar provimento ao mesmo "e anular o concurso", disse à agência Lusa Hilda Gonçalves.
A docente e candidata ao cargo recorda que Amélia Loureiro, quando regressa ao AECC, "regressa como professora" e, por não poder retomar de forma directa o cargo, "candidatou-se" à direcção.
Face à inexistência de um dos requisitos para assumir o cargo, "mete um requerimento" e o Conselho Geral "acaba por beneficiar uma candidata", frisou, informando que já apresentou uma providência cautelar no Tribunal Administrativo de Coimbra e um recurso hierárquico "ao ministro da Educação, à Dgeste [Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares] e à DGAE [Direcção-Geral da Administração Escolar]".
"Os professores não sabem de onde recebem as ordens e há uma enorme instabilidade que não contribui em nada para o bom nome da escola", criticou a subdirectora do agrupamento, sublinhando que não pode aceitar o regresso ao cargo por Amélia Loureiro enquanto não tiver ordens superiores sobre a legalidade da medida.
Contactada pela agência Lusa, Amélia Loureiro recusou-se a comentar.
Apesar de o CG do agrupamento ter decidido anular o procedimento concursal, o presidente do Conselho Geral, João Carlos Lopes, disse à Lusa que a situação depende agora "do processo que está a decorrer" junto "da tutela".