Construtora Andrade Gutierrez pagou a Lula através de conta usada para subornos
Instituto do ex-Presidente do Brasil diz que se trata de pagamentos de palestras, devidamente declarados e taxados por Lula da Silva.
Um documento da Polícia Federal brasileira denuncia a existência de pagamentos feitos ao ex-Presidente Lula da SIlva entre 2011 e 2014 na contabilidade que a empresa de construções Andrade Gutierrez usava para pagar subornos, revela a edição desta terça-feira do jornal Estado de São Paulo.
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Um documento da Polícia Federal brasileira denuncia a existência de pagamentos feitos ao ex-Presidente Lula da SIlva entre 2011 e 2014 na contabilidade que a empresa de construções Andrade Gutierrez usava para pagar subornos, revela a edição desta terça-feira do jornal Estado de São Paulo.
Segundo o documento, a construtora pagou 3,6 milhões de reais (879 mil de euros) ao Instituto Lula e à LILS Palestras, ambos ligados ao ex-Presidente. As transferências estão incluídas na alínea "pagamentos a ex-agentes públicos". Os valores passaram por uma conta chamada "Overhead" e fizeram o mesmo percurso de dinheiro que entrou em empresas investigadas pela Lava-Jato por lavagem de subornos. A Operação Lava-Jato investiga casos de corrupção, branqueamento de capitais e evasão fiscal na Petrobras, a empresa petrolífera estatal.
O documento que refere o Instituto Lula e a LILS foi anexado na segunda-feira ao inquérito aberto para investigar o envolvimento da Andrade Gutierrez no esquema de corrupção na Petrobras. Os investigadores da Lava-Jato devem usá-lo agora para cruzar dados revelados por pessoas implicadas no esquema de corrupção que fizeram acordos de redução de pena em troca de informações dadas às autoridades (aquilo a que no Brasil se chama "delação premiada").
Segundo um dos executivos que aceitou trocar informações com a investigação — um ex-presidente da Andrade Gutierres, Otávio Marques — o dinheiro destinado a Lula pode não ter sido transferido directamente para o ex-Presidente: pelo menos numa ocasição, as "luvas" que Lula deveria ter recebido a troco de facilitar um contrato com a Venezuela seguiram para o tesoureiro do seu Partido dos Trabalhadores (PT), João Vaccari Neto, que está preso.
O Instituto Lula justifica-se dizendo que este dinheiro serviu para pagar palestras. "Lula realizou 72 palestras para 45 empresas de diversos países e sectores, inclusive para a Infoglobo, das Organizações Globo", disse o Instituto, numa nota à imprensa. "Todas as palestras foram realizadas regularmente, com valores cobrados em condições iguais de todas as empresas, com nota fiscal, e todos os impostos foram pagos dentro da lei. Não têm nenhuma relação com nenhuma ilegalidade ou vantagem indevida."
Porém, escreve o Estado de São Paulo, o que chamou a atenção dos investigadores da Lava-Jato, uma equipa liderada pelo juiz Sérgio Moro, foi o facto de estes pagamentos estarem incluídos na contabilidade "Overhead", destinada a pagar gastos chamados de "indirectos" e de onde partiram pagamentos a empresas investigadas por terem realizado operações de lavagem de dinheiro ou de dissimulação de capitais.
Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo de uma mandado de busca e apreensão realizado pela Polícia Federal no início de Março e foi interrogado em São Paulo por suspeitas de envolvimento directo e lucro pessoal com a rede de corrupção que existiu durante anos na companhia petrolífera estatal Petrobras. Num despacho, o Ministério Público (MP) afirma que o Lula “foi um dos principais beneficiários” dos crimes financeiros e de lavagem de dinheiro que estão a ser investigados quando estava na presidência e que “possivelmente a sua influência foi usada antes e depois do mandato para que o esquema existisse e se perpetuasse”.