Deputados do parlamento alertados para situação do Ateneu Comercial de Lisboa

A funcionar num palácio na rua das Portas de Santo Antão, o ateneu enfrenta desde 2012 um processo de insolvência, com dívidas de 300 mil euros.

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A Cervejaria Somar é um dos espaços instalados no Palácio do Ateneu Rui Gaudêncio

As únicas arrendatárias do Ateneu Comercial de Lisboa alertaram nesta terça-feira os deputados da Assembleia da República para a possível venda daquele edifício, que é “património cultural da cidade”, e a sua conversão num hotel.

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As únicas arrendatárias do Ateneu Comercial de Lisboa alertaram nesta terça-feira os deputados da Assembleia da República para a possível venda daquele edifício, que é “património cultural da cidade”, e a sua conversão num hotel.

“A nossa preocupação neste momento é sobre o edifício, que é património cultural da cidade. Não sabemos o que vai acontecer ao Ateneu depois de nós sairmos, em Julho”, afirmou Teresa Ferreira, única arrendatária do Ateneu Comercial de Lisboa, que, juntamente com Liliana Escalhão, explora o restaurante/bar 1.º Andar.

A arrendatária falava na comissão parlamentar da Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto.

Teresa Ferreira e Liliana Escalhão são as responsáveis por uma petição na qual se solicita “a intervenção da Assembleia da República no sentido de impedir que o Ateneu Comercial de Lisboa seja vendido” e que até hoje contava com cerca de 7200 assinaturas.

O Ateneu Comercial de Lisboa é uma associação cultural fundada a 10 de junho de 1880, que tinha um amplo plano de actividades culturais, recreativas e desportivas.

A funcionar num palácio na rua das Portas de Santo Antão, o ateneu enfrenta desde 2012 um processo de insolvência, com dívidas de 300 mil euros.

O contrato de arrendamento de Teresa Ferreira e Liliana Escalhão foi feito um mês antes de ser declarada a insolvência do ateneu.

A presidente da comissão parlamentar, Edite Estrela (PS), esclareceu as peticionárias que a “capacidade de intervenção do parlamento é apenas a que diz respeito à salvaguarda do património”.

“Tudo o mais ultrapassa as competências desta comissão e até da Assembleia da República. Não podemos impedir a venda do edifício. Não cabe no âmbito da nossa capacidade de intervenção”, referiu.

No entanto, os deputados dos vários partidos mostraram-se sensibilizados com o tema e garantiram que irão continuar a acompanhá-lo, nomeadamente transmitindo informação aos representantes dos seus partidos na autarquia lisboeta.

“Somos sensíveis a esta questão. Vamos pedir informação à Câmara Municipal de Lisboa. E vamos procurar que exista uma recomendação da Assembleia da República para um espaço tão importante como é aquele”, disse o deputado social-democrata Sérgio Azevedo, que é também deputado na Assembleia Municipal de Lisboa.

Sérgio Azevedo garantiu que o grupo parlamentar do PSD está com as arrendatárias “no interesse de reabilitar aquele espaço como espaço cultural”.

As peticionárias deram conta aos deputados que em Setembro do ano passado apresentaram no Ministério Público uma queixa por alegada gestão danosa no processo de insolvência do Ateneu.

“Estamos há três anos e meio no Ateneu. Vimos muita coisa a acontecer, mas o valor da dívida mantém-se. Para onde vai o dinheiro? Achamos que está a ser gerido indevidamente e que o intuito do administrador de insolvência é a venda e não a recuperação do espaço”, disse na altura Liliana Escalhão em declarações à Lusa.

Liliana Escalhão e Teresa Ferreira já foram notificadas para abandonarem o local até Julho.

“Receio que quando sairmos o espaço seja vendido”, afirmou.

A Lusa contactou já o administrador de insolvência, que não quis prestar declarações.