O meu caso a favor dos TPC

Queridos pais, não culpem os TPC e não culpem os professores, porque com ou sem TPC vão continuar a ser pais e a ter filhos, vão continuar a chegar a casa tarde e a más horas

Foto
picjumbo/ Pixabay

Ora bem, quando um dia alguém se lembrou de aumentar o horário escolar, de modo a agrilhoar os miúdos na escola das 9 às 18, não ouvi nenhum pai a queixar-se, antes pelo contrário, pois quanto mais tempo passarem sem os catraios em casa a correrem de um lado para o outro a bater portas e a puxar cabelos (os deles e os dos pais), melhor. E os professores que os aturem. Pois, se agora há aí tanto professor desempregado, umas horinhas pagas a 4 euros à hora e a recibos verdes dão sempre jeito à classe docente, e os pais agradecem.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Ora bem, quando um dia alguém se lembrou de aumentar o horário escolar, de modo a agrilhoar os miúdos na escola das 9 às 18, não ouvi nenhum pai a queixar-se, antes pelo contrário, pois quanto mais tempo passarem sem os catraios em casa a correrem de um lado para o outro a bater portas e a puxar cabelos (os deles e os dos pais), melhor. E os professores que os aturem. Pois, se agora há aí tanto professor desempregado, umas horinhas pagas a 4 euros à hora e a recibos verdes dão sempre jeito à classe docente, e os pais agradecem.

O pior é que agora os miúdos vêm para casa tarde e a más horas e ainda têm trabalhos de casa por fazer! Ah, mas isso é que não, até porque os pais também chegam a casa tarde e a más horas, cansados, mal dormidos e mal comidos, e isto de ainda terem de ajudar os filhos com os TPC  (trabalhos para casa) não é só inaceitável, é uma tirania!

Mas vamos lá a ver se nos entendemos. Que eu saiba o problema começa logo com os próprios pais, ainda para mais se os mesmos nunca gostaram de fazer os TPC quando crianças em idade escolar, talvez por culpa dos professores de então, talvez por culpa de pais saídos de uma revolução e de um país às portas da fome onde os estudos eram o único garante de um futuro melhor.

Se a isto juntarmos a progressiva diminuição dos salários associada ao aumento da carga laboral, a qual obriga tantos pais por esse país fora a “viver“ nos seus empregos não menos de 60 horas semanais, então pergunto-me: a culpa de as crianças terem de fazer os TPC é dos professores ou do patronato mais as leis que o apoiam? E que tal diminuir a quantidade ignominiosa de horas de trabalho, não só em Portugal, mas por todo o mundo, assim permitindo aos pais passar mais tempo com os filhos, mas de qualidade, assim permitindo aos filhos serem filhos e crianças com tempo para brincar, mas também para estudar? E aqui damos uma volta completa, pois se o problema começa logo pelos pais não quererem aturar os filhos que os próprios trouxeram ao mundo, então cada vez mais me convenço ser o problema não os TPC, não as crianças nem os professores, mas os pais!

Inventem-se novos pais (outra vez)!

No meu tempo, fazer os TPC era sinónimo de estudar e cimentar tudo quanto tinha sido leccionado em espaço de aula. Sim, eram fichas, muitas fichas de trabalho, daquelas que os pais hoje acham chatas, mas tinha de ser feito, porque era preciso aprender, porque era preciso estudar, talvez porque a minha mãe, também ela professora, soube transmitir o porquê de ser tão importante aprender, crescer, viver, conhecer, desde as ciências ao espaço, desde o passado ao futuro, desde a literatura à arte, desde o teatro ao cinema, desde as viagens até ao regresso a casa, e querer sempre conhecer. Porque ser pai e ser mãe é mesmo isso, é viver para ensinar aos filhos este admirável mundo novo à nossa espera, para ser ainda mais admirável, ainda mais novo, e onde a escola é apenas um complemento de tudo quanto se aprende em casa.

Por isso, queridos pais, não culpem os TPC e não culpem os professores, porque com ou sem TPC vão continuar a ser pais e a ter filhos, porque com ou sem TPC vão continuar a chegar a casa tarde e a más horas, porque, com ou sem TPC, os miúdos vão continuar a correr, a gritar e a bater as portas ao futuro que a escola ainda tenta abrir.