Osborne avisa que Reino Unido fora da UE ficará "permanentemente mais pobre"
Relatório do Governo sobre consequências de longo prazo do "Brexit" avisa que famílias podem perder milhares de euros por ano. "Previsão para 2030 é completamente inútil", respondem os eurocépticos.
São números disparados de rajada na direcção dos eleitores indecisos ou daqueles que, mesmo preferindo que o Reino Unido permaneça na União Europeia, estão pouco mobilizados para votar no referendo de 23 de Junho. A saída, avisou nesta segunda-feira o ministro das Finanças britânico, deixará o país “permanentemente mais pobre” e, dentro de uma década e meia, a economia estaria a perder terreno de forma acentuada e cada família poderia perder o equivalente a 4300 libras (5400 euros) por ano.
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São números disparados de rajada na direcção dos eleitores indecisos ou daqueles que, mesmo preferindo que o Reino Unido permaneça na União Europeia, estão pouco mobilizados para votar no referendo de 23 de Junho. A saída, avisou nesta segunda-feira o ministro das Finanças britânico, deixará o país “permanentemente mais pobre” e, dentro de uma década e meia, a economia estaria a perder terreno de forma acentuada e cada família poderia perder o equivalente a 4300 libras (5400 euros) por ano.
“As pessoas que andam por aí a dizer que o Reino Unido pode ter todos os benefícios da UE sem nenhuma das obrigações sofrem de iliteracia económica e, para ser honesto, não compreendem o que implica sair da UE”, disse George Osborne, numa entrevista à BBC pouco antes de apresentar o relatório do seu ministério sobre as consequências de longo prazo de uma eventual saída. “É impossível comer o bolo e ficar com ele”, insistiu, numa referência a uma conhecida tirada de Boris Johnson, mayor de Londres e porta-estandarte da campanha do "Brexit".
A dois meses da consulta, e com as sondagens a mostrarem os dois campos separados por uma curta diferença (ora ligeiramente para o sim, ora para o não, consoante as empresas e os métodos de inquérito usados) todas as armas estão a ser desembainhadas. E as mais de 200 páginas do relatório governamental vão directas às preocupações económicas dos eleitores, o factor que mais pesa no momento da escolha , sobretudo entre os que não decidiram ainda o seu voto – uma sondagem do instituto YouGov divulgada nesta segunda-feira mostra que o “sim” à permanência obtém uma vantagem mais folgada (45%) quando se pergunta aos inquiridos como votariam se soubessem que a saída lhes iria custar cem libras por ano.
Os economistas do Tesouro britânico fizeram previsões a três dos cenários mais prováveis caso o Reino Unido vote pela saída da UE, dois dos quais foram em diferentes momentos apontados como soluções desejáveis pelos eurocépticos. “Em qualquer destas opções, vamos exportar menos, fazer menos negócios, vamos receber menos investimento e o preço será pago pelas famílias britânicas. Os salários vão baixar e os preços vão subir”, sublinhou Osborne, principal aliado do primeiro-ministro, David Cameron, explicando que o preço maior será pago pelos mais pobres, “as pessoas cujos empregos dependem das fábricas de automóveis ou das siderurgias”. Sair, acrescentou num artigo para o jornal Times, seria uma “extraordinária ferida auto-infligida” da qual o Reino Unido poderia nunca recuperar.
Três opções "no vermelho"
O cenário puxado para os cabeçalhos replica o acordo de comércio que o Canadá negociou com a UE e que Johnson já sugeriu que poderia ser o modelo a seguir por Londres. Ao contrário da Noruega (outro dos modelos admitidos pelos eurocépticos), o Canadá não tem de cumprir as regras europeias, aceitar a liberdade de circulação ou contribuir para os cofres comunitários. Mas o acordo bilateral – começado a negociar em 2009 e ainda não ratificado – exclui o acesso ao mercado único de serviços, prioritário para Londres.
Nas previsões do Tesouro, em 2030 os cofres britânicos estariam a arrecadar menos 36 mil milhões de libras (45.300 milhões de euros, um terço do que é gasto com saúde em Inglaterra), o PIB seria 6,2% inferior ao previsível no caso de continuar na UE, o que daria a cada família menos 4300 libras por ano.
O cenário seria menos negro caso Londres optasse pela solução norueguesa – com um PIB 3,8% inferior e uma perda de 2300 libras (2890 euros) por agregado –, mas nesse caso, como não se cansa de afirmar o Governo, teria de cumprir decisões europeias sem ter voto na matéria. Opção mais radical seria deixar que o comércio com a UE se fizesse unicamente segundo as regras da Organização Mundial de Comércio (OMC), o que se traduziria num PIB 7,5% abaixo do previsível.
Os eurocépticos apontaram de imediato as baterias aos números do Governo – mais pessimistas do que outras projecções avançadas nos últimos meses por think-tanks. “Esta previsão para 2030 é completamente inútil”, disse à BBC o antigo ministro e deputado conservador John Redwood, sublinhando que o estudo vem do mesmo ministério que “foi incapaz de prever os danos que a crise da zona euro em 2011 teria para o Reino Unido”. Andrea Leadsom, secretária de Estado da Energia e um dos membros do Governo em campanha pela saída, acusou Osborne de presidir a um exercício parcial – “um relatório que oferecesse aos eleitores uma escolha genuína deveria olhar também para os custos de continuarmos” na UE.
Mas depois de alertas igualmente severos de várias instituições, incluindo o Fundo Monetário Internacional, para os riscos de uma saída, e em vésperas da visita do Presidente norte-americano, Barack Obama, para uma muito aguerrida defesa da permanência britânica na UE, a campanha do “não” dá sinais de que a sua aposta passa por jogar o referendo noutro tabuleiro – o da imigração.
Numa entrevista ao Sunday Times, Boris Johnson aproximou-se do discurso populista do UKIP ao acusar Cameron de falhar sistematicamente a promessa para reduzir o número de estrangeiros que chegam ao país em busca de trabalho – “a imigração pode ser uma coisa muito benéfica, mas temos de ser capazes de a controlar” – e recordou que a UE decidiu no mês passado acelerar as negociações para a adesão da Turquia, a troco da sua cooperação na crise dos refugiados. “Sou muito pró-turco mas não posso imaginar uma situação em que 77 milhões de amigos turcos ou de origem turca pudessem vir para cá sem qualquer entrave. Seria realmente louco”, afirmou Johnson, ele próprio com sangue otomano, numa tirada replicada nesta segunda-feira por toda a imprensa eurocéptica.