Demissão do ministro da Indústria fragiliza ainda mais PP espanhol
José Manuel Soria foi apanhado pelos Panama Papers. O caso fragiliza ainda o PP — e dá trunfos aos restantes partidos — num momento em que é cada vez mais provável o cenário de novas eleições.
José Manuel Soria, que até ao momento ocupava as pastas da Indústria, da Energia e do Turismo no Governo espanhol em funções cedeu à pressão e apresentou a sua demissão esta sexta-feira, na sequência do seu envolvimento nos Panama Papers, um escândalo relacionado com empresas em paraísos fiscais.
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José Manuel Soria, que até ao momento ocupava as pastas da Indústria, da Energia e do Turismo no Governo espanhol em funções cedeu à pressão e apresentou a sua demissão esta sexta-feira, na sequência do seu envolvimento nos Panama Papers, um escândalo relacionado com empresas em paraísos fiscais.
Num comunicado, Soria explica que manifestou a sua intenção ao chefe de Governo, Mariano Rajoy. "Depois de uma conversa com o primeiro-ministro, transmiti a minha decisão irrevogável de apresentar a minha demissão das funções que me foram confiadas desde o passado dia 21 de Dezembro".
Demitiu-se também do cargo de deputado, assim como da presidência do Partido Popular na região das Canárias. "A partir de agora, deixo toda a actividade política", afirmou no comunicado.
Quando o nome do antigo ministro apareceu, inicialmente, ligado aos Panama Papers, este negou o seu envolvimento, mas a divulgação de novos documentos colocou-o a si e ao PP numa situação limite, o que terá forçado a demissão.
Estes novos documentos, comprovam que entre 1993 e 2002 Soria manteve oculta uma empresa offshore registada na ilha de Jersey — um paraíso fiscal no Canal da Mancha —, numa altura em que era presidente da Câmara de Las Palmas. Soria ocupou o cargo de administrador dessa empresa, a Mechanical Trading Limited, que era accionista maioritária da Oceanic Lines, uma outra empresa que o próprio reconheceu ter presidido.
Nos últimos dias, o antigo ministro esteve sob forte escrutínio e acabou por reconhecer uma "sucessão de erros", nas explicações que deu. Mas, perante as várias contradições, não teve outra solução senão demitir-se. No entanto, tentou justificar que o escândalo teve início quando ainda não tinha iniciado a sua vida política, afirmando que na origem da sua demissão existe "falta informações precisas relativamente aos acontecimentos que ocorreram há mais de 20 anos". Não obstante, considera como "evidentes os danos desta situação para o Governo de Espanha e para o Partido Popular", algo "singularmente grave no momento político actual".
Perante esta demissão, Rajoy não poderá nomear um substituto, uma vez que o seu Governo apenas está em funções. Nesse sentido, um outro membro do seu gabinete terá que assumir as pastas deixadas pelo ex-ministro.
A saída de Soria do Governo evita que este tenha que dar explicações no Congresso dos Deputados no âmbito dos Panama Papers, o que estava previsto para a próxima segunda-feira. No entanto, os partidos da oposição pedem explicações ao executivo em funções de Rajoy, e outro membro do Governo deverá ser questionado relativamente aos vínculos do ex-ministro com empresas radicadas em paraísos fiscais.
Rajoy debaixo de fogo
Pedro Sanchéz, líder do PSOE, insistiu esta sexta-feira que deve ser o próprio Rajoy a comparecer no Congresso dos Deputados, e deixou fortes críticas ao PP. "Os dirigentes da direita confundem pátria com património. Rajoy deve assumir as suas responsabilidades e comparecer no Congresso", afirmou, citado pelo El País. "A situação [de corrupção] é estrutural no PP, e até que passe para a oposição, não limpará a sua imagem nem se regenerará", acrescentou.
Também o Cidadãos e o Podemos não deixaram passar a demissão de Soria em branco, e responsabilizaram o PP. "[Rajoy] não pode ser a pessoa que encabece a nova etapa de regeneração política e democrática", afirmou a líder do Cidadãos na Catalunha, Inés Arrimadas, à rádio espanhola RNE. "A Espanha precisa de uma nova referência política, uma nova liderança. Rajoy está a provar que não é a pessoa certa".
Por seu turno, o líder do Podemos, Pablo Iglesias, reagiu através da rede social Twitter, pedindo explicações ao PP. Já Íñigo Errejón, número dois do partido, citado pelo El País, atacou o Governo do PP, considerando-o o "mais corrupto da democracia", bem como o próprio Soria, que acusa de "ter mentido aos espanhóis, com três explicações em três dias"
Este episódio surge numa altura em que a crise politica em Espanha continua sem fim à vista. O cenário cada vez mais provável é o de novas eleições, uma vez que os partidos têm apenas até ao próximo dia 2 de Maio para chegarem a um consenso. Caso isto não aconteça, novas eleições realizar-se-ão a 26 de Junho.
Depois do fracasso das negociações entre PSOE, Podemos e Cidadãos, o PP mantém a esperança de uma "grande coligação" com o partido de Pedro Sanchéz, mas, perante os casos de corrupção ligados ao partido de Rajoy, acentuados com o envolvimento de Soria no escândalo dos Panama Papers, essa solução está cada vez mais posta de parte.