Bernie Sanders foi ao Vaticano denunciar uma "economia imoral e insustentável"
Candidato do Partido Democrata falou numa conferência a convite da Pontifícia Academia das Ciências Sociais e trocou algumas palavras com o Papa Francisco.
O candidato mais à esquerda de entre todos os que pretendem suceder a Barack Obama na Casa Branca, Bernie Sanders, discursou esta sexta-feira no Vaticano, onde denunciou a "economia contemporânea imoral e insustentável".
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O candidato mais à esquerda de entre todos os que pretendem suceder a Barack Obama na Casa Branca, Bernie Sanders, discursou esta sexta-feira no Vaticano, onde denunciou a "economia contemporânea imoral e insustentável".
O candidato do Partido Democrata norte-americano e senador do estado do Vermont chegou ao Vaticano na manhã de sexta-feira, horas depois de um debate aceso com a sua adversária na corrida à nomeação, Hillary Clinton.
Ao contrário do que chegou a ser noticiado, Bernie Sanders não foi convidado pelo Papa Francisco e o chefe da Igreja Católica não esteve presente durante a intervenção do político norte-americano. Francisco escreveu uma mensagem que foi lida na abertura da conferência, a pedir desculpa pela ausência, alegando que os preparativos para a viagem de sábado a Lesbos, na Grécia, tornaram impossível a sua presença.
As informações disponíveis na sexta-feira indicavam que o Papa não iria encontrar-se com Bernie Sanders noutro local, mas na manhã deste sábado o senador do Vermont disse que conversou com Francisco durante cinco minutos.
"Transmiti-lhe a minha enorme admiração pelo trabalho extraordinário que ele tem feito em todo o mundo a favor da moralização da nossa economia. Temos de avançar para uma economia com moralidade, e não para uma economia baseada na ganância”, disse Bernie Sanders, citado pelo New York Times.
O economista Jeffrey D. Sachs (um dos conselheiros do candidato norte-americano) disse que o Papa Francisco agradeceu a Bernie Sanders a sua presença na conferência "e por ter falado sobre a moralização da economia".
Um dos responsáveis da campanha de Sanders, Michael Briggs, disse que não foi tirada nenhuma fotografia porque as regras dos encontros na Casa Santa Marta – onde o Papa reside – não o permitem.
Sanders falou numa conferência que assinala o 25.º aniversário da encíclica Centesimus Annus, escrita por João Paulo II em 1991, no final da Guerra Fria, dedicada à injustiça social e económica – uma encíclica que se enquadra no ensinamento social católico, que remonta à encíclica Rerum Novarum, escrita pelo Papa Leão XIII em 1891.
"Numa época em que poucos têm muito, e em que tantos têm pouco, devemos rejeitar as fundações desta economia contemporânea imoral e insustentável", disse Bernie Sanders, numa conferência para a qual a Pontifícia Academia das Ciências Sociais também convidou o Presidente da Bolívia, Evo Morales, e o Presidente do Equador, Rafael Correa.
O candidato do Partido Democrata norte-americano fez uma referência à encíclica de Leão XIII, salientando a "enorme riqueza de poucos por oposição à pobreza de muitos" – uma frase que considera aplicar-se com mais propriedade nos tempos actuais.
"Podemos dizer que uma globalização desregulada e uma economia de mercado mundial assente na especulação financeira destroem os limites legais, políticos e morais que em tempos serviram o bem comum", disse Bernie Sanders.
A visita de Sanders ao Vaticano suscitou alguma polémica nos Estados Unidos, com alguns analistas e adversários políticos a acusá-lo de querer tirar proveitos para a corrida à nomeação.
Dentro de apenas quatro dias, Sanders e Clinton vão defrontar-se nas importantes eleições primárias no estado de Nova Iorque, e a ausência do senador do Vermont teve leituras diferentes – principalmente porque a base de apoio do candidato inclui muitos defensores dos direitos da comunidade LGBT e a favor da escolha na questão do aborto, por exemplo.
"Há algumas coisas que estão acima das politiquices, e esta é uma delas", disse o responsável pela campanha de Sanders, Jeff Weaver. "É uma oportunidade que ele tem para falar no Vaticano sobre as principais batalhas da sua vida."
Sanders já disse em várias ocasiões que admira o Papa Francisco pelas suas intervenções contra as injustiças sociais, mas no sábado passado, num comício em Nova Iorque, o candidato esclareceu que não concorda com os princípios da Igreja Católica em outros assuntos. "É escusado dizer que tenho fortes discordâncias com alguns aspectos daquilo que a Igreja representa, mas o Papa Francisco tem insistido na necessidade de uma economia com moralidade", disse o candidato norte-americano.
Notícia actualizada às 15h50 de sábado para incluir a informação sobre o encontro de Bernie Sanders com o Papa Francisco.