Podemos não querer cidades plastificadas?
O turismo é uma fonte de desenvolvimento fantástica para as cidades e para as mudanças que os novos tempos obrigam. As cidades modernizam-se, revitalizam-se, os monumentos restauram-se e reabilitam-se. Os centros históricos ganham novas formas e novas vidas.
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O turismo é uma fonte de desenvolvimento fantástica para as cidades e para as mudanças que os novos tempos obrigam. As cidades modernizam-se, revitalizam-se, os monumentos restauram-se e reabilitam-se. Os centros históricos ganham novas formas e novas vidas.
Surgem lojas mais apetrechadas, marcas internacionalmente conhecidas, retiram-se calçadas portuguesas para evitar quedas dos turistas que nos visitam, a população abandona as casas e nelas instalam-se hotéis e casas de restauração, as esplanadas amontoam-se em áreas de património e de interesse público. A vida nocturna cresce, o ruído aumenta, a população desespera e abandona o lugar.
Em breve, a cidade transforma-se num palco de animação e de movimento, mas sem habitantes, sem pessoas que de geração em geração passavam hábitos, ementas gastronómicas, costumes, festas e tradições. Os costumes passam a ser “vendidos” como produtos turísticos de relevo, as festas mudam as feições para acompanhar os novos tempos, a gastronomia vai-se moldando aos hábitos do consumidor, perdendo as qualidades do que “não é saudável”.
Mas, será que é este ambiente que o turista procura? Uma loja estilizada de marca internacional que existe em todo o lado do mundo? Ruas adaptadas a uma standartização? Recuerdos vendidos como tradicionais mas made in China? Casas de arquitectura tradicional mas que não são casas, mas sim hotéis, lojas de venda e de restauração? Cimento em substituição de calçada portuguesa? Centros históricos onde já não se encontram residentes, mas apenas turistas?
Os estudos resultantes dos muitos inquéritos realizados aos visitantes que nos procuram, dizem o contrário. O turista aprecia as cidades com “alma”, com “espírito”, com diferenciação cultural, com autenticidade e originalidade. O turista gosta de ver o bacalhau pendurado na porta, a varina que grita o pregão, a história dos muitos idosos que se sentam nos jardins e das crianças que passam a correr quando saem da escola. E, neste ritmo, à mercê, apenas do desenvolvimento económico, a cidade plastifica-se.
Queremos menos turistas? Claro que não! Queremos os mesmos visitantes, mas não queremos uma cidade igual a todas as outras do mundo pela qual o turista perca o interesse. Queremos manter as diferenças, pois é nas diferenças que alicerçamos a atractividade. É pela diferença que vamos continuar a ser visitados. É pela diferença que diversificamos as actividades económicas e não ficamos petrificados, dependentes de uma mudança de escala de alguma companhia de avião que nos possa matar. Queremos manter o “espírito do nosso lugar” para as gerações do futuro. Podemos?
Docente e investigadora de Turismo e Património da Universidade Portucalense