TAP perde passageiros e receitas pela primeira vez nos últimos seis anos

Crise no Brasil e Angola, os seus principais mercados, afectaram resultados. Dívida da Venezuela elevou prejuízos da companhia de aviação para 99 milhões, mas as perdas do grupo são maiores.

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TAP transportou 11,3 milhões de passageiros em 2015, o que significou uma queda homóloga de 0,8% DANIEL ROCHA

Pela primeira vez desde 2009, a TAP perdeu passageiros e receitas no ano passado. A companhia, que tem vindo sempre a crescer em vendas e tráfego, foi penalizada pela crise que atravessam os seus dois principais mercados: Brasil e Angola. Foi, porém, de outra geografia que veio a factura mais pesada. A dívida da Venezuela à companhia de aviação elevou os prejuízos para 99 milhões de euros – os mais negativos dos últimos oito anos. Falta ainda conhecer os resultados agregados do grupo, o que incluirá nomeadamente a deficitária M&E Brasil (ex-VEM) e que serão os primeiros após a venda ao consórcio privado Atlantic Gateway.

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Pela primeira vez desde 2009, a TAP perdeu passageiros e receitas no ano passado. A companhia, que tem vindo sempre a crescer em vendas e tráfego, foi penalizada pela crise que atravessam os seus dois principais mercados: Brasil e Angola. Foi, porém, de outra geografia que veio a factura mais pesada. A dívida da Venezuela à companhia de aviação elevou os prejuízos para 99 milhões de euros – os mais negativos dos últimos oito anos. Falta ainda conhecer os resultados agregados do grupo, o que incluirá nomeadamente a deficitária M&E Brasil (ex-VEM) e que serão os primeiros após a venda ao consórcio privado Atlantic Gateway.

A TAP adiantou ao PÚBLICO que transportou 11,3 milhões de passageiros em 2015, o que representou uma queda de 0,8% face ao ano anterior, em que tinha registado um aumento de 6,5% para 11,4 milhões. A retracção na procura reflectiu-se nas receitas da transportadora aérea, que desceram 3,7% no ano passado, para 2398 milhões de euros (menos 91,4 milhões do que em 2014). Mas, além da redução do tráfego, houve também um contributo negativo ao nível das tarifas, que caíram 4,3%.

Estes recuos devem-se, em grande medida, à actual instabilidade nos dois principais mercados da TAP, Brasil e Angola. Num comunicado enviado na quarta-feira às redacções, a empresa admitia impactos “da crise económica e política do Brasil”, referindo que provocou “não só uma quebra do volume de tráfego, mas também uma redução significativa da tarifa média”. E acrescentava que, “embora em menor escala, a contracção da economia angolana influenciou também negativamente as ligações aéreas”. A transportadora referia ainda que “o agravamento da situação laboral no final de 2014 e no segundo trimestre de 2015 afectou a confiança do mercado na TAP”.

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Numa análise feita pelo PÚBLICO, conclui-se que a TAP já não perdia passageiros e receitas desde 2009. Nesse ano, a procura caiu 3,4% e as vendas desceram 11%, interrompendo o ciclo de crescimento que se verificava devido aos efeitos da crise internacional. O grande impacto ao nível dos prejuízos deu-se logo em 2008 (com a empresa a registar perdas de 209 milhões de euros), mas foi no ano seguinte que, à semelhança de toda a indústria, a transportadora aérea mergulhou numa reestruturação que levou a cortes profundos nos voos para responder à contracção da procura. Os reflexos dessa estratégia fizeram-se sentir a nível operacional, embora tenham permitido um regresso a lucros de 57,4 milhões. 

Mas, desde então, a companhia de aviação tinha vindo sempre a aumentar o tráfego e as vendas, com destaque para os resultados conseguidos logo em 2010: uma subida de 8,3% nos passageiros e de 13,4% nas receitas. Ao fim de um período de quatro anos de crescimento, deu-se novamente uma inversão nesta tendência, o que a TAP tem estado a tentar combater com uma investida mais forte noutros mercados, nomeadamente os Estados Unidos.   

No comunicado, a TAP explicava que a redução das receitas em 2015 foi compensada, em parte, por uma descida dos custos operacionais, que passaram de 2341 para 2269 milhões. Uma recuperação que se ficou a dever largamente à diminuição da factura com combustível, que representou um encargo de 660 milhões (menos 138 milhões do que em 2014). Mas a transportadora aérea também faz referência a "medidas de contenção adoptadas" para controlar as despesas.

A factura da Venezuela

Se o Brasil e Angola penalizaram a TAP pelo lado da procura e dos preços, a Venezuela veio trazer ainda piores notícias à transportadora aérea. A contabilização da dívida contraída neste mercado fez com que a empresa registasse prejuízos de 99 milhões de euros no ano passado. Sem este impacto, as perdas teriam sido de 7,6 milhões. Já em 2014 a companhia tinha reportado um resultado líquido negativo de 46,4 milhões, mas é preciso recuar oito anos para encontrar prejuízos tão avultados (os tais 209 milhões de 2008).

Apesar de o litígio com o governo venezuelano sobre a repatriação das receitas com a venda de bilhetes se arrastar desde 2013, afectando todas as companhias com operação no país, só no ano passado a TAP contabilizou estas verbas nas suas contas. A dívida, que atingiu 91,4 milhões em 2015, até era mais elevada em 2014, mas nessa altura ainda havia a expectativa de a recuperar. Essa possibilidade, no entanto, já é agora considerada remota pela empresa. Também existe uma dívida em Angola, num montante que rondará os 20 milhões, mas que tem vindo a ser paga gradualmente.

No comunicado divulgado na quarta-feira, a transportadora aérea adiantava que a dívida desceu para 942 milhões, valor que compara com os 1062 milhões do ano anterior. Um recuo que se ficou a dever ao plano de capitalização iniciado pelo novo accionista. Estes resultados são os primeiros da TAP sob controlo da Atlantic Gateway, detida por Humberto Pedrosa e David Neeleman e que actualmente tem uma participação de 61% no grupo. No entanto, abrangem apenas o negócio da aviação, excluindo as contas de outras subsidiárias, como as Lojas Francas ou a deficitária unidade de manutenção no Brasil.

O contrato que fará com que o Estado recupere 50% do capital da TAP ainda não foi assinado, apesar de o Governo já ter chegado a acordo com os privados no início de Fevereiro. Neste momento, a gestão da companhia continua bloqueada por imposição do regulador do sector, que considera que a actual estrutura accionista não respeita as regras comunitárias que impedem que as companhias de aviação sejam controladas por investidores de fora da Europa. Neeleman é o sócio minoritário do consórcio, mas tem acções especiais e entra com a maior fatia do investimento.