Para memória futura
O Abraço da Serpente é um olhar curioso mas desequilibrado sobre a história dos confins da Amazónia.
Francamente curioso, mesmo que razoavelmente desequilibrado, este olhar sobre as desaparecidas culturas amazónicas assinado pelo colombiano Ciro Guerra evoca (ora consecutivamente, ora ao mesmo tempo) os nomes de Lav Diaz, Werner Herzog e Terrence Malick, cineastas que partilham a ideia da relação com a natureza como chave para a compreensão do humano.
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Francamente curioso, mesmo que razoavelmente desequilibrado, este olhar sobre as desaparecidas culturas amazónicas assinado pelo colombiano Ciro Guerra evoca (ora consecutivamente, ora ao mesmo tempo) os nomes de Lav Diaz, Werner Herzog e Terrence Malick, cineastas que partilham a ideia da relação com a natureza como chave para a compreensão do humano.
O Abraço da Serpente, aliás, pode ser definido como um exercício de “memória futura” sobre a questão central do papel da natureza na história da civilização; a sua trama, inspirada nos trabalhos verídicos de antropólogos que estudaram in loco culturas nativas da Amazónia, questiona o papel da divulgação e do conhecimento, pergunta-se (e a nós) onde é que está a fronteira entre partilhar e aproveitar.
Guerra tropeça, contudo, em dois problemas: primeira, o cuidado visual onde a opção pelo preto e branco escorrega de recusa do espectáculo para estetização algo complacente; segunda, a narrativa desdobra-se em dois tempos cujas rimas e recursões acabam por ser mais redundantes, e menos interessantes, do que seria desejável. Não é um filme que procure o exótico gratuito – e isso é bom – mas é um filme que nem sempre lhe consegue escapar.