As pinturas e gravuras de excepcional riqueza da gruta Chauvet, no Sudeste da França, remontam a mais de 30 mil anos. Os cientistas conseguiram reconstituir com precisão a cronologia da ocupação desta gruta, identificando dois períodos distintos da presença humana no local. Sublinham, porém, que a gruta seria apenas visitada e nunca foi habitada.

As pinturas e gravuras de excepcional riqueza da gruta Chauvet, no Sudeste da França, remontam a mais de 30 mil anos. Os cientistas conseguiram reconstituir com precisão a cronologia da ocupação desta gruta, identificando dois períodos distintos da presença humana no local. Sublinham, porém, que a gruta seria apenas visitada e nunca foi habitada.

"A novidade do nosso estudo é que restaura a cronologia da gruta, e pela primeira vez, é expressa em anos civis", explica Anita Quiles, uma cientista do Instituto Francês de Arqueologia Oriental no Cairo, Egipto, que conduziu o trabalho, em declarações à agência de notícias AFP. Chauvet foi descoberta por espeleólogos em 1994 (por Jean-Marie Chauvet, Christian Hillaire e Eliette Brunel) e desde Junho de 2014 é Património da Humanidade.

"Agora sabemos com toda a certeza que não houve mais actividades humanas na gruta Chauvet desde há 30 mil anos", acrescenta a física, cujo trabalho foi publicado esta semana na revista Proceedings of the National Academy of Sciences. Com as datações por radiocarbono feitas até agora não era possível precisar quando – nos anos de calendário – o homem esteve dentro da gruta, onde fez diversas pinturas e gravuras, 447 das quais representam animais. De acordo com esta nova cronologia, a primeira ocupação humana da gruta terá ocorrido há 37 mil anos por homens anatomicamente modernos (a nossa espécie) e prolongou-se por 3500 anos. O fim da ocupação coincide com um deslizamento de terra que, aliás, terá bloqueado parcialmente a entrada e o acesso à gruta.

Ainda assim, registou-se um segundo período de ocupação e os humanos voltaram a frequentá.la. Há 31 mil anos, os humanos regressaram ao seu interior tendo deixado de visitar este local há 29.400 anos por causa de um novo deslizamento de terra, que fechou definitivamente a sua entrada, concluem agora os investigadores que conseguiram novas datações e mais rigorosas.

No local não foram encontrados restos humanos, o que leva a concluir que estes homens não habitavam a gruta e que apenas a frequentavam ocasionalmente.

O novo calendário da presença humana na gruta ajuda também a precisar a idade das gravuras e pinturas. Para chegar a estas conclusões, que resultam de 18 anos de trabalho dos investigadores, foi desenvolvido um modelo estatístico com dezenas de datações por carbono-14 de ossos, carvão, estalagmites e rochas. “Isto é suficientemente revolucionário para nós. É uma nova ferramenta que pode ser usada noutros lugares e noutros períodos antigos”, disse à AFP Jean-Michel Geneste, director científico da gruta Chauvet.

"Assim, podemos hoje afirmar que há 36 mil anos, quando o Paleolítico Superior emerge com as modernas técnicas de trabalho, arte e adorno, já temos uma arte que é evoluída a este ponto, bem sucedida e já objecto de uma longa memória, uma longa tradição cultural na Europa Ocidental", sublinha o cientista. "Antes era uma hipótese, agora temos dezenas de datas e com toda a certeza", acrescenta.

Este novo modelo matemático "é na verdade uma espécie de viagem no tempo que poderia ir para o limite extremo do carbono-14", adianta ainda Jean-Michel Geneste. Os cientistas estimam que o carbono-14 permite datar eventos ocorridos até há cerca de 50.000 anos.

A gruta Chauvet, em Pont d'Arc, localizado em Ardèche, está protegida e não pode ser visitada por turistas. A entrada no local está reservada a um grupo restrito de investigadores autorizados. Porém, em 2015, uma réplica deste local único foi aberta ao público. A “imitação” que pode ser visitada pelos turistas que colocariam em risco as obras de arte do sítio original tem cerca de 3000 metros quadrados. Para recriar todo o lugar, também é fria e húmida e os investigadores garantem que até o cheiro é igual. Lá dentro, encontram-se reproduções feitas por engenheiros, escultores, pintores e outros artistas com recurso às mais avançadas tecnologias 3D.