Robôs, nervos, células e outras tentativas
Há milhões de pessoas no mundo paralisadas. Os cientistas tentam resolver o problema das mais variadas maneiras e, nos últimos anos, registaram-se alguns progressos.
Imagine que a espinal medula é uma auto-estrada. Tem dois sentidos – um que mostra o trânsito que vem do cérebro com as ordens para o corpo e outro que leva as sensações do corpo até ao cérebro. Simples. Uma lesão na espinal medula é como um grande acidente que corta o trânsito nos dois sentidos. Dependendo da gravidade e dos estragos provocados, a estrada pode ficar bloqueada para sempre. As ordens do cérebro não passam, logo, o corpo não se mexe, fica paralisado.
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Imagine que a espinal medula é uma auto-estrada. Tem dois sentidos – um que mostra o trânsito que vem do cérebro com as ordens para o corpo e outro que leva as sensações do corpo até ao cérebro. Simples. Uma lesão na espinal medula é como um grande acidente que corta o trânsito nos dois sentidos. Dependendo da gravidade e dos estragos provocados, a estrada pode ficar bloqueada para sempre. As ordens do cérebro não passam, logo, o corpo não se mexe, fica paralisado.
Há milhões de pessoas no mundo com a sua “auto-estrada” bloqueada, paralisadas. Os cientistas tentam resolver o problema das mais variadas maneiras e, nos últimos anos, registaram-se alguns progressos que foram notícia. Em 2012, a revista Jornal of Neurosurgery publicou um artigo sobre um homem de 71 anos que recuperou o controlo parcial das mãos após uma cirurgia na espinal medula que conseguiu estabelecer novas ligações nervosas. Também aqui, à semelhança do caso agora publicado na revista Nature, tratou-se de um bypass entre o cérebro e as mãos.
Também em 2012, um outro artigo na Nature dava a conhecer os sucessos de dois doentes tetraplégicos que conseguiam apanhar objectos com braços robóticos movidos pelo cérebro. Aqui, não era o próprio corpo que recebia a informação do cérebro mas algo fora do organismo, um robô ao qual os doentes estavam literalmente ligados através de um microchip electrónico implantado no cérebro. Os dois doentes, de 58 e 66 anos, conseguiram apanhar bolas de espuma com a prótese e ainda pegar num cantil com café, levantá-lo e beber com uma palhinha. Até esta altura, doentes tetraplégicos com implantes cerebrais já tinham conseguido deslocar um cursor num ecrã de computador, ao pensarem nisso. Anos antes, em 2008, outros investigadores divulgaram o resultado de um experiência com macacos que também tinham conseguido fazer mexer um braço robótico com o “poder da mente”.
As tentativas dos investigadores que exploram as capacidades regenerativas do sistema nervoso central também foram feitas em ratos. Em 2012, uma equipa da Universidade de Zurique (Suíça) dava a conhecer um tratamento que fez com que ratos paraplégicos andassem por vontade própria. Neste caso, os cientistas combinaram um tratamento de estimulação química (com um cocktail de substâncias que imitam a acção de neurotransmissores) e eléctrica (com um série de eléctrodos no chamado “espaço epidural”) com um treino num sistema robótico de reabilitação motora. Os ratos vestiam um colete e ficavam pendurados numa plataforma que permitia que andassem para a frente. E, com chocolate colocado à vista, na outra ponta da plataforma, os ratos andavam. Os investigadores perceberam que o tratamento tinha feito quadruplicar as fibras nervosas na espinal medula e no cérebro.
Em 2014, a revista Cell Transplantation publicava mais um avanço: um homem búlgaro, paraplégico, conseguiu voltar a andar dois anos depois de um autotransplante de células (do bolbo olfactivo e de tecido nervoso) que lhe regenerou a espinal medula. Após o complexo transplante realizado em 2012, o doente fez um intenso programa de reabilitação que consistia em sessões de fisioterapia de cinco horas, cinco dias por semana. Passados seis meses deu os primeiros passos com ortopróteses e conseguiu também, mais tarde, recuperar parcialmente a função sexual e controlar a incontinência. Há ainda o conhecido exoesqueleto robótico concebido há alguns anos e que já é comercializado em vários países (em Portugal custa cerca de 120 mil euros) que permite que alguns paraplégicos se mantenham de pé, com a ajuda de um andarilho, e consigam andar.
Estes são apenas alguns dos muitos exemplos de tentativas feitas por cientistas de todo o mundo para responder aos milhões de doentes que após um acidente que lhes provoca uma lesão da medula ficam paralisados. Conseguir que recuperem um simples movimento como agarrar um copo e levá-lo até à boca é já uma vitória estrondosa. Mais do que um simples gesto é um precioso passo para um pouco mais de autonomia.