Incumprimento volta a aumentar: 9% dos empréstimos são crédito malparado

Um terço dos empréstimos concedidos a empresas de construção é crédito malparado.

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Nas empresas de construção, há cerca de 4400 milhões de euros de créditos vencidos Miguel Manso

Há quase 20 mil milhões de euros de crédito malparado nos bancos portugueses. Perto de 18 mil milhões são empréstimos vencidos de empresas e particulares residentes no país. E deste montante, mais de um quinto são empréstimos que as empresas do sector da construção deixaram de pagar, entrando em situação de incumprimento.

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Há quase 20 mil milhões de euros de crédito malparado nos bancos portugueses. Perto de 18 mil milhões são empréstimos vencidos de empresas e particulares residentes no país. E deste montante, mais de um quinto são empréstimos que as empresas do sector da construção deixaram de pagar, entrando em situação de incumprimento.

As estatísticas financeiras actualizadas nesta terça-feira pelo Banco de Portugal mostram que a percentagem do crédito malparado face ao total dos empréstimos concedidos voltou a aumentar em Fevereiro. Ao todo, em quase 200 mil milhões de euros de empréstimos a residentes (81.115 milhões a empresas e 118.821 milhões a particulares), 9% são créditos em incumprimento (continuavam por regularizar 30 dias depois de acabar o prazo de vencimento da prestação bancária). O rácio aumentou em relação a Dezembro e Janeiro, aproximando-se dos níveis dos meses anteriores, em que estava acima dos 9%.

Os níveis de incumprimento mais elevados continuam a ser os do sector da construção. Mais de um terço (34,4%) são empréstimos vencidos, num valor que chega a 4389 milhões de euros (em 12.767 milhões concedidos). Nas actividades imobiliárias, 25,6% do crédito é malparado; no comércio e reparação de automóveis, é de 16,3%; na restauração, alojamento, nas empresas de consultadoria e nas indústrias transformadoras, supera os 10%.

Os números do Banco de Portugal dão uma dimensão do problema que atinge o balanço dos bancos, um tema que ganhou destaque depois de o primeiro-ministro vir defender na entrevista ao Diário de Notícias do último domingo a necessidade de ser criado um “veículo de resolução do crédito malparado”.

Nas empresas, o crédito em incumprimento representa 15,5% dos empréstimos. Há uma grande disparidade entre os níveis de incumprimento consoante a dimensão das sociedades. Se nas grandes companhias o nível de incumprimento corresponde a menos de 4% dos empréstimos (em valor), nas médias empresas já supera os 12%, nas pequenas chega aos 14,5% e no caso das microempresas já apanha um quarto dessas sociedades (26,1%).

Nos empréstimos à habitação das famílias, estabilizou nos 2,6% face ao mês anterior (em 97.269 milhões de empréstimos, 2543 milhões são crédito vencido). Já no crédito ao consumo, onde o incumprimento é tradicionalmente mais elevado, houve um ligeiro recuo, com o rácio a passar de 9,4% para 9,3%. Pelo terceiro mês consecutivo está abaixo da barreira dos 10%.