Nove doentes infectados por bactéria multirresistente no Hospital de São João
A mesma bactéria resistente a antibióticos foi detectada nos últimos meses nos centros hospitalares de Coimbra e Gaia, onde provocou seis mortos.
O Centro Hospitalar de São João, no Porto, anunciou esta segunda-feira, em comunicado, que foram detectados, nos últimos dias, nove casos de doentes portadores de bactérias multirresistentes, dois dos quais apresentam uma infecção activa. O director clínico da unidade, José Artur Paiva, disse à agência Lusa que, por isso, todos estes doentes estão em isolamento.
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O Centro Hospitalar de São João, no Porto, anunciou esta segunda-feira, em comunicado, que foram detectados, nos últimos dias, nove casos de doentes portadores de bactérias multirresistentes, dois dos quais apresentam uma infecção activa. O director clínico da unidade, José Artur Paiva, disse à agência Lusa que, por isso, todos estes doentes estão em isolamento.
A nota dá conta de que os restantes doentes portadores das bactérias — várias estirpes da denominada Klebsiella pneumoniae — foram identificados na sequência da realização de análises de rastreio, exames esses previstos no protocolo da instituição. Trata-se do mesmo tipo de bactéria responsável por um surto que afectou, desde Agosto do ano passado, mais de 100 doentes no Hospital de Gaia, três dos quais morreram.
A mesma bactéria foi detectada em Fevereiro passado no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). Foi encontrada em 21 doentes internados na instituição, três dos quais acabaram por morrer. "Não se registou qualquer caso de morte associada a infecção por este agente", afirma o São João, um dos maiores centros hospitalares do país.
O PÚBLICO apurou que o surto no São João foi detectado no serviço de Cirurgia Vascular, onde estão os nove doentes isolados. Todos os outros foram distribuídos por outros serviços do hospital.
"Em dois dos nove casos essa bactéria está a provocar infecção, mas são infecções que nesta altura parecem não ameaçadoras de vida", esclareceu José Artur Paiva, referindo tratar-se de "infecções da pele e de tecidos moles, nada de grave no sentido de ser ameaçador da vida".
Segundo o director clínico do São João, trata-se de uma bactéria que habita no nosso tubo digestivo, no intestino, e que faz parte do que se designa de microbioma, ou seja, grupo de bactérias que vive em simbiose com o organismo, mas que "quando exposta a antibióticos estabelece uma modificação e passa a produzir uma enzima nova, que habitualmente não produz". Estas enzimas, a que se chamam carbapenemases, fazem-na ser capaz de destruir um dos antibióticos mais potentes que existe.
"Foi feito rastreio a todos os doentes que tiveram contacto com os doentes positivos e a situação está nesta altura controlada, embora ainda tenhamos rastreios em curso. Não excluo a hipótese de haver mais alguns casos detectados nestes rastreios que falta ter o resultado. Penso que no prazo de 48 a 72 horas teremos os resultados definitivos", acrescentou, citado pela Lusa.
Na nota divulgada ao início da tarde, o centro hospitalar informa que foram instituídas "as medidas de controlo preconizadas para estes casos de forma a manter a continuidade da actividade assistencial do hospital sem pôr em causa a segurança dos doentes". E acrescenta-se: "Esta situação está a ser acompanhada permanentemente por um grupo de trabalho interno constituído especificamente para o efeito."
O Centro Hospitalar de São João já deu conhecimento às estruturas regionais, como a Administração Regional de Saúde do Norte, e centrais, como o Programa de Prevenção e Controlo de Infecções e de Resistência a Antimicrobianos da Direcção-Geral da Saúde.
Em Novembro do ano passado, o Ministério da Saúde contabilizava que a bactéria multirresistente detectada no Hospital de Gaia tinha sido encontrada em 102 doentes infectados ou portadores (sem manifestações clínicas).
Nessa altura, o director-geral da Saúde, Francisco George, considerou que o surto da bactéria multirresistente tinha uma explicação: o uso indevido e inadequado de antibióticos.
Em meados de Março, o PÚBLICO noticiou que, apesar de o consumo de antibióticos estar a diminuir em Portugal, as mortes associadas às infecções em internamentos — que atingiram 4606 casos em 2013, ou seja, mais de 12 por dia — são um motivo de preocupação para os responsáveis da Direcção-Geral da Saúde (DGS), que pela primeira vez este ano destacaram esta estimativa, comparando-a com o número das vítimas mortais em acidentes de viação, que foi sete vezes inferior nesse ano.
Os números foram divulgados durante a apresentação do relatório Portugal: Prevenção e Controlo de Infecções e Resistência aos Antimicrobianos 2015, em Lisboa, onde o secretário de Estado adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, anunciou que o Ministério da Saúde vai dar para o ano incentivos financeiros aos hospitais que consigam reduzir as infecções para tentar contrariar este problema.