PCP quer ver taxadas as operações financeiras em offshores
Partido iniciou as jornadas parlamentares em Vila Real. Jerónimo de Sousa anunciou mais uma proposta na sequência das revelações dos Panama Papers e prometeu medidas para o desenvolvimento regional e para combater as assimetrias regionais.
Depois de propor ao Parlamento que se pronuncie pelo fim dos offshores e de procurar saber, através da criação de uma unidade técnica, onde pára o dinheiro que desapareceu dos vários bancos nacionais que tiveram problemas nos últimos anos, o PCP vai agora dar entrada na Assembleia da República com um projecto com vista à taxação das operações financeiras realizadas com paraísos fiscais, de forma a contrariar “as práticas de fuga aos impostos ou ocultação da proveniência dos capitais”.
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Depois de propor ao Parlamento que se pronuncie pelo fim dos offshores e de procurar saber, através da criação de uma unidade técnica, onde pára o dinheiro que desapareceu dos vários bancos nacionais que tiveram problemas nos últimos anos, o PCP vai agora dar entrada na Assembleia da República com um projecto com vista à taxação das operações financeiras realizadas com paraísos fiscais, de forma a contrariar “as práticas de fuga aos impostos ou ocultação da proveniência dos capitais”.
O anúncio foi feito esta segunda-feira por Jerónimo de Sousa, em Vila Real, no arranque das jornadas parlamentares do PCP que realizam hoje e amanhã em Trás-os-Montes e Alto Douro. O secretário-geral comunista justificou esta iniciativa com o “escândalo” que se vai tornando mais claro do que se esconde por detrás dos offshores, desde que o Consórcio Internacional de Jornalistas revelou, há uma semana, o caso Panama Papers, e que se sabe agora que envolve diversos portugueses.
“Torna-se cada vez mais evidente a necessidade de medidas concretas de combate a essa realidade”, defendeu o líder comunista, para quem o sistema bancário internacional “é o maior organizador e impulsionador à fuga de impostos e à ocultação do capital proveniente dos mais variados tipos de origens ilegais ou mesmo criminosas”.
Falando ainda do sistema bancário, Jerónimo de Sousa insistiu na necessidade de manter o Novo Banco na esfera pública - e prometeu uma nova proposta sobre isso no Parlamento - porque “nas actuais circunstâncias não há banca nacional se não for pública”. "A banca privada esteve no epicentro e é responsável pela crise financeira", acusou.
E referiu-se ao Orçamento do Estado – admitindo “que ficou aquém do que é necessário e possível na resposta às justas aspirações” dos portugueses - para realçar o papel do PCP na aprovação de medidas como a recuperação de rendimentos. Mas também constatou que, depois da aplicação das políticas PSD/CDS e dos constrangimentos externos a que o Governo PS está vinculado, é preciso agora uma "intervenção quotidiana e sistemática (...) para lá dos trabalhos desenvolvidos no âmbito do orçamento".
Antes de Jerónimo, fora a vez de o líder da bancada parlamentar comunista realçar o “quadro” da “nova situação política” que permitiu o “indispensável contributo do PCP” na questão dos rendimentos. João Oliveira vincou o papel do partido em contrariar a ideia de que “era inevitável” a política do anterior Governo e a sua filosofia de avançar com “propostas que correspondem às soluções necessárias” para os problemas – como pretende fazer nestas jornadas.
O secretário-geral comunista pegou nessa necessidade de “dar resposta a problemas concretos” para falar sobre as razões que trazem a Vila Real e Bragança os comunistas, região que “sofreu de forma muito particular” a recente crise. “Aqui estamos dispostos a não baixar os braços perante os problemas das desigualdades sociais e regionais e muito menos dispostos a aceitar como uma fatalidade o crescimento das assimetrias regionais e os inquietantes processos de desertificação humana, declínio social, de estagnação e regressão económica como os que enfrenta esta vasta área de Trás-os-Montes e Alto Douro.”
Referiu-se à diminuição das explorações agrícolas e de produção de leite e carna devido às regras da PAC – Política Agrícola Comum e ao processo legislativo que tem comprimido os direitos ao uso dos baldios. E criticou o PS por recentemente se ter aliado ao PSD e ao CDS para chumbar um projecto comunista que defendia a valorização da agricultura. Jerónimo de Sousa criticou a decisão do Governo PSD/CDS de extinguir a Casa do Douro, defendendo ser necessária “uma instituição pública no Douro, de inscrição obrigatória de todos os produtores, com os poderes históricos da Casa do Douro”.
O líder comunista vincou a necessidade de investir nos sectores produtivos mas também ter uma outra política de serviços públicos, nomeadamente na saúde, na educação, na Segurança Social, e também na justiça – neste último caso sobretudo depois da “imposição” do mapa judiciário que encerrou muitos tribunais também aqui no interior.
“Produzir mais para viver melhor. Produzir mais para dever menos”, insistiu o líder comunista, para contrariar as assimetrias e a perda de coesão territorial. “Assimetrias avolumadas apesar dos milhares de milhões de euros de sucessivos programas de fundos comunitários supostamente destinados a assegurar a prometida coesão social e territorial mas efectivamente desviados para beneficiar o grande capital e aplicados à margem de planos regionais de desenvolvimento.”
Realçando que a região tem “potencialidades e capacidades para se desenvolver”, o secretário-geral do PCP defendeu a necessidade de uma “nova política” com um novo olhar para o território com uma “efectiva política de descentralização, valorização do poder local e a reposição dos meios financeiros” exigíveis para prosseguirem as suas competências.