Olhe que não, Dr.ª Canavilhas!
Foi António Lamas, quando Presidente do Instituto do Património (IPPC), que criou, em finais dos anos 80, a zona monumental Ajuda-Belém.
Vem este “desabafo” a propósito da publicação de um artigo da autoria de Gabriela Canavilhas, ex-ministra da Cultura, publicado neste jornal, intitulado “António Lamas, uma demissão óbvia”. Se fosse tão “óbvia” a demissão do Prof. António Lamas, certamente que não haveria tanta polémica em torno da mesma. E não é “óbvia” por duas questões: a primeira, na forma e nos termos em como foi demitido; a segunda, nos fundamentos (a maioria falsos) que justificaram a sua demissão.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Vem este “desabafo” a propósito da publicação de um artigo da autoria de Gabriela Canavilhas, ex-ministra da Cultura, publicado neste jornal, intitulado “António Lamas, uma demissão óbvia”. Se fosse tão “óbvia” a demissão do Prof. António Lamas, certamente que não haveria tanta polémica em torno da mesma. E não é “óbvia” por duas questões: a primeira, na forma e nos termos em como foi demitido; a segunda, nos fundamentos (a maioria falsos) que justificaram a sua demissão.
Em relação à primeira questão, praticamente tudo já foi dito: ninguém tem o direito vir para a praça pública achincalhar um homem que tem um trabalho, notável, realizado em nome do interesse público, quer como Presidente do antigo IPPC, actual DGPC, quer como Presidente do Conselho de Administração da Parques de Sintra-Monte da Lua, empresa pública com a missão de reabilitar o imenso património paisagístico e cultural, classificado de Património da Humanidade. O Prof. Nunes Correia, então ministro do Ambiente do governo socialista, teve o bom senso de nomear alguém com perfil adequado para valorizar tão vasto património que estava em muito mau estado e o resultado está à vista. Lá diz o ditado popular que “pior que um cego é aquele que não quer ver.” A própria articulista reconhece no seu artigo que António Lamas é “um homem com um passado de inegável mérito na gestão patrimonial e cultural”.
Quando ministra da Cultura, a Dr.ª Canavilhas teve que gerir várias áreas do seu sector, algumas das quais pouco conhecia, nomeadamente a gestão do património cultural, pelo que nomeou o actual Presidente do CCB Secretário de Estado da Cultura, a fim de gerir a referida área. Elísio Summavielle foi sempre um “homem do património” como o próprio afirma. Então, por que razão foi nomeado Presidente do CCB, um homem do património, tal como António Lamas que “nada percebe de programação das artes performativas, de espectáculo”? Se António Lamas reconhece que não percebe desta área, nomeia, para a sua equipe, um especialista da mesma, tal como fez quando era gestor da Parques de Sintra, Monte da Lua, e também como fez a Dr.ª Canavilhas quando era Ministra da Cultura. Ou seja, este argumento não colhe, não tem pés para andar, a não ser que a Dr.ª Canavilhas considere ter o perfil adequado para Presidente do CCB.
A meu ver, a questão é outra: António Lamas passou a ser um empecilho para o projecto de requalificação do eixo Ajuda-Belém, reconhecido pelas entidades envolvidas como necessário, pela simples razão que nunca se deixaria subalternizar numa parceria entre o M.C. e a Câmara de Lisboa. Ou seja, Lamas está a mais.
Quanto à comparação que a articulista faz entre o Plano de Ajuda-Belém do ex-presidente do CCB e a exposição do Mundo Português dos anos 40, que designa por “revivalismo à António Ferro”, é bom que saiba que essa exposição extraordinária, comemorativa dos 800 anos da independência de Portugal, muito contribuiu para a requalificação e a dignificação da zona monumental de Belém.
De referir ainda que foi António Lamas, quando Presidente do Instituto do Património (IPPC), que criou, em finais dos anos 80, a zona monumental Ajuda-Belém, estabelecendo regulamentos de protecção em relação ao património edificado situado na zona, bem como condicionantes em relação a projectos de construção, alteração ou demolição.
Gestor do Património Cultural, aposentado