Joana, a benzoca, ou talvez não
Francamente, não podia estar mais de acordo com a resposta de Joana Vasconcelos e mais em desacordo com o modo como a pergunta tem sido feita, escola atrás de escola, figura pública atrás de figura pública: "E se fosse eu?"
Francamente, agora a benzoca da Joana Vasconcelos levava as jóias e o iPad na mochila! Então e a guerra, Joana? Então e roupa, dinheiro para a viagem, um daqueles telefones Nokia que só precisa de ser carregado uma vez por mês, que não servem para nos entretermos mas para fazer, e receber, chamadas, comida para a viagem, a pasta e escova de dentes, uma toalha, um sabonete e pouco mais, que as bombas vêm já aí e dentro de cinco minutos mais nada restará para além das memórias do lugar onde um dia tiveste a tua casa, a tua vida e a família?
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Francamente, agora a benzoca da Joana Vasconcelos levava as jóias e o iPad na mochila! Então e a guerra, Joana? Então e roupa, dinheiro para a viagem, um daqueles telefones Nokia que só precisa de ser carregado uma vez por mês, que não servem para nos entretermos mas para fazer, e receber, chamadas, comida para a viagem, a pasta e escova de dentes, uma toalha, um sabonete e pouco mais, que as bombas vêm já aí e dentro de cinco minutos mais nada restará para além das memórias do lugar onde um dia tiveste a tua casa, a tua vida e a família?
Mas não. Francamente, não podia estar mais de acordo com a resposta de Joana Vasconcelos e mais em desacordo com o modo como a pergunta tem sido feita, escola atrás de escola, figura pública atrás de figura pública: "E se fosse eu?". Como assim, e se fosse eu? E se eu fosse um refugiado? E se tu, se todos nós fôssemos refugiados, o que levávamos na mochila? Nada! Porque carga de água temos agora de nos pôr na pele dos refugiados, porque é que temos sempre de fazer de conta sermos nós as vítimas ao invés de pensarmos porque são refugiados os refugiados e o que os levou à presente situação? Porque é que olham para o cidadão comum como se tolhido de movimentos, vida ou capacidade de afirmação, movido a fios e corda, ao melhor estilo de um teatro de marionetas?
Porque não nos perguntam antes o que faria cada um de nós para solucionar o problema dos refugiados, em vez de estarmos para aqui todos a brincar ao faz de conta que somos todos uns coitadinhos e agora temos de fugir a sete pés porque uns senhores todos de preto, com o Darth Vader e tudo, vêm para nos matar? Porque não colocam estas plataformas e ONG o poder das palavras e da decisão na boca das pessoas, assim recolhendo ideias e testemunhos para pôr em prática em favor de quem, realmente, foge a uma guerra e a uma morte mais que certas, guerra essa da total responsabilidade das potências ocidentais e dentro das quais nos integramos?
Por isso, boa Joana, para uma pergunta estúpida, uma resposta inteligente. Porque, Joana, respondeste como aquilo que és: uma artista, transversal, criativa e dependente de lãs e agulhas, computadores, cadernos e desenhos, "phones" para ouvir música e jóias para inspirar. Objectos esses sem os quais a Joana deixará de ser aquilo que sempre foi, uma das melhores artistas plásticas dos tempos modernos, portuguesa de nome e representante desta lusitanidade, com ou sem guerra e doa a quem doer.