Regime sírio anuncia ofensiva para reconquistar Alepo com a ajuda da Rússia
Operação pode fazer ruir as negociações de paz, que devem recomeçar esta semana. Já não se sentem os efeitos da trégua nos arredores da maior cidade do país.
O regime sírio assegura que está a preparar com a Rússia uma grande ofensiva para reconquistar Alepo à coligação de rebeldes e jihadistas que a controla, apesar da frágil trégua em vigor desde o final de Fevereiro e das negociações de paz que devem ser retomadas esta semana. Assim disse este domingo o primeiro-ministro sírio, Wael al-Halaki, ao receber uma delegação de deputados russos em Damasco.
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O regime sírio assegura que está a preparar com a Rússia uma grande ofensiva para reconquistar Alepo à coligação de rebeldes e jihadistas que a controla, apesar da frágil trégua em vigor desde o final de Fevereiro e das negociações de paz que devem ser retomadas esta semana. Assim disse este domingo o primeiro-ministro sírio, Wael al-Halaki, ao receber uma delegação de deputados russos em Damasco.
“Nós, juntamente com os nossos parceiros russos, estamos a preparar uma operação para libertar Alepo e afastar todos os grupos armados ilegais que não obedeceram ou violaram o acordo de cessação de hostilidades”, disse, citado pela agência russa TASS. Dmitry Sablin, deputado russo de visita à síria, assegurou o apoio de Moscovo em declarações à agência RIA: “A aviação russa vai auxiliar a ofensiva terrestre do Exército sírio.”
A notícia de que o Exército sírio — e milícias aliadas — podem em breve avançar para Alepo coincide com o regresso de grandes confrontos no Sul da cidade, que se prolongam há cerca de dez dias e são até agora a excepção mais violenta a mais de um mês de cessação de hostilidades. Desde a última semana, as forças leais ao regime têm-se enfrentado com uma aliança de grupos rebeldes islamistas e o braço sírio da Al-Qaeda — a Frente al-Nusra — ao longo de uma frente com cerca de 20 quilómetros. Alguns destes grupos armados tinham até agora obedecido à trégua negociada entre a Rússia e Estados Unidos.
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— Agathocle deSyracuse (@deSyracuse) April 2, 2016
Várias aldeias trocaram de mãos nos últimos dias, os bombardeamentos aéreos russos e sírios retomaram o ritmo do período que antecedeu a cessação de hostilidades e o mesmo acontece com o número de vítimas provocado por confrontos. De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, organização oposicionista sediada em Londres, morreram 35 combatentes em ambos os lados só entre sábado e domingo. “Em Alepo há um colapso total da trégua”, alerta à Reuters o director da organização, Rami Abdulrahman.
Regime e oposição no exílio devem retomar as negociações de paz em Genebra esta semana. Não é certo em que dias acontecerão — o Alto Comité de Negociações, organização-chapéu que junta grupos de oposição apoiados pela Arábia Saudita, prometeu estar na Suíça na quarta-feira, mas o regime diz que só fará a viagem na quinta, um dia depois das eleições legislativas sírias em territórios que controla. Antes disso, porém, o enviado especial das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Mistura, deve aterrar este domingo em Damasco e mais tarde em Teerão para encontros com o regime e aquele que é o seu maior aliado regional, o Irão.
De Mistura quererá abordar o tema-chave desta segunda ronda de negociações: a preservação do Presidente sírio Bashar al-Assad no poder durante um processo de transição. De acordo com vários diplomatas ouvidos pelo Guardian, essa é a linha vermelha que impede que oposição e regime se encontrem na mesma sala. E De Mistura quer avanços concretos para esta semana: “Estivemos a conversar sobre princípios gerais, mas a próxima ronda tem de ser bastante concreta em termos de se chegar ao princípio real de uma transição política.”
Alepo, por outro lado, a maior cidade síria e seu antigo centro económico, é um objectivo central para as ambições do regime e rebeldes — moderados ou não moderados. O mais provável é que uma grande ofensiva provoque não só um abalo à cessação de hostilidades mas também o ruir das negociações, como aconteceu em Janeiro, quando a oposição se recusou negociar enquanto não parassem os intensos bombardeamentos russos contra a cidade.