Pensar, esse terrível crime
É pelo “defeito” de pensar que os 17 activistas penam em Angola. Se o regime ao menos pensasse, já os teria libertado.
O caso dos activistas angolanos entrou num campo minado. Os relatos dos próprios e das famílias são exasperantes, desde logo pelas péssimas condições a que estão sujeitos nas cadeias por onde foram divididos – condições essas que partilham, na sua má sorte, com muitos outros prisioneiros e que arriscam arruinar-lhes a saúde muito antes de cumprirem as penas a que foram condenados. A sentença, que o advogado Francisco Teixeira da Mota classificou no PÚBLICO como “juridicamente repugnante” mas “politicamente eficaz”, pretendeu resolver pela via judicial um caso claramente político. A acusação de “associação de malfeitores”, expediente encontrado para lhes agravar as penas, é risível. Ao rever, uma e outra vez, a história de vida dos jovens condenados, não é possível ver neles um grupo coeso que almejaria destituir o Presidente e mudar o regime. Mais facilmente os identificaremos com uma franja intelectual da juventude que vai crescendo em Angola sem perspectivas de futuro e que não se revê no regime actual porque ele pouco ou nada lhe diz. Não se trata de temer um levantamento armado a partir das “leituras” ou apelos de tal grupo, até porque nunca o MPLA ou o seu governo temeram adversários armados. Enfrentaram-nos com armas e derrotaram-nos. O que é mais temível, para a oligarquia que governa Angola, são as armas do pensamento. No passado, esse “crime”, o de pensar de forma diferente e agir em consequência, chegou a ser punido com fuzilamentos. E se hoje a situação se amenizou, a forma como o regime angolano trata este caso mostra a sua absoluta inépcia: ele próprio colocou palha aos seus pés e lançou fogo, sem precisar de mais combustíveis. Num momento em que Angola enfrenta uma crise económica e social grave, a defesa do país passaria por uma reviravolta no comportamento da oligarquia, centrando-se no que importa e não na repressão primária aos opositores ou descontentes, porque Angola precisa deles para segurar o seu futuro e, em particular, a sua independência (a do país, não a dos que enchem os bolsos em seu nome desprezando a sorte dos seus concidadãos). Mas para agir dessa forma, o regime precisaria de mudar. De amnistiar os presos políticos, de ser recto e claro perante o seu povo, de agir com verdadeiro patriotismo. Não é isso que acontece hoje. Brecht escreveu, um dia: “O homem, meu general, é muito útil: sabe voar, e sabe matar. Mas tem um defeito – sabe pensar.” É por este “defeito” que os 17 activistas penam em Angola. Se o regime ao menos pensasse, já os teria libertado.
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O caso dos activistas angolanos entrou num campo minado. Os relatos dos próprios e das famílias são exasperantes, desde logo pelas péssimas condições a que estão sujeitos nas cadeias por onde foram divididos – condições essas que partilham, na sua má sorte, com muitos outros prisioneiros e que arriscam arruinar-lhes a saúde muito antes de cumprirem as penas a que foram condenados. A sentença, que o advogado Francisco Teixeira da Mota classificou no PÚBLICO como “juridicamente repugnante” mas “politicamente eficaz”, pretendeu resolver pela via judicial um caso claramente político. A acusação de “associação de malfeitores”, expediente encontrado para lhes agravar as penas, é risível. Ao rever, uma e outra vez, a história de vida dos jovens condenados, não é possível ver neles um grupo coeso que almejaria destituir o Presidente e mudar o regime. Mais facilmente os identificaremos com uma franja intelectual da juventude que vai crescendo em Angola sem perspectivas de futuro e que não se revê no regime actual porque ele pouco ou nada lhe diz. Não se trata de temer um levantamento armado a partir das “leituras” ou apelos de tal grupo, até porque nunca o MPLA ou o seu governo temeram adversários armados. Enfrentaram-nos com armas e derrotaram-nos. O que é mais temível, para a oligarquia que governa Angola, são as armas do pensamento. No passado, esse “crime”, o de pensar de forma diferente e agir em consequência, chegou a ser punido com fuzilamentos. E se hoje a situação se amenizou, a forma como o regime angolano trata este caso mostra a sua absoluta inépcia: ele próprio colocou palha aos seus pés e lançou fogo, sem precisar de mais combustíveis. Num momento em que Angola enfrenta uma crise económica e social grave, a defesa do país passaria por uma reviravolta no comportamento da oligarquia, centrando-se no que importa e não na repressão primária aos opositores ou descontentes, porque Angola precisa deles para segurar o seu futuro e, em particular, a sua independência (a do país, não a dos que enchem os bolsos em seu nome desprezando a sorte dos seus concidadãos). Mas para agir dessa forma, o regime precisaria de mudar. De amnistiar os presos políticos, de ser recto e claro perante o seu povo, de agir com verdadeiro patriotismo. Não é isso que acontece hoje. Brecht escreveu, um dia: “O homem, meu general, é muito útil: sabe voar, e sabe matar. Mas tem um defeito – sabe pensar.” É por este “defeito” que os 17 activistas penam em Angola. Se o regime ao menos pensasse, já os teria libertado.