Porto: a Ordem dos Arquitectos tem uma nova casa — finalmente
Ao fim de muitas reviravoltas, a nova sede da OASRN e do projecto Norte 41.º, no Porto, é inaugurada a 9 de Abril. É um projecto em três frentes — reabilitação, restauro e construção — com uma vertente de eficiência energética, assinado pelo atelier NPS Arquitectos
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Um “percurso” que agrada aos NPS Arquitectos, gabinete que venceu o concurso público lançado em 2004. “Interessa-nos essa sequência. Evidenciar os dois edifícios já existentes, são eles os protagonistas, que dão a frente à rua, mas é o edifício que está nas costas que encaixa nos existentes e gere as funções no seu interior”, diz ao PÙBLICO Rui Neto, arquitecto que fundou o gabinete com Odete Pereira e Sérgio Silva. Conjuga-se então uma linguagem de “grande simplicidade” com uma de “uma certa ostentação”, a das casas. “São linguagens que, de certa forma, parecem colidir (…), mas de facto o nosso objectivo era que quando transitássemos entre os três corpos houvesse uma unidade.”
Um projecto em três frentes mais uma
Três corpos, três edifícios que reflectem as várias frentes do projecto (ver a galeria). Uma das vivendas, à direita de quem entra, foi restaurada, acolhendo agora os serviços administrativos da Ordem, aqueles que transitaram da morada anterior, na Rua D. Hugo. A outra, que estava em maior estado de degradação, foi alvo de uma reabilitação mais profunda. Assume um carácter semi-público e acolhe todo o tipo de serviços dirigidos aos membros, incluindo, por exemplo, espaços de formação, biblioteca e a sumptuosa Sala do Arquitecto, que, ao contrário do plano inicial, acabou por ser restaurada, destinando-se exclusivamente aos membros, que a podem requisitar para reuniões de trabalho.
Por todo o lado, há muito do passado para apreciar: tectos de estuque cheios de pormenores, pavimentos de mosaico hidráulico, soletos verdes nos telhados das “bow windows” (“infelizmente” não os originais, lamenta o arquitecto). Com excepção dos dispositivos obrigatórios de segurança contra incêndio, não há pontos de luz nas paredes e nos tectos, recorrendo-se antes à luminosidade natural e a candeeiros. Todas as estruturas de electricidade e de ar condicionado passam pelos soalhos, o que “não foi um exercício fácil”, confessa Rui, que, porém, não encarava outro caminho: “Os edifícios estão cheios de marmoreados, de fingidos nas paredes, de estuques e nós queríamos que o processo fosse o menos intrusivo possível sobre esses elementos”.
Por fim, o novo edifício é a "sala de estar", aquele que tem a componente mais social, onde se localizam todas as estruturas dirigidas aos arquitectos e à comunidade em geral: recepção, sala de exposições, cafetaria e livraria (haverá um concurso público para adjudicação dos espaços), espaço de “coworking” (prioritário aos membros) e um pequeno auditório para 60 pessoas. É uma construção “simples”, de grande “depuração”, o que, na opinião do arquitecto, também contribui para que a transição entre ele e as casas centenárias seja “delicada” e não “abrupta”. Nele, “o actor principal é a luz” natural, que “vai invadindo cada um dos espaços de forma mais ou menos criteriosa em cada ponto”. Muitos dos móveis de linhas modernas que habitam os edifícios são assinados pelos próprios NPS que não têm preconceitos em fazer as vezes de designers (“também é desenho, é outro tipo de escala e minúcia.”)
Presentes em tudo estão as vertentes da eficiência energética e sustentabilidade, premissas da candidatura ao Quadro de Referência Estratégico Nacional, feita em 2010, que se traduziu no Norte 41º, e que levou a várias adaptações do projecto de arquitectura original. “Um dos objectivos era que a nova sede servisse de projecto demonstrador das três frentes [restauro, reabilitação e construção] com a agregação daquilo que é a eficiência energética em espaços reabilitados e sustentabilidade. Basicamente, que seja um palco demonstrador de boas práticas, não só para os profissionais mas também para a comunidade em geral”, sublinha Cláudia Costa.
1500 metros quadrados de aproximação
Uma nova casa que a OASRN espera que resulte numa “maior aproximação aos membros”, uma das grandes bandeiras da actual direcção, mas também à comunidade local. Por exemplo, através da promoção do turismo de arquitectura, em “expansão” na cidade do Porto. “Há cada vez mais pessoas que ocupam o seu tempo livre para visitar e usufruir de espaços criados pelos arquitectos portugueses e a Ordem pode desenvolvê-lo”, diz a arquitecta, referindo os mapas das obras de Fernando Távora, de Arménio Losa e o futuro guia de arquitectura da zona Norte.
Agora há mais de 1500 metros quadrados de espaço, resultantes de um processo que sofreu múltiplas reviravoltas ao longo dos anos, como dava conta em 2013 o “Jornal dos Arquitectos”, num contexto que também sofreu com a crise que se instalou em Portugal. O custo total rondou os dois milhões de euros, sendo que 1.647 milhões de euros representam o financiamento em 85% de fundos comunitários, o apoio da Câmara Municipal do Porto em 7,6% e a comparticipação do conselho directivo nacional e da própria OASRN (com cerca de 86 mil euros). Foram também angariados vários parceiros fundadores.
A nova direcção, que assumiu funções em Janeiro de 2014, nem sequer estava à espera deste desfecho, tendo em conta o cenário que lhes tinha sido apresentado. “A nossa proposta era reabilitar aos poucos”, conta a arquitecta, recorrendo para isso ao “’saber fazer’ dos membros”. Reconstruir com as próprias mãos e ir utilizando os edifícios conforme fosse possível. Mas “por pressão da CCDR-N” no que toca ao acesso dos fundos comunitários tiveram de tomar uma decisão que culminou no arranque das obras em Julho de 2014, graças a várias circunstâncias, como o apoio da CMP (que permitiu o aumento da comparticipação de 70% para 85%) e o alargamento da rede de parceiros.
“Tenho a sensação de ter lido um livro longo”, diz Rui, contemplando a obra, em que o gabinete pensa desde 2004. “Eu vi o projecto a acabar (…) e de repente volta a ressuscitar. É muito denso e são muitos intervenientes. Passamos por cinco direcções da Ordem, imensos engenheiros, mas nós somos sempre os mesmos.” "Acho", continua, "que ainda preciso de um bocadinho de afastamento".
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