A agricultura é "como ter um filho"
Morangos, mirtilos, framboesas, kiwis e limões. Todos eram opções. A forte ligação aos espaços verdes e o desemprego na área da Arquitectura levaram Teresa a começar um projecto agrícola e a dedicar-se a tempo inteiro à sua primeira plantação. Ganharam as groselhas. O P3 foi ao Marco de Canavezes conhecer o quotidiano desta agricultora
Quando terminou o curso e o mestrado em arquitectura paisagista o cenário já era assustador. A Troika tinha acabado de aterrar em Portugal e "estava tudo a apertar o cinto, não havia trabalho para ninguém". Teresa Matos ainda desafiou as probabilidades, com um estágio profissional na EDP em recuperação e integração da paisagem e um posterior contrato a termo, mas ao fim de um ano e meio, aquilo que previa aconteceu: a jovem portuense, 27 anos, ficou desempregada. O plano b tinha-o, no entanto, delineado ainda durante o contrato precário — Teresa reciclou a ligação à terra e às plantas da arquitectura paisagista e decidiu investir na quinta da família, no Marco de Canavezes.
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Quando terminou o curso e o mestrado em arquitectura paisagista o cenário já era assustador. A Troika tinha acabado de aterrar em Portugal e "estava tudo a apertar o cinto, não havia trabalho para ninguém". Teresa Matos ainda desafiou as probabilidades, com um estágio profissional na EDP em recuperação e integração da paisagem e um posterior contrato a termo, mas ao fim de um ano e meio, aquilo que previa aconteceu: a jovem portuense, 27 anos, ficou desempregada. O plano b tinha-o, no entanto, delineado ainda durante o contrato precário — Teresa reciclou a ligação à terra e às plantas da arquitectura paisagista e decidiu investir na quinta da família, no Marco de Canavezes.
Com a ajuda da família e do PRODER, programa que gere os fundos da Política Agrícola Comum, Teresa investiu 136 mil euros, e começou o seu primeiro negócio e sua primeira aventura no mundo da agricultura. Segundo um estudo da Comissão Europeia feito, em 2015, pela sua Direcção Geral de Agricultura, um em cada quatro agricultores portugueses que se candidatam ao PRODER são jovens e têm um média de idades que ronda os 34 anos. E 72,1% têm no seu currículo o ensino superior.
Teresa começou por estudar bastantes culturas: limões, kiwis, amoras, mirtilos. Visitou várias explorações, falou com muita gente e elaborou planos de negócio. Foi neste contexto que surgiu a groselha, um fruto cujo preço por quilo era bastante apelativo e que parecia a cultura ideal: com poucos produtores e um mercado pouco saturado.
O primeiro ano foi "um parto difícil", pela pressão de começar um projecto próprio e pela incerteza que a agricultura representa. É um problema que todos os jovens agricultores sentem, acredita Teresa, não só por se ter de lidar com fornecedores e empreiteiros mas também por ter de executar todas as tarefas com o "timing" específico que a agricultura requer.
Nos primeiros tempos, fazia-lhe confusão não ter a certeza se iria conseguir plantar nos dias que tinha estipulado, ou por estar a chover, ou por não ter rega em dias de calor devido a falhas de fornecedores, ou por no Inverno fazer poucas horas de frio (essencial para estimular a floração da groselha). Tudo factores que não consegue controlar e que podem por em causa todo o trabalho.
Neste segundo ano de produção, Teresa espera vender duas toneladas de groselhas. Depois da colheita, feita entre Maio e Junho, a agricultora entrega tudo à associação BFruit, uma empresa formada em 2013 que ajuda produtores de pequenos frutos durante as fases de produção e comercialização, e que exporta para a Holanda, Bélgica, Alemanha, França e Brasil. "Compensa-me pertencer à BFruit: tenho consultoria, vem cá um engenheiro todos os meses dizer o que tenho de fazer, que fertilizantes e fitofármacos tenho de usar, dão-nos formação de poda e de colheita. Desta forma não me sinto sozinha. A BFruit trata de contractos com clientes e do transporte da fruta até ao seu comprador final."
Uma "extraterrestre no mundo da agricultura"
Teresa teve de adaptar a sua vida ao novo projecto e assim passou de uma vida cosmopolita para a vida pacata do campo: passa os fins-de-semana no Porto e a semana no Marco de Canaveses. Por lá, a jovem arquitecta conta com a ajuda de pessoas que vivem na zona — e isso vai de encontro a um dos objectivos dela: poder criar trabalho numa região do país onde há muito desemprego e emigração.
Actualmente a concluir um mestrado em engenharia agrónoma, Teresa já pensa em evoluir para agricultora biológica. O objectivo dela é mudar o paradigma da agricultura intensiva e industrial: "Acho que na agricultora tem de haver produtividade e rentabilidade mas, como arquitecta paisagista, a agricultura não deve descaracterizar a paisagem." Desta forma, Teresa tenta ter um campo com o máximo de biodiversidade possível, planta prados floridos, sebes, e plantas aromáticas para aumentar o interesse paisagista da sua exploração, tentado equilibrar-se entre a agricultura tradicional e a intensiva.
"Ainda sou um bocado extraterrestre no mundo da agricultura, porque vejo as coisas de uma forma romantizada, quero plantar coisas bonitas à volta, mesmo que não produza tanto quanto a agricultura intensiva. Flores não são só para o jardim, também podem existir na agricultura."
No futuro, gostava de variar e produzir avelãs, amoras e até fazer geleia e chá de sabugueiros. Mas o seu grande sonho é aliar a arquitectura paisagista à agricultura e fazer um viveiro de plantas autóctones. Uma missão difícil, admite. Alguma vez pensou desistir? "Não, é como ter um filho, depois de o teres não podes desistir dele."