Depois de um péssimo 2015, vendas para Angola arrancaram mal o ano

Foto
A economia angolana está a ressentir-se da quebra no preço do petróleo Manuel Roberto

O primeiro mês do ano mostrou uma quebra de 45% nas vendas de bens de empresas portuguesas para Angola face a idêntico mês de 2015 (encolhendo para 97,5 milhões de euros). O travão é ainda mais notório quando se tem em conta o facto de, em Janeiro de 2015, já se ter registado uma queda homóloga de 26%. O mês de Janeiro de 2014 (o preço do petróleo começou a cair no início do primeiro semestre), com verbas de 240 milhões de euros, parece hoje uma realidade bem mais distante.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O primeiro mês do ano mostrou uma quebra de 45% nas vendas de bens de empresas portuguesas para Angola face a idêntico mês de 2015 (encolhendo para 97,5 milhões de euros). O travão é ainda mais notório quando se tem em conta o facto de, em Janeiro de 2015, já se ter registado uma queda homóloga de 26%. O mês de Janeiro de 2014 (o preço do petróleo começou a cair no início do primeiro semestre), com verbas de 240 milhões de euros, parece hoje uma realidade bem mais distante.

Ainda não são conhecidos os dados de Fevereiro, mas tudo indica que as vendas para Angola mantenham o declínio, que ficou evidente ao longo em 2015. Nesse ano, o forte recuo das vendas de bens para Angola fez com que este mercado passasse de quarto maior cliente de Portugal para a sexta posição , ultrapassado pelo Reino Unido e EUA. De acordo com os dados do INE, as vendas para Angola encolheram 1074 milhões de euros (-33,8%) entre 2014 e 2015, fruto da crise que atravessa este país africano (devido ao baixo preço do petróleo, do qual é dependente em termos de receitas). Ao todo, as vendas ficaram-se pelos 2102 milhões de euros em termos anuais (o montante mais baixo dos últimos cinco anos).

Conforme já noticiou o PÚBLICO, em valor, o sector mais afectado foi o das máquinas e aparelhos que, só por si, vendeu menos 303 milhões de euros, cerca de 28% do recuo total. Depois, segue-se o sector dos produtos alimentares, com menos 190 milhões de euros. A forte quebra do investimento e do consumo, com restrições às importações, fizeram com que estes dois sectores fossem os mais afectados. A forte queda também se explica pelo facto de serem os que mais exportam para Angola.

Os dados do INE permitem perceber que os últimos meses do ano foram também os que sofreram as maiores perdas, já que a época natalícia, normalmente acompanhada de maior consumo e importações, esbarrou de frente com a crise e falta de divisas. Em Dezembro, por exemplo, o recuo foi de 45% em termos homólogos, cabendo a maior diferença ao mês de Outubro (-50%).

Já sua última análise a Portugal, o FMI constatava que a baixa do preço do petróleo fazia baixar a factura energética do país, mas afectava as empresas que vendem para este mercado ou que nele trabalham.

Segundo os dados mais recentes do INE, entre Janeiro a Setembro do ano passado, havia 3605 empresas portuguesas cujo único mercado externo era Angola, o que representa quase menos 1000 face a idêntico período do ano anterior. O impacto negativo da crise angolana surgiu pela descida das encomendas, de atrasos nos pagamentos ou de dificuldades em repatriar capitais, mesmo após as facturas terem sido pagas. O destino dessas quase 1000 empresas (que deverão compostas essencialmente por micro empresas, e algumas PME) é uma incógnita, ficando-se sem saber se passaram a depender apenas do mercado interno, fecharam portas ou apostaram em novos mercados é uma incógnita.

Para responder às necessidades de tesouraria causadas pela crise angolana, o anterior Governo lançou uma linha especial de financiamento, mas esta tem tido uma adesão residual. De acordo com os dados enviados ao PÚBLICO pelo ministério da Economia, já tutelado por Manuel Caldeira Cabral, a 15 de Dezembro havia “nove operações efectivamente enquadradas” nesta linha de financiamento, com o valor global a chegar aos 4,5 milhões de euros.