Todos prá piscina
Ralph Fiennes em grande forma não é suficiente para tornar relevante o regresso do autor de Eu Sou o Amor
Depois da repercussão global da obra-prima Eu Sou o Amor (2009), o italiano Luca Guadagnino atira-se a uma remake de A Piscina, o filme de 1968 de Jacques Deray com Romy Schneider e Alain Delon que ficou em Portugal conhecido pela promessa de liberdade da primavera marcelista. Pelo resultado, não se percebe exactamente o que o terá atraído nessa história de amor e ciúme em ambiente de férias: mantendo-se razoavelmente fiel à trama original (as férias de um casal interrompidas pela chegada inesperada do ex-marido dela), transferida da Côte d’Azur para a ilha de Pantelleria e da literatura para a música rock, Guadagnino não consegue que as suas actualizações tragam qualquer tipo de mais-valia ao jogo de massacre conjugal que encena. A crise dos refugiados ao largo das costas italianas é evocada aqui e ali (de modo bastante desastrado) pelo meio do que é uma história sobre (como diria Oliveira) a “alma dos ricos” - Eu Sou o Amor já era isso de algum modo, é verdade, mas o desejo romântico e operático de transcendência desse filme é aqui substituído por uma queda assumida no novo-riquismo.
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Depois da repercussão global da obra-prima Eu Sou o Amor (2009), o italiano Luca Guadagnino atira-se a uma remake de A Piscina, o filme de 1968 de Jacques Deray com Romy Schneider e Alain Delon que ficou em Portugal conhecido pela promessa de liberdade da primavera marcelista. Pelo resultado, não se percebe exactamente o que o terá atraído nessa história de amor e ciúme em ambiente de férias: mantendo-se razoavelmente fiel à trama original (as férias de um casal interrompidas pela chegada inesperada do ex-marido dela), transferida da Côte d’Azur para a ilha de Pantelleria e da literatura para a música rock, Guadagnino não consegue que as suas actualizações tragam qualquer tipo de mais-valia ao jogo de massacre conjugal que encena. A crise dos refugiados ao largo das costas italianas é evocada aqui e ali (de modo bastante desastrado) pelo meio do que é uma história sobre (como diria Oliveira) a “alma dos ricos” - Eu Sou o Amor já era isso de algum modo, é verdade, mas o desejo romântico e operático de transcendência desse filme é aqui substituído por uma queda assumida no novo-riquismo.
Não nos surpreenderia que fosse precisamente isso a atrair o cineasta italiano e a sua colaboradora de sempre Tilda Swinton: fazer um filme absolutamente nos antípodas do seu predecessor, sujo e telúrico onde aquele era luxuoso e aspiracional. Mas, para uma história que anda todo ele à volta do desejo e da tentação carnal entre Marianne, a estrela rock, Paul, o fotógrafo e seu actual marido, Harry, o ex-marido produtor, e Penelope, autêntica Lolita a tiracolo de Harry, falta carne e suor a Mergulho Profundo – ou, pelo menos, falta até Ralph Fiennes aparecer no écrã como Harry, numa interpretação electrizante, em roda quase livre, que injecta a energia e a vida que procuramos no resto do filme sem êxito e arrasta Swinton na sua esteira. Se Eu Sou o Amor era Sirk e Visconti, Mergulho Profundo quer ser um encontro entre o Antonioni pré- e pós-Londres, entre o Deserto Vermelho da Itália moderna e o Deserto de Almas da contra-cultura, mas Luca Guadagnino perde-se pelo caminho e vai só direito ao deserto.