Estes pais fazem dos filhos uma banda desenhada

São pais, ou futuros pais, que se inspiram nas suas vivências para mostrar o que é isto de ter filhos. Tudo em tiras de banda desenhada, sempre com humor. Começam online, mas muitas acabam por sair em livro. O P3 escolheu cinco histórias que engrossam esta tendência

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280: Odisseia no Útero

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280: Odisseia no Útero

Grávida pela primeira vez, Vanessa Namora Caeiro decidiu detalhar esta aventura num diário gráfico online: o "280: Odisseia no Útero". Em Outubro de 2014, quando o P3 falou com a autora, dizíamos que espiar o dia-a-dia do pai Pato, da mãe Baleia Zigota e do gato Saguim era aceder a um manual de instruções de um mundo muito familiar para uns, mas bem desconhecido para outros: a maternidade. O tempo passou, a Beatriz, ou "Lontrinha Paxulé", nasceu e cresceu e a mãe "motion designer" cumpriu o que prometeu: continuou a ilustrar os primeiros passos da filha, "fora do útero". Há uns meses, saiu o pequeno livro "Já passou um ano! Já?!!", uma edição de autor de 36 páginas onde Vanessa enumera as 14 coisas que mudou "instantaneamente" logo após ser mãe. Só fica a faltar o filme, como admitia na entrevista: "(...) Este diário serve de argumento para um filme de animação que pretendo fazer. Ainda não sei bem como, nem quando o vou fazer; talvez só tenha tempo quando for muito velhinha e já com o vizinho Alzheimer, mas recorrerei ao diário para me lembrar do que estou a fazer."

Cenas e Coisas de um Pai

Quando se fala de gravidez, a maior parte dos testemunhos é de mães. "Então e os pais? E se eu relatar o que vejo e sinto com rabiscos?", pensou Hugo Cavaco. Nascia então, em inícios de 2014, a página Cenas e Coisas de um Pai, onde todos os desenhos tinham que "ter piada, mesmo sendo um assunto mais sério", contava o designer de comunicação ao P3. Entretanto, a Margarida nasceu, já brinca com o chuveiro e vai à natação, e, a caminho, está um novo bebé, um rapaz. Há sempre muito para ver na página e ainda mais: em Fevereiro, saiu o livro, pela Chiado Editora.

Sara-a-dias

Em 2012, Sara-a-dias apareceu no Facebook e no Tumblr para, na companhia da cadela Maria, nos mostrar que a vida dela era igual à nossa: também aturava o maluco da rua, aventurava-se nos saldos, embrulhava-se em multas de estacionamento. Três anos depois, Sara Osório, autora da "palavra sara-a-dias", lançava em livro a sua biografia, o seu diário, a sua (tele)novela gráfica, "A Minha Mãe Acha que Fui Trocada à Nascença". Até então, nada de bebés, azias ou chupetas. Mas eis que em Novembro do ano passado foi anunciada a chegada de uma "miniatura" (com toda a pompa na capa, não da revista "Cristina", mas quase) que, por estes dias, já deve dar algumas noites sem dormir aos pais. Nos últimos tempos, no Facebook, vimos uma barriga ilustrada a crescer, assistimos a uma grávida a "falar baleiês", acreditamos no "superpoder do creme gordo" e solidarizamo-nos com a azia, a dor ciática e a retenção de águas da "sara-mãos-de-chouriça". Só resta esperar pelas cenas dos próximos capítulos.

As crianças são muito infantis

Quatro crianças e um pai fechados numa carrinha pode ser sinónimo de conversas desconcertantes em forma de BD. O pai, Fernando Caeiro, percebeu o potencial e pôs mãos à obra, com ajuda da ilustradora Filipa da Rocha Marques. Os diálogos de As crianças são muito infantis começaram por ser partilhados online em finais de 2013 e, há pouco mais de um ano, foram editados em livro, com a chancela da Bertrand. “Uma casa com um filho é um SPA; uma casa com quatro filhos é uma fábrica”, resumia o pai, em entrevista ao P3. No Facebook, as perguntas que se escutam ao volante continuam tão surpreendentes como antes — mas agora há uma nova companhia de quatro patas, a Inês.

Happy wife, happy life

Amanhã, Catarina Almeida começa a praticar desporto e a fazer dieta. Vai vestir o equipamento, fazer uma “playlist” motivadora e regressar, finalmente, ao ginásio. O problema é que o conceito de amanhã muda todos os dias e o sofá acaba por vencer. A história é de Catarina, 40 anos, mas podia ser contada por muitas outras pessoas — no caso, mulheres. Foi a pensar nestes lugares-comuns que decidiu criar a página Happy wife, happy life, que o P3 deu a conhecer esta semana. No Facebook, a engenheira industrial que se dedica também ao projecto “Princess Pea” partilha cartoons sobre a vida doméstica: “Acredito que todas as mulheres têm momentos em que gostariam de voltar a ser apenas filhas e não mães. A maternidade é maravilhosa mas há muitos momentos em que só apetece desaparecer”. Luís, com quem vive há 16 anos, os três filhos, um cão e um gato fornecem a matéria-prima para as tiras, que um dia a autora gostaria de publicar em livro.