Paulo Branco: “Comprei os direitos do projecto Dom Quixote”
O produtor português vai produzir O Homem Que Matou Dom Quixote, de Terry Gilliam. Será a concretização do projecto que o ex-Monty Python tentou fazer já por duas vezes, sem êxito.
O produtor português Paulo Branco vai produzir O Homem Que Matou Dom Quixote, que pode começar a ser filmado em Setembro, em Portugal e Espanha, retomando o projecto do realizador Terry Gilliam com mais de 15 anos.
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O produtor português Paulo Branco vai produzir O Homem Que Matou Dom Quixote, que pode começar a ser filmado em Setembro, em Portugal e Espanha, retomando o projecto do realizador Terry Gilliam com mais de 15 anos.
“Comprei os direitos do projecto. O projecto é meu”, esclareceu na sexta-feira o produtor português ao PÚBLICO, ao telefone partir de Londres, acrescentando que o primeiro encontro com o realizador norte-americano tinha sido em finais de Fevereiro e que Terry Gilliam já tinha mesmo estado em Portugal para discutir o projecto. O filme será uma co-produção entre França, Espanha e Portugal.
A produtora de Paulo Branco anunciou na quinta-feira à noite, num breve comunicado, que ia produzir o “mítico projecto de Terry Gilliam”, um filme que tem argumento deste ex-Monty e de Tony Grisoni, numa adaptação do romance e clássico da história da literatura, Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes. Os meios de informação internacionais especializados em cinema, como a Hollywood Reporter ou a Variety, revelaram que o filme terá um financiamento de 16 milhões de euros.
Trata-se do “projecto de culto” do realizador, explica o mesmo comunicado, porque é um projecto antigo cujas filmagens chegaram a começar em 2000 (com Johnny Depp e Jean Rochefort à cabeça do elenco), tendo sido interrompidas a meio, devido a problemas de vários géneros. O filme será uma produção da Alfama Films, a produtora de Paulo Branco que tem sede em França, da produtora espanhola Tornasol Films e ainda da Leopardo Filmes, a produtora portuguesa de Branco.
Os direitos do filme foram comprados ao produtor britânico Jeremy Thomas, que tem uma vasta carteira de produções de prestígio, destacando-se a sua colaboração com Bernardo Bertolucci (Os Sonhadores, Um Chá no Deserto, O Último Imperador).
Paulo Branco esclareceu que está previsto que as filmagens comecem a meio de Setembro em Espanha, nas Canárias e na zona da Mancha, perto de Madrid, e depois passem por Portugal.
Terry Gilliam foi um dos criadores do colectivo de humor Monty Python e realizou mais de uma dezena de filmes, como 12 Macacos, O Rei Pescador, A Fantástica Aventura do Barão e Brazil: o Outro Lado do Sonho, além de Monty Python e o Cálice Sagrado. Na versão de Terry Gilliam/Tony Grisoni, O Homem Que Matou Dom Quixote conta a história de um homem que viaja no tempo e, no século XVII, conhece o herói do romance de Cervantes.
A aventura de Gilliam com Dom Quixote já deu mesmo origem a um documentário, Lost in La Mancha, realizado por Keith Fulton e Louis Pepe, e estreado em Inglaterra em 2002. Nomes como o de Orson Welles (que também teve uma experiência atribulada com o seu projecto em volta do clássico de Cervantes, que nunca conseguiu acabar, e que veria a luz do dia apenas em 1992), Jeff Bridges, Miranda Richardson ou Vanessa Paradis surgiam também associados ao projecto inicial de Gilliam, que faria ainda uma segunda tentativa de realizar o filme, depois do falhanço da de 2000, desta vez com Ewan McGregor e Robert Duvall. As filmagens estiveram previstas para as Canárias.
Agora será de vez? Paulo Branco não quis avançar ao PÚBLICO a forma como o projecto será financiado. O comunicado da Leopardo Filmes de quinta-feira à noite também não acrescentava pormenores, embora a sua versão internacional deva ter sido mais detalhada pelo menos em relação ao financiamento. O comunicado português remete, aliás, para páginas de publicações especializadas, como The Hollywood Reporter e Screen International, segundo as quais a produção vai custar 18,2 milhões de dólares (os tais 16 milhões de euros).
“Não anuncio um filme sem estar praticamente garantido que os financiamentos estão assegurados ou em vias de estar assegurados muito cedo”, disse Paulo Branco ao PÚBLICO, acrescentando que os financiamentos terão várias origens mas que é demasiado cedo para os anunciar. “Quando anunciei o [David] Cronenberg não acreditaram”, referindo-se a Cosmopolis (2012), “mas quando anuncio um filme é para fazê-lo”. (Os concursos para os financiamentos do Instituto do Cinema e do Audiovisual, por exemplo, abriram em Fevereiro, sendo 450 mil euros o montante máximo que uma longa-metragem em co-produção pode receber).
O site ScreenDaily interroga-se se a Amazon vai estar envolvida no financiamento do projecto, como anunciado no Verão do ano passado. O projecto de Gilliam foi apresentado como uma das apostas do gigante da tecnologia, que se quer situar como player a ter em conta na indústria audiovisual. Paulo Branco esclareceu que “a proposta da Amazon vai ser tida em consideração”.
Na base de dados de cinema IMDb, O Homem Que Matou Dom Quixote surge já citado na filmografia de Gilliam como estando em pré-produção. E se as notícias em volta do projecto dizem que o elenco completo será só conhecido no final de Junho, o IMDb refere os nomes de John Hurt e do jovem actor, também inglês, Jack O’Conneell (Invencível, 300 – O Início de um Império) como encabeçando o elenco - naquela que terá sido outra das versões do projecto do realizador, aquela com data mais recente e que poderá ter sido inviabilizada pelo diagnóstico de cancro da pâncreas feito a Hurt no ano passado. Mas a Variety diz que Jack O’Cannel e John Hurt já não estão associados ao projecto - a escolha do casting estará a decorrer - enquanto a Hollywood Reporter não exclui Hurt do projecto, dizendo que os médicos dizem que Hurt está agora bem de saúde. Paulo Branco confirmou ao PÚBLICO a notícia da Variety. Disse que não pode falar ainda do elenco, mas serão “grandes actores”.
O produtor português lembrou que este ano se celebram 400 anos da morte de Miguel de Cervantes, a 23 de Abril, e que era importante que o projecto avançasse em 2016. Com Sérgio C. Andrade
(Notícia actualizada às 17h21 com declarações de Paulo Branco)