Detido sequestrador do avião egípcio
Um homem obrigou ao desvio de um avião da Egyptair para o Chipre. Autoridades descartaram motivações terroristas. Passageiros e tripulação em segurança.
Um avião da companhia aérea Egyptair que fazia a ligação entre a cidade costeira de Alexandria e o Cairo aterrou de emergência no aeroporto de Larnaca, em Chipre, depois de ter sido sequestrado por um cidadão egípcio, identificado como Seif Eldin Mustafa pelas autoridades egípcias e cipriotas.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Um avião da companhia aérea Egyptair que fazia a ligação entre a cidade costeira de Alexandria e o Cairo aterrou de emergência no aeroporto de Larnaca, em Chipre, depois de ter sido sequestrado por um cidadão egípcio, identificado como Seif Eldin Mustafa pelas autoridades egípcias e cipriotas.
Depois de várias horas em que manteve vários reféns, o sequestrador rendeu-se às autoridades, tendo abandonado o avião com as mãos no ar. Os passageiros e a tripulação foram libertados e saíram do avião em segurança.
O suspeito já foi revistado por unidades contraterroristas e está ainda a ser interrogado pelas autoridades. No início do sequestro, o homem ameaçou o comandante do avião, afirmando que carregava consigo um cinto de explosivos. As autoridades cipriotas confirmaram mais tarde, num comunicado, que o alegado cinto de explosivos era falso.
Mas, mesmo antes desta confirmação, a hipótese de terrorismo já tinha sido descartada por parte das autoridades cipriotas. O Presidente do Chipe, Nicos Anastasiades, desmentiu rapidamente que o incidente – pouco frequente desde as apertadas medidas de segurança a bordo adoptadas após os atentados de 11 de Setembro de 2001 – tivesse motivações terroristas. "Não é nada que tenha a ver com terrorismo", esclareceu Anastasiades numa conferência de imprensa.
Também o ministro dos Negócios Estrangeiros cipriota, Alexandros Zenon, rejeitou esta possibilidade. "Aquilo que clarificamos é que não se trata de terrorismo. Ele [o sequestrador] parece ser uma pessoa instável e o problema está a ser tratado em conformidade com a situação", afirmou Zenon, citado pela Reuters.
No voo MS181 seguiam 55 passageiros "de várias nacionalidades", números confirmados pelo ministro da Aviação Civil egípcia, Sharif Fathi. Em comunicado, o seu ministério revelou que no avião estavam 21 estrangeiros, entre eles oito norte-americanos, quatro britânicos, quatro holandeses, dois belgas, um francês, um italiano e um sírio. Os restantes passageiros eram egípcios.
As circunstâncias do sequestro e as motivações do sequestrador permanecem um mistério. O primeiro-ministro egípcio, Sherif Ismail, afirmou que o sequestrador fez alguns pedidos confusos. “A certa altura, pediu para se encontrar com representantes da União Europeia, depois pediu para ir para outro aeroporto, mas nada em específico”, afirmou Ismail, citado pela Reuters.
Os órgãos de comunicação social cipriotas avançaram, no entanto, que na origem do desvio estão motivos pessoais, adiantando que o sequestrador pretendia entrar em contacto com a ex-mulher, de nacionalidade cipriota. Contam que terá atirado uma carta para fora do avião e pedido para que esta fosse entregue à ex-mulher que, segundo o jornal The Guardian, esteve no local para ajudar nas negociações.
O Presidente cipriota, que deu uma conferência de imprensa na companhia do presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, chegou mesmo a rir da situação, ao confirmar que não se tratava de um ataque terrorista. Questionado por uma jornalista relativamente à possibilidade de a ex-mulher do sequestrador estar relacionada com o caso, Nicos Anastasiades respondeu, com boa disposição, que “tudo tem sempre a ver com uma mulher”.
O sequestrador contactou a torre de controlo do aeroporto de Chipre às 8h30 (6h30 em Portugal continental) e o avião teve autorização para aterrar depois de ter estado cerca de 30 minutos sequestrado em pleno voo. O Airbus A-320 aterrou numa zona especial isolada e os outros voos agendados foram desviados para outros aeroportos. O aeroporto de Lancara foi encerrado até ao final do dia.
Apesar da sua proximidade com o Médio Oriente, o Chipre tem registado pouca actividade militante. Contudo, o aeroporto de Larnaca é conhecido por já ter registado vários incidentes. Em 1988, um Boeing 747 da Kuwait Airways que transportava 111 pessoas e fazia a ligação entre Banguecoque e o Kuwait foi sequestrado por sete pessoas que reclamavam a libertação de 17 extremistas xiitas pró-iranianos, detidos no Kuwait. O avião deslocou-se de emergência para Larnaca, onde dois passageiros kuwaitianos foram mortos. Já em 1996, um Airbus A-310 da Sudan Airways, que fazia a ligação entre Cartum e Amã e que tinha 199 pessoas a bordo, foi desviado para o mesmo aeroporto, antes de ir para Stantsed, a 50 quilómetros de Londres. Sete iraquianos, que se renderam posteriormente sem recurso a violência, sequestraram o avião para pedirem asilo político no Reino Unido.
O incidente desta terça-feira trouxe para o centro do debate a questão da segurança nos aeroportos egípcios, cinco meses depois da queda do Airbus A-321, que fazia a ligação entre Sharm el-Sheik e São Petersburgo. O avião despenhou-se na península do Sinai, com 224 pessoas a bordo. Todos os passageiros morreram no desastre, que as autoridades russas classificam como ataque terrorista, reivindicado pelo grupo jihadista Península do Sinai, braço armado do autodesignado Estado Islâmico no Egipto.