Antes de disparar, soldado israelita disse que atacante palestiano "deveria morrer"

Vídeo divulgado por organização de defesa dos direitos humanos mostra militar a disparar contra atacante que estava ferido e imobilizado no chão.

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Palestiniano foi morto depois de ter ferido um soldado israelita em Hebron Hazem Bader/AFP

Um vídeo divulgado pela organização de defesa de direitos humanos B’Tselem em que se vê um soldado israelita a disparar contra um palestiniano, ferido e completamente imobilizado no chão, no bairro de Tel Rumeida, em Hebron, na Cisjordânia, relançou a polémica sobre a reacção das forças de segurança israelita à sucessão de ataques com armas brancas.

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Um vídeo divulgado pela organização de defesa de direitos humanos B’Tselem em que se vê um soldado israelita a disparar contra um palestiniano, ferido e completamente imobilizado no chão, no bairro de Tel Rumeida, em Hebron, na Cisjordânia, relançou a polémica sobre a reacção das forças de segurança israelita à sucessão de ataques com armas brancas.

Na origem do vídeo, está um ataque levado a cabo por dois palestinianos, Abdel-Fattah al-Sharif, de 21 anos, e Ramzi al-Qasrawi, de 20 anos, que esfaquearam um soldado israelita, deixando-o ferido. Logo após o ataque, Al-Qasrawi foi abatido pelas forças de segurança israelitas, enquanto al-Sharif ficou ferido. Nas imagens divulgadas, vê-se o soldado ferido a ser transportado para uma ambulância, enquanto outros soldados e civis armados caminham no local. Minutos depois, um soldado israelita carregou a sua arma e disparou, em frente dos seus colegas, contra a cabeça de al-Sharif, que estava ferido e imobilizado no local.  

O soldado foi detido por suspeitas de homicídio, e poderá tornar-se o primeiro membro das forças armadas israelitas a ser acusado de homicídio desde que aumentou a escalada de violência entre israelitas e palestinianos, em Outubro do ano passado.

Na sequência da detenção, o soldado, a sua família e várias vozes da direita radical israelita tentaram justificar o sucedido, alegando que o palestiniano morto poderia ter um colete de explosivos.

Perante as críticas que partiram sobretudo, da extrema-direita, as forças de segurança israelita divulgaram no fim-de-semana novas informações sobre a investigação. Entre estas está o testemunho de outro soldado presente no local, citado pelo jornal Times of Israel, que afirma que o soldado que agora está a ser investigado disse, antes de disparar, que o atacante “merece morrer, porque esfaqueou um amigo meu”. O soldado que ouviu este comentário respondeu que o colega, esfaqueado pelos dois palestinianos minutos antes, estava apenas ligeiramente ferido e que ficaria bem.

De acordo com as alegações do Ministério Público apresentadas no tribunal militar de Jaffa, o assaltante ferido não representava uma ameaça para as tropas quando foi morto.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e o seu ministro da defesa, Moshe Ya´alon, condenaram a actuação do soldado. Opinião contrária tem uma das vozes mais influentes do ultranacionalismo israelita, o ministro da Educação, Naftali Bennett, líder do partido Casa Judaica que faz parte da coligação de Governo, que advertiu contra as acusações de homicídio.

“Declaro aqui que este soldado não é um assassino, e que a acusação de assassínio poderá ser uma total perda de controlo”, afirmou Bennet à rádio militar israelita. “Alguém ficou confuso sobre quem são os bons e os maus… e eu pretendo garantir que o soldado terá um julgamento justo”, insistiu.

Habitualmente, as acusações apresentadas por testemunhas relativamente à violência das forças de segurança israelitas são ignoradas, uma vez que a actuação dos soldados é normalmente justificada por “erros de avaliação”.

Segundo a lei militar israelita, os soldados não são responsabilizados por erros  considerados “sensatos”, mesmo que se traduzam em perdas de vida. Se o tribunal considerar que as justificações do soldado são razoáveis, este poderá escapar sem qualquer sanção criminal, e o caso será entregue aos seus comandantes para uma acção disciplinar. Caso contrário, poderá ser acusado de homicídio.

Desde Outubro, têm-se multiplicado os ataques - quase sempre com facas, quase sempre protagonizados por adolescentes ou jovens – contra civis e militares em Israel e na Cisjordânia, ao ponto de alguns observadores falarem já numa nova Intifada (revolta), ainda que de baixa intensidade. Vinte e oito israelitas foram mortos e dezenas ficaram feridos nestes incidentes, que na maioria dos casos terminam com a morte dos atacantes – nos últimos meses, 190 palestinianos morreram na sequência de ataques ou em confrontos com o Exército.