Famílias recuperam rendimento, mas nunca pouparam tão pouco
Capacidade de financiamento diminuiu no final de 2015. Melhoria do rendimento dinamiza consumo mas não está a traduzir-se em poupança das famílias.
Mais rendimento no bolso dos portugueses, mais consumo privado, mas menos poupança. Nos últimos três meses do ano passado, a capacidade de financiamento das famílias diminuiu. Apesar de haver um ganho nas remunerações e uma melhoria no rendimento, a taxa de poupança dos particulares voltou a recuar, caindo para 4,2% do rendimento disponível.
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Mais rendimento no bolso dos portugueses, mais consumo privado, mas menos poupança. Nos últimos três meses do ano passado, a capacidade de financiamento das famílias diminuiu. Apesar de haver um ganho nas remunerações e uma melhoria no rendimento, a taxa de poupança dos particulares voltou a recuar, caindo para 4,2% do rendimento disponível.
A poupança já estava no valor mais baixo desde que o Instituto Nacional de Estatística (INE) publica esta informação (1999) e, desta vez, atingiu um novo mínimo histórico, o que significa que nunca as famílias portuguesas pouparam tão pouco como agora, pelo menos em 16 anos.
As despesas das famílias em consumo final cresceram 0,7% no quarto trimestre de 2015, ligeiramente abaixo dos três meses anteriores, em que tinham avançado 0,8%. O aumento dos gastos de consumo foi superior ao reforço do rendimento disponível, que aumentou 0,5% (neste caso, mais do que no terceiro trimestre).
A principal explicação está no acréscimo das remunerações pagas aos trabalhadores. Este movimento aconteceu num trimestre em que o número de pessoas no mercado de trabalho (4,56 milhões) diminuiu em relação ao período de Julho a Setembro, mas aumentou em relação ao trimestre do ano anterior, com mais 69,9 mil pessoas a trabalhar.
Apesar de as famílias estarem a beneficiar de uma diminuição dos juros pagos, este ganho foi anulado pela redução dos rendimentos recebidos em juros e dividendos, o que fez com que o impacto dos rendimentos de propriedade sobre o rendimento disponível fosse negativo.
Feitas as contas, a capacidade de financiamento das famílias, estima o INE, baixou para 0,8% do PIB, depois de estar em 1,6% no trimestre anterior. A explicação está na quebra das transferências de capital e na diminuição da poupança.
A taxa de poupança das famílias, que em 2010, antes do pico da crise europeia atingiu um máximo histórico de 10,5% do rendimento disponível e que em 2013, com o país em plena recessão económica, também atingiu um valor historicamente elevado, nos 9%, começou a recuar a partir daí. No final de 2014 já estava abaixo de 6% e ao longo de 2015 foi caindo até atingir agora os 4,2%.
A verdade é que, apesar de o rendimento disponível das famílias estar a aumentar há cinco trimestres, a redução da poupança tem-se acentuado de trimestre para trimestre. A quebra coincide com uma dinamização do consumo privado, numa altura em que há uma recuperação do retalho alimentar e do chamado canal horeca (hotéis, restaurantes e cafés), como mostrava uma análise recente da empresa de estudos de mercado Nielsen.
Olhando para toda a economia, os números do INE mostram um aumento da poupança bruta em 0,2% e para uma melhoria do rendimento disponível de 0,6%, inferior ao aumento da despesa de consumo final, de 0,7%.