Não é muito usual haver consenso no pelotão da Fórmula 1 (F1), mas as recentes alterações introduzidas na categoria rainha do desporto automóvel “obrigaram” os pilotos a tornar pública uma posição conjunta, na qual manifestam preocupação com o futuro da modalidade.

Não é muito usual haver consenso no pelotão da Fórmula 1 (F1), mas as recentes alterações introduzidas na categoria rainha do desporto automóvel “obrigaram” os pilotos a tornar pública uma posição conjunta, na qual manifestam preocupação com o futuro da modalidade.

Nem mesmo uma animada corrida inaugural da temporada de 2016 foi suficiente para fazer esquecer o fracasso do novo formato de qualificação que, depois de muita polémica, acabou por ser estreado em Melbourne. Se a Q1 e a Q2 até decorreram dentro do previsto, a Q3, precisamente a sessão na qual seria de esperar maior emoção, acabou por ser um verdadeiro fiasco. Isto porque nos últimos cinco minutos, quando era suposto ver-se uma luta pela “pole”, apenas Hamilton e Rosberg saíram da boxe, com o último dos Mercedes a recolher a dois minutos do fim da sessão.

E esta acabou por ser a gota de água, que motivou uma reacção dos pilotos, que se mostram preocupados com os “processos de tomada de decisão obsoletos e mal estruturados” a que a F1 tem sido sujeita.

“Sentimos que muitas das recentes alterações e mudanças de regras, quer no âmbito desportivo, quer no âmbito técnico, não têm representado uma mais-valia e poderão comprometer o futuro”, pode ler-se no documento.

Dobrar os pontos na última prova de 2014, a restrição de comunicações de rádio imposta para 2016, erros fundamentais na formulação de regras dos actuais motores híbridos turbo, bem como algumas mudanças que estão a ser discutidas e ainda não foram aceites, como as penalizações de peso (lastro) ou reversão das grelhas de partida com base nos resultados da qualificação, são alguns dos recentes devaneios de uma F1, que, segundo os pilotos, precisa de uma planificação estratégica de fundo que defina um rumo para os próximos anos, a bem da própria sobrevivência.

Mas há mais. A distribuição de receitas, que cada vez mais contribui para o tão indesejado fosso entre equipas grandes e pequenas, a escolha do fornecedor de pneus ou as transmissões televisivas.

Na tentativa “cega” de maximizar receitas, a actual gestão da F1 tem optado por ceder os direitos televisivos a canais premium, ignorando que esse facto contribui para uma queda significativa nas audiências, algo que não agrada aos pilotos, igualmente descontentes com a actual política de pneus. A Pirelli continua a ser a única fornecedora, quando é sabido que essa imposição está muito longe de ser consensual.

Embora nunca seja referido, o destinatário do texto parece evidente quando este apela “aos proprietários e todas as partes interessadas a considerar a reestruturação da sua própria governação”. É ele Bernie Ecclestone. Aos 85 anos, o “patrão” da F1 volta a estar no olho do furacão, com a mais do que provável recuperação do sistema de qualificação de 2015 a ser o último episódio de uma novela de avanços e recuos, que pouco ou nada têm contribuído para a evolução da modalidade.

Ao contrário de outras categorias, como o Mundial de resistência ou o WTCC, que têm vindo a ganhar popularidade, a F1 aparece aos olhos dos fãs cada vez mais descaracterizada e muito distante de uma fórmula capaz de ser a verdadeira número um.