Espinho, outrora líder do desemprego, está a dar a volta por cima e explica como
Concelho tem um Plano Director Municipal amigo do investimento, taxas mais atractivas e 500 novos postos de trabalho. Antiga Fosforeira será transformada num complexo comercial.
“O mercado imobiliário está a fervilhar em Espinho”, garante Pinto Moreira, presidente da câmara municipal. Mas nem sempre foi assim. Em 2011, o concelho era notícia por más razões. Era o campeão nacional do desemprego, líder do ranking com 24% da população activa sem trabalho, segundo os dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). Nessa altura, o Instituto Nacional de Estatística (INE) informava que a taxa de desemprego do município era de 18,38%, acima da média do país. As indústrias tradicionais desapareciam do mapa do concelho à beira-mar plantado, o comércio definhava, o turismo perdia brilho. Espinho sofria com a alcunha e tentava rumar contra a maré. Agora parece ter conseguido: Pinto Moreira fala na criação de 500 novos postos de trabalho. É possível dar a volta por cima? O autarca acredita que sim.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
“O mercado imobiliário está a fervilhar em Espinho”, garante Pinto Moreira, presidente da câmara municipal. Mas nem sempre foi assim. Em 2011, o concelho era notícia por más razões. Era o campeão nacional do desemprego, líder do ranking com 24% da população activa sem trabalho, segundo os dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). Nessa altura, o Instituto Nacional de Estatística (INE) informava que a taxa de desemprego do município era de 18,38%, acima da média do país. As indústrias tradicionais desapareciam do mapa do concelho à beira-mar plantado, o comércio definhava, o turismo perdia brilho. Espinho sofria com a alcunha e tentava rumar contra a maré. Agora parece ter conseguido: Pinto Moreira fala na criação de 500 novos postos de trabalho. É possível dar a volta por cima? O autarca acredita que sim.
O cenário está a mudar com vários projectos comerciais desenhados de raiz, e não só. O Lidl está em construção em frente ao Continente, que abriu no final do ano passado, e vai entrar em funcionamento no próximo Verão. A Rádio Popular e o McDonalds remeteram à câmara pedidos de informação prévia para saberem se há possibilidade de avançar com os projectos que traçaram para a entrada norte da cidade, onde agora está em construção um centro de inspecções de automóveis. A antiga Fosforeira Portuguesa será transformada num complexo comercial ainda este ano e a praça de touros foi vendida a uma imobiliária que deverá também investir numa área de comércio e serviços.
Os investimentos não surgem por acaso. As taxas para quem quer investir estão mais atractivas, os processos de execução mais céleres e abriu-se a porta a equipamentos estratégicos que têm de obedecer a dois critérios: serem inovadores e implicarem um investimento superior a um milhão de euros.
O Plano Director Municipal (PDM) de Espinho acaba de ser revisto, deverá entrar em vigor ainda este ano, e olha para várias direcções, nomeadamente para o acolhimento industrial em zonas onde anteriormente não era permitido erguer negócios. Este plano renovado assume-se como amigo do investimento e com uma estratégia que “permite acolher os interesses que agregam mais-valias para o território, nomeadamente pela criação de postos de trabalho, pelo valor do investimento, pelos efeitos multiplicativos no desenvolvimento económico e social”.
A actual área empresarial da cidade é assim requalificada e olhada como um pólo de criatividade e inovação. O comércio tradicional não fica à margem: a sua revitalização surge como uma vontade no PDM e como um importante suporte à vida local e à animação urbana e ao turismo – sector que também aparece como fundamental na qualificação e disponibilização dos espaços dedicados às actividades económicas do concelho.
“A face de Espinho vai mudar", promete Pinto Moreira. Os últimos dados do INE sobre o desemprego são de 2011, mas os mais recentes números de espinhenses inscritos no centro de emprego “têm vindo a diminuir”. “Há uma tendência de inversão. Esta mudança de paradigma do desenvolvimento económico do concelho irá alavancar a criação de emprego e gerar mais postos de trabalho”, acredita o autarca.
Nada surge do céu. O mercado fervilha porque há mudanças. Nos últimos anos, a câmara tem feito alterações em regulamentos e instrumentos de planeamento do seu território. Pinto Moreira destaca algumas mudanças: o plano de urbanização das áreas industriais alargou o seu âmbito ao comércio e serviços. Na Rua 19, a principal via pedonal da cidade, são os donos dos edifícios ou promotores de negócios que agora escolhem a finalidade a dar às suas casas, para habitação ou comércio, nos processos de reabilitação – quando anteriormente havia restrições. As margens para o investimento privado aumentaram, as taxas para quem quer investir baixaram de preço, os prazos para apreciação de projectos encurtaram. “Criámos um ambiente propício ao investimento”, congratula-se o presidente da câmara. Alguns resultados estão à vista, outros em construção, vários em apreciação.
“Há uma revitalização do tecido social e económico que é importante registar”. Mas Pinto Moreira não esquece o comércio tradicional. Mais actividade económica aumenta o fluxo de pessoas. Mais pessoas geram mais negócios. “Esta indução de competitividade será benéfica para o comércio de proximidade, local”, diz o autarca.
Edifícios antigos, novos projectos
Além das construções de raiz, Espinho tem também projectos na reabilitação de prédios que, neste momento, não têm qualquer actividade. O antigo edifício da produção da Fosforeira Portuguesa será transformado num complexo comercial e de serviços ainda este ano. O projecto de arquitectura já está aprovado e estima-se um investimento privado, que rondará os nove milhões de euros. A maior parte da fachada do prédio, de interesse patrimonial, será mantida. O interior totalmente modificado. O miolo será demolido para ali surgirem dois corpos independentes mas ligados ao nível da cave. No corpo norte, será instalado um comércio retalhista de média dimensão; na face sul, estarão seis fracções de comércio e serviços; a meio, ficará um atravessamento privado de serviço às lojas constituído por dois passeios, um espaço para circulação automóvel, duas áreas de estacionamento para o espaço comercial e uma praça afecta às fracções. Em termos de altura, é possível construir apenas um piso acima da cota da soleira.
A empreitada terá duas fases. Primeiro, avança a construção do corpo norte, a cave e os arranjos exteriores, numa área total de cerca de seis mil metros quadrados em cave e 2300 acima da cota da soleira. Depois, avança-se para o edifício sul, as seis fracções de comércio e serviço, numa área de cerca de 1500 metros quadrados de construção.
As remodelações não ficam por aqui. A antiga praça de touros de Espinho, na entrada sul da cidade, construída em 1945 e que entretanto deixou de ter actividade já no século passado, será demolida. O projecto do que ali pode surgir ainda não deu entrada na câmara, mas há fortes probabilidades de se tratar de um complexo comercial, habitacional e de serviços.
Contactada pelo PÚBLICO, a imobiliária que comprou o equipamento não divulgou os seus planos, argumentando que ainda é prematuro anunciar o projecto que tem na cabeça para erguer quando a arena for demolida.
A praça de touros foi vendida em hasta pública por 885 mil euros, quantia quatro vezes superior ao orçamento da Junta de Freguesia de Espinho. A base de licitação começou nos 800 mil euros e foi disputada por dois interessados. A escritura foi assinada no início deste ano e o dinheiro já está do lado da autarquia.
“Vamos avançar com novos projectos para a comunidade, fazer obras na junta, olhar para os nossos espaços que estão subaproveitados e que com algum investimento possam estar disponíveis para a comunidade”, refere Rui Torres, presidente da Junta de Espinho.
O empreendedorismo jovem também anda debaixo de olho. O encaixe financeiro era esperado, a alienação daquele espaço era uma decisão tomada face à incapacidade de investir naquele património. “A nossa opção foi alienar”. Rui Torres pensa no futuro. “Queremos deixar uma junta mais rica, mais autónoma, mais forte e com mais serviços para a comunidade”, conclui.