Uma nova oportunidade para a América Latina
A Casa Branca levantou um dos principais obstáculos ao estabelecimento de uma nova fase na relação de Washington com os vizinhos continentais latino-americanos.
Não é só o último resquício de antagonismo da Guerra Fria que cai por terra com a histórica visita de Estado do Presidente dos Estados Unidos a Cuba. Ao aterrar em Havana, Barack Obama também atira para estudo nos compêndios a chamada Doutrina Monroe, ao abrigo da qual Washington se reservava o direito de intervir, activamente, na escolha dos governos e no desenho das políticas da América Latina.
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Não é só o último resquício de antagonismo da Guerra Fria que cai por terra com a histórica visita de Estado do Presidente dos Estados Unidos a Cuba. Ao aterrar em Havana, Barack Obama também atira para estudo nos compêndios a chamada Doutrina Monroe, ao abrigo da qual Washington se reservava o direito de intervir, activamente, na escolha dos governos e no desenho das políticas da América Latina.
Com a normalização das relações diplomáticas entre os EUA e Cuba, a Casa Branca levantou um dos principais (se calhar mesmo o maior) obstáculos ao estabelecimento de uma nova fase na relação de Washington com os vizinhos continentais latino-americanos. “É sem dúvida uma nova prioridade para a Administração norte-americana e uma oportunidade estratégica muito grande para os Estados Unidos”, explica o director do centro Adrienne Arsht para a América Latina do Atlantic Council, Peter Schechter.
O novo paradigma foi anunciado por Obama pouco depois de tomar posse, quando participou pela primeira vez numa cimeira das Américas. Em 2009, ainda era a desconfiança ostensiva e o anti-americanismo que dominavam as relações dos EUA com os países da região – onde líderes como o carismático Hugo Chávez denunciavam diariamente os malefícios do “capitalismo ianque”. De então para cá, inverteu-se o ciclo que beneficiou as economias assentes nas exportações de matérias-primas, do Brasil à Argentina, da Bolívia ao Equador e à Venezuela, e alterou-se a dinâmica política regional, com o bloco de esquerda populista a perder terreno.
A postura norte-americana também mudou: Barack Obama provou, logo quando surgiu a primeira crise regional, com um golpe de Estado nas Honduras (Junho de 2009), que a sua abordagem era, de facto, diferente do passado, e que o seu modelo seria de não-intervenção. Ao estender a mão a Cuba, o Presidente norte-americano alargou a margem para que os países “amigos” dos EUA pudessem aprofundar essa amizade abertamente, e desarmou os adversários e críticos que insistiam na “vergonha” do bloqueio para alimentar o braço-de-ferro e a divisão regional.
Com o mapa-mundo repleto de focos de crise – na União Europeia, na Turquia e Síria, no Médio Oriente –, a América Latina assume uma nova importância e apresenta-se como um novo eixo para o sucesso da política externa dos EUA. “É uma vasta área que compartilha os mesmos valores ocidentais, que não tem guerra e que cresce: é, aliás, a área de intercâmbio comercial de maior crescimento com os EUA”, assinala Schechter, que encara a visita de Obama a Cuba, e logo a seguir à Argentina, como os dois lados da mesma moeda. “É muito simbólico do regresso da América Latina à órbita do interesse comum com os Estados Unidos.”