Abdeslam foi ajudado por amigos e vizinhos, não por jihadistas

Rede de pessoas que não estão sob investigação permitiu que suspeito estivesse quatro meses em fuga.

Foto
Abdeslam foi detido na sexta-feira à tarde em Moleenbek Reuters

Durante os quatro meses em que conseguiu escapar às autoridades, o principal suspeito sobrevivente dos atentados que mataram 130 pessoas em Paris a 13 de Novembro não viajou para a Síria, Turquia ou Marrocos, como os investigadores chegaram a pensar. Na verdade, Salah Abdeslam não terá deixado Bruxelas, a cidade onde cresceu e para onde regressou logo depois da noite dos ataques.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Durante os quatro meses em que conseguiu escapar às autoridades, o principal suspeito sobrevivente dos atentados que mataram 130 pessoas em Paris a 13 de Novembro não viajou para a Síria, Turquia ou Marrocos, como os investigadores chegaram a pensar. Na verdade, Salah Abdeslam não terá deixado Bruxelas, a cidade onde cresceu e para onde regressou logo depois da noite dos ataques.

Ali permaneceu escondido “graças a uma “rede alargada de familiares e amigos que já existia para tráfico de droga e pequeno crime”, diz o procurador federal belga, Frederic van Leeuw.

Apesar dos muitos membros dos serviços de segurança belgas e franceses mobilizados para as buscas, e das grandes operações lançadas em Moleenbek, o município de Bruxelas onde o jovem francês de origem marroquina acabou por ser detido, na sexta-feira, Abdeslam conseguiu estar quatro meses em fuga graças “à solidariedade de vizinhos e amigos”, explicou o procurador à emissora pública RTBF. Durante este tempo foram feitas 24 mil telefonemas para uma linha destinada a comunicar pistas sobre os suspeitos atacantes.

Abdeslam, entretanto já acusado de “assassínios terroristas” e “participação em actividades de grupo terrorista”, terá passado grande parte do tempo na cave do apartamento da mãe de um amigo sem quaisquer ligações ao Daash (o autodesignado Estado Islâmico). Acusada de “auxiliar a abrigar criminosos”, a dona da casa foi posta em liberdade. Já o seu filho, Abid Aberkan, ficou preso, acusado de “pertencer a uma organização terrorista” e de “ajudar e dar abrigo a criminosos”.

Conduzido por dois amigos de regresso a Bruxelas depois dos atentados em que o seu irmão, Brahim, se fez explodir, foi ajudado por outros a mover-se entre esconderijos na capital belga. Os investigadores tentam agora perceber se Aberkan teria ligações ao jihadismo internacional, mas nada indica que assim fosse. Sabe-se que foi para ele que Abdeslam telefonou no início da semana, quando conseguiu fugir de outra zona da cidade, Forest, a tempo de evitar a detenção no raide a um apartamento onde estivera escondido.

Segundo a procuradoria, Abdeslam já disse que estava planeado que se fizesse explodir no Stade de France, um dos alvos dos atentados, mas decidiu “fazer marcha atrás”. François Molin, o procurador de Paris, diz que ele parece ter “desempenhado um papel central na constituição dos comandos do 13 de Novembro”, contribuindo para a chegada à Europa de alguns jihadistas e “para a preparação logística” dos ataques.

Terá sido o jovem francês a comprar o material para a confecção dos explosivos, a alugar um apartamento na periferia de Paris usado pelos atacantes e a alugar o carro usado pelo grupo que atacou a sala de espectáculos Bataclan.

O advogado de Abdeslam, Sven Mary, já anunciara que vai contestar o mandado de detenção europeu emitido por França na sexta-feira, o que pode atrasar a transferência até três meses. Mas ninguém duvida que Abdeslam acabará por ser julgado em França.

O mandado de detenção belga “vai ser prolongado na quarta-feira e o inquérito continuará”, diz Stev Mary, defendendo que “há um dossier na Bélgica, e, enquanto este se prolongar, a entrega à França pode ser suspensa”. Para Mary, Abdeslam “é de uma importância crucial para este inquérito”. Desde a detenção que o jovem “colabora, comunica, não exerceu o seu direito ao silêncio”. “Penso que será interessante dar tempo ao tempo, para que eu possa falar com ele, para que os investigadores possam falar com ele”, afirma.