A leveza vaporosa de Sallim

Francisca Salema é Sallim, com álbum de estreia acabado de editar. O concerto de lançamento é este sábado (19 de Março), na Galeria Monumental em Lisboa.

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Sara Rafael

Chama-se Francisca Salema e tem 22 anos, assinando o seu álbum de estreia, que é editado na Cafetra Records, como Sallim. É um disco de alguma forma surpreendente, canções simples para voz, guitarra, ecos e silêncio, de características quase artesanais, assumidamente sem grandes recursos, mas capaz de nos embalar no seu trajecto afectuoso.

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Chama-se Francisca Salema e tem 22 anos, assinando o seu álbum de estreia, que é editado na Cafetra Records, como Sallim. É um disco de alguma forma surpreendente, canções simples para voz, guitarra, ecos e silêncio, de características quase artesanais, assumidamente sem grandes recursos, mas capaz de nos embalar no seu trajecto afectuoso.

Dir-se-ia que a palavra ganha cores, volumes e paisagens, cantada pela voz transparente de Sallim, suportada por uma sonoridade descarnada e unificadora, onde por vezes surgem segundas guitarras e ocasionais linhas de teclados, confeccionando uma espécie de folk tridimensional. Esse quadro de economia narrativa poderia gerar um álbum onde as soluções se esgotassem com facilidade. E até certo ponto essa sensação persiste, mas na verdade a maior parte das canções parece conter um qualquer sopro de alento adicional que as faz habitar num espaço liminar, conseguindo projectar-se para além dessa circularidade inicial.

O maior mérito de Leonardo Bindilatti, que gravou e produziu o álbum (foi responsável pela gravação, por exemplo, de Alfarroba, das Pega Monstro) e de Zé Pedro Duarte (Yan-Gant Y-Tan), nas segundas guitarras, é a de terem atribuído espaço de respiração à voz e guitarra de Sallim.  Há canções que parecem ter sido compostas no meio da preguiça, do não fazer nada, do despertar melancolicamente no sentido do sol. E existem outras onde o ambiente é juvenil, mas com um travo de antigamente, sendo capaz de nos transportar para lugares e emoções inesperadas, movendo-se algures entre o sonhador e o voluptuoso.

As letras e a música tanto assumem uma costela inocente, como mergulham no realismo mágico, com melodias acetinadas, guitarras dolentes e uma leveza quase vaporosa. Disco de imagens exteriores, mas também de reminiscências interiores, onde cada faixa, apesar da sensação de reiteração, veicula atmosferas e evocações diferentes, Isula, constituiu uma estreia auspiciosa, com direito a concerto de lançamento este sábado (19 de Março), na Galeria Monumental em Lisboa.