Apoio do CDS a Rui Moreira não é pacífico

Conselheiro nacional critica o timing da líder do partido e adverte que "desta forma o CDS fica à mercê” do independente.

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Adriano Miranda

Assunção Cristas informou o partido na véspera do congresso de que iria anunciar a renovação do apoio à candidatura de Rui Moreira a um segundo mandato à Câmara do Porto em 2017. O presidente da concelhia, César Navio, foi informado pelo telefone na sexta-feira pela presidente de que iria propor aos órgãos do CDS a renovação do apoio ao independente Rui Moreira. César Navio olha para o actual presidente da Câmara do Porto como “o melhor candidato” e acha que este “é o timing” para falar de autárquicas

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Assunção Cristas informou o partido na véspera do congresso de que iria anunciar a renovação do apoio à candidatura de Rui Moreira a um segundo mandato à Câmara do Porto em 2017. O presidente da concelhia, César Navio, foi informado pelo telefone na sexta-feira pela presidente de que iria propor aos órgãos do CDS a renovação do apoio ao independente Rui Moreira. César Navio olha para o actual presidente da Câmara do Porto como “o melhor candidato” e acha que este “é o timing” para falar de autárquicas

Mas no partido há quem discorde não só do momento como das circunstâncias em que o apoio foi anunciado, porque por um lado “diminui a visibilidade” do CDS e por outro “reduz a sua capacidade política de negociar seja o que for”.

O conselheiro nacional e ex-vice-presidente da distrital do Porto do CDS, Marcelo Mendes Pinto, acha “estranho que o partido apoie um candidato que o PS também quer apoiar” e considera que “ainda é cedo para o partido se comprometer com um apoio a Rui Moreira”. “Não sabemos em que termos é que será feito esse acordo”, diz, frisando que “neste momento o PS é a força política mais organizada e Manuel Pizarro [que fez com Rui Moreira um entendimento pós-eleitoral para assegurar a governabilidade da câmara, uma vez que o presidente eleito não teve maioria absoluta] assume o papel de vice-presidente com todo o poder que isso lhe dá”.

“Há uma conquista efectiva do poder sem que o PS seja responsável por nada”, aponta o ex-vereador da Cultura de Rui Rio, para quem Assunção Cristas se precipitou ao dizer que o partido está disponível apoiar Moreira, que ontem através do seu assessor de imprensa, reafirmou que “aceitará o apoio de todos os partidos que queiram apoiá-lo”.

O ex-dirigente do PP, que integrou a direcção de Paulo Portas, vai um pouco mais longe e acusa a nova líder de “estar a fazer uma colagem a Rui Moreira”, quando - sublinha - "estamos a uma ano e meio das eleições”. Ao PÚBLICO, o conselheiro nacional entende que seria mais acertado que “Assunção Cristas tomasse primeiro o pulso ao partido e só depois tomasse uma decisão”. E observa que “nestas circunstâncias, o CDS arrisca-se a desaparecer no Porto”. Porquê? “Primeiro porque ficamos à mercê de Rui Moreira, depois porque o CDS ao dar o seu apoio desaparece e sem ter previamente negociado nada”.

Marcelo defende ainda que o acordo agora manifestado só deveria ocorrer daqui a uns meses e só depois é que devia partir para “uma negociação profunda que respeitasse a independência do candidato e ao mesmo tempo respeitasse as contrapartidas de quem dá o apoio”. “Noutras condições, o CDS podia negociar um quadro suficientemente amplo para Rui Moreira se mover e que fosse do agrado do partido”, sugere o ex-vereador democrata-cristão, que elogia a “jogada de mestre” de Manuel Pizarro de se ter antecipado ao CDS.

Diogo Feio, convidado pela líder do partido para dirigir o gabinete de estudos, vê “com naturalidade” o apoio do partido ao actual presidente e diz que o “PS tem de se orientar: ou quer estar com o Governo e com as rotas da TAP, ou quer estar do lado de quem está contra as rotas da TAP”. Na sua opinião, “o que seria estranho seria o CDS não o apoiar, e não existe nenhuma razão para que isso aconteça”.

Mostrando-se “totalmente favorável ao apoio do CDS tal como há quatro anos”, o ex-vice-presidente de Portas chama a atenção dos “partidos políticos que têm de estar abertos a eleições autárquicas de verdadeiros independentes. Se a lei abriu essa possibilidade, os partidos têm de entender isso”.

Fazendo uma avaliação positiva destes dois anos e meio de mandato, Diogo Feio tenta desanuviar as dúvidas que pairam sobre o futuro acordo e sublinha que o partido “está hoje a manter a mesma política que teve há quatro anos” e espera que quando os órgãos do partido tiverem que se pronunciar sobre a Câmara do Porto que sejam a favor do apoio a Rui Moreira. E concluiu com um recado a Manuel Pizarro: “Não vamos comparar o peso da presidente de um partido com o peso de um líder partidário que é vereador [e que disse que o PS pode apoiar Rui Moreira]”.

Os sociais-democratas consideraram extemporânea a decisão de Assunção Cristas, que pode vir a liderar uma candidatura à Câmara de Lisboa no próximo ano. Para o presidente da distrital do PSD-Porto, Virgílio Macedo, este não é o timing para discutir autárquicas. Desconhece quais os “compromissos” que existem, mas adverte que num ano e meio “muita coisa” acontece. “Se o Governo do PS cumprir a legislatura é uma coisa, se não chegar ao fim é outra”, afirma deixando a garantia de que “o PSD terá um candidato forte à Câmara do Porto”.