Cinco décadas de TV em Portugal em vídeos da carreira de Nicolau Breyner

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Gente Fina é Outra Coisa DR

“Sou actor por acaso”, disse Nicolau Breyner à RTP num documentário de 2011. Diz ter aprendido comédia com Laura Alves – “ela ensinava-me no palco”. O rapaz alentejano que se aproximou das artes de palco através do canto lírico tornar-se-ia também apresentador, realizador, produtor, director de actores, autor e muitas outras figuras de bastidores e dos palcos portugueses.

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“Sou actor por acaso”, disse Nicolau Breyner à RTP num documentário de 2011. Diz ter aprendido comédia com Laura Alves – “ela ensinava-me no palco”. O rapaz alentejano que se aproximou das artes de palco através do canto lírico tornar-se-ia também apresentador, realizador, produtor, director de actores, autor e muitas outras figuras de bastidores e dos palcos portugueses.

O actor que morreu na segunda-feira aos 75 anos trocaria o teatro, a revista, pela televisão e pelo cinema - mas sobretudo pela televisão. “Eu nasci na televisão, eu nasci para a televisão tinha a televisão dois anos em Portugal. A televisão para mim é peixe na água”, diz no mesmo documentário sobre a sua idade e a do advento da televisão em Portugal. Pela sua carreira televisiva perpassaram os anos pós-ditadura, a influência das novelas, as séries, as parcerias entre o cinema e o advento dos canais privados e os mais recentes booms de produção para o pequeno ecrã.

 

Nicolau no País das Maravilhas e Sr. Feliz e Sr. Contente (1975)

O músico de ascendência alemã Herman José foi convidado por Breyner para integrar a dupla musical Senhor Feliz e Senhor Contente, uma rábula integrada semanalmente no programa de variedades Nicolau no País das Maravilhas, em pleno ano quente de 1975. É o primeiro programa concebido por Nicolau Breyner e que tinha Thilo Krassman como autor da música que com o pontapé de saída “diga à gente, diga à gente, como vai este país?” se lançava numa visão jocosa do estado de coisas em Portugal. As rábulas foram mesmo gravadas e vendidas em disco

A dupla voltaria ao ecrã no programa Com peso e medida, também de Nicolau Breyner, como sempre actualizando a letra em relação à actualidade.  

 

Vila Faia (1982)

“Era uma grande aventura”, disse em 2002 ao PÚBLICO Nicolau Breyner, autor de textos, director de actores e intérprete de João Godunha, o ex-boxeur que desde 10 de Maio de 1982 conquistaria o país. "Pensar que iríamos fazer frente ao Brasil, nem pouco mais ou menos. Só queríamos demonstrar a nossa capacidade e a existência de gente em Portugal para fazer uma telenovela", garantia Breyner, modesto em relação ao sucesso das novelas brasileiras como Gabriela, que em 1977 tinha parado o país. Mais de três décadas depois, o horário nobre dos canais generalistas – bom, dos privados – está repleto de novelas portuguesas religiosamente vistas por cerca de três milhões de espectadores. Uma das maiores produtoras do sector, a Plural Entertainment, nasceu da fusão da NBP, a produtora de Nicolau Breyner criada nos anos 1980, e da Plural.

 

Gente Fina é Outra Coisa (1982)

Gente Fina é Outra Coisa é uma comédia televisiva que oscila entre o humor e as cenas da luta de classes, um Upstairs/Downstairs constante, com uma cabra à mistura, em que os milionários falidos Penha Leredo decidem alugar quartos na sua mansão decrépita, mas rica em aparências, sem que a idosa matriarca se apercebesse. Amélia Rey Colaço, a matriarca com o propositadamente pomposo nome Matilde Francisca Eufrosina de Santo Eustáquio de Salomão Bentorrado Corvelins Penha Leredo, estava retirada dos palcos há uma década e estreava-se com Gente Fina é Outra Coisa na televisão regular. Não só Nicolau Breyner era o mordomo Horácio, que estabelecia as ligações entre os vários personagens e bisbilhotava as suas vidas, como era um dos autores da ideia da série (com César de Oliveira) que juntou alguns dos maiores nomes da interpretação portuguesa – Ruy de Carvalho, Mariana Rey Monteiro, Simone de Oliveira ou Ivone Silva. Era um prato forte das noites de sexta-feira da RTP1.

 

Eu Show Nico (1981-2 e 1987-8)

A sua experiência no teatro de revista e como cantor colocou Nicolau Breyner na linha da frente dos chamados programas de variedades dos anos pós-revolução. Tinha skecthes, números musicais e entrevistas e colaboradores como Eunice Muñoz, Jô Soares ou Badaró. Foi ali que nasceram personagens amplamente conhecidas da sociedade portuguesa de então como o Chinesinho Limpopó de Badaró ou o número cantado, que encerrava o programa, dos Piratas que satirizavam acontecimentos recentes e, normalmente, cenas da vida política portuguesa.

 

Nico D’Obra (1993)

Início da década de 1990 na televisão portuguesa, ou quando as séries portuguesas vão beber aos originais norte-americanos da década de…. 1950. As privadas estreavam-se em Portugal e a produção de ficção diversificava-se e fazia lembrar The Honeymooners, Nicolau como pai de família proletário e gestor de relações familiares e de vizinhança com alguma brusquidão, machismo e humor. Foi também a estreia na comédia televisiva de Fernando Mendes, um dos actuais donos do fim de tarde da televisão actual com O Preço Certo, de grande público.

 

Os concursos, o cinema e as séries

Fez também Euronico (1990), apresentou o concurso Jogo de Cartas em 1989, foi realizador, produtor e fez muito cinema.

Conta cinco filmes de António-Pedro Vasconcelos, Jaime (1999), Os Imortais (2003), Call Girl (2007), A Bela e o Paparazzo (2009) e Os Gatos Não Têm Vertigens (2014), e Inferno (1999), por exemplo, com Joaquim Leitão. Este filme é também um momento televisivo, sendo o terceiro de Leitão e do produtor Tino Navarro com a SIC também a participar na produção e a garantir a sua transmissão televisiva na nova era das privadas. Inferno passou a 28 de Fevereiro de 2004 na SIC.

Nos últimos anos trabalhou em séries e programas que foram tendências em si do audiovisual português – a produção de séries dramáticas a partir de romances como Equador ou as séries juvenis como Morangos com Açúcar, além de continuar ligado às novelas - estava a filmar A Impostora, da TVI.