CDS à espera de mudar de estilo mas com o mesmo pragmatismo de Portas

Congresso do partido começa este sábado com a despedida do actual líder. Assunção Cristas será eleita no domingo.

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Assunção Cristas vai suceder a Paulo Portas na liderança do partido Nuno Ferreira Santos

Dirigentes com mais autonomia, o mesmo pragmatismo nas propostas, um discurso mais abrangente e menos de nicho, e um diálogo preferencial com o PSD. Eis o perfil do CDS-PP que muitos dos dirigentes do “portismo” traçam para o futuro do partido, depois da liderança forte, longa e incontestada de Paulo Portas. Há diferenças de estilo, sim, mas ninguém antevê um “abanão” no CDS-PP com a nova presidente do partido. Assunção Cristas deverá ser eleita este domingo, no segundo dia do XXVI Congresso do partido que começa este sábado em Gondomar. O primeiro dia será marcado pela despedida de Paulo Portas.

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Dirigentes com mais autonomia, o mesmo pragmatismo nas propostas, um discurso mais abrangente e menos de nicho, e um diálogo preferencial com o PSD. Eis o perfil do CDS-PP que muitos dos dirigentes do “portismo” traçam para o futuro do partido, depois da liderança forte, longa e incontestada de Paulo Portas. Há diferenças de estilo, sim, mas ninguém antevê um “abanão” no CDS-PP com a nova presidente do partido. Assunção Cristas deverá ser eleita este domingo, no segundo dia do XXVI Congresso do partido que começa este sábado em Gondomar. O primeiro dia será marcado pela despedida de Paulo Portas.

No momento em que se aproxima o fim de 16 anos de liderança de Portas, os centristas já admitem que o funcionamento do partido estava centrado totalmente no presidente. Com “vantagens e desvantagens” como a futura líder reconhece. “Acho que comigo [os dirigentes] terão mais autonomia certamente. Depois pode haver um ou outro dissabor que podia ser evitado e não foi por não estar sempre em cima e acompanhar tudo do princípio ao fim”, afirma Assunção Cristas. Esta forma de funcionar mais descentralizada é uma das maiores diferenças que os dirigentes esperam ver na nova fase do partido. “O Paulo ouvia muito mas era solitário nas decisões. A Assunção vai ter mais team work”, afirma João Rebelo, que fez parte de direcções de Portas e que irá regressar aos órgãos do partido.

A opinião é partilhada por João Almeida, antigo secretário-geral de Paulo Portas. O modo de funcionar passará por ser mais “orgânico-formal” nas reuniões “regulares e mais visíveis” dos órgãos do partido. Portas “tratava das coisas em pequenos grupos e funcionava. E esta forma também pode funcionar”, afirma o ainda membro da Comissão Executiva, que não vê uma revolução à vista: “Não prevejo um abanão no partido, vejo uma transição perfeitamente estável”. 

Para já sabe-se que Assunção Cristas está a preparar uma redução do número de vice-presidentes de sete para três. Estão confirmadas as saídas de Artur Lima (CDS/Açores) e de Teresa Caeiro. 

A mudança na forma de funcionar pode vir ao encontro daquele que mais criticou a falta de institucionalismo interno – José Ribeiro e Castro. “Esta direcção é toda conivente com os desmandos no partido. O funcionamento medíocre dos órgãos foi inspirado pela personalidade forte de Paulo Portas. Tenho a expectativa de que seja diferente”, afirma o ex-líder do CDS-PP entre 2005 e 2007.

Empenhados em enaltecer a futura liderança, os centristas saúdam a diferença. “Pela personalidade e a liderança de Portas, o CDS será necessariamente diferente. E ainda bem. Estou convicto de que Assunção não cairá no erro de imitar Portas”, diz Nuno Magalhães, actual líder parlamentar.  Mas, a avaliar pelas posições assumidas pela futura líder, o CDS-PP vai manter o seu lado pragmático e menos ideológico. Tal como Portas que “foi mais ideológico nos primeiros anos e mais pragmático nos últimos sete”, observa João Rebelo. O deputado vê Assunção manter a inspiração democrata-cristã, mas com um tom de discurso diferente: “será menos duro ou menos denunciador”.

E sem os chamados “nichos”. Muitos defendem que o CDS-PP não pode voltar a ser o partido “da lavoura”, “dos contribuintes” ou dos “pensionistas”. “A pressão do voto útil diminuiu. O CDS deve ter um discurso mais aberto para todos”, defende Diogo Feio, ainda vice-presidente e próximo de Assunção Cristas. Teresa Caeiro também sustenta que o CDS “não deve ser um partido de nichos” mas que “deve ter marcas muito próprias”. “Deve ser um partido de causas”, acrescenta Nuno Magalhães.

O CDS pode vir a abandonar os nichos mas já tem pelo menos um público-alvo: os eleitores que vivem nos subúrbios à volta de Lisboa, onde o partido teve resultados considerados interessantes em 2011. Esta estratégia nasceu da volta que Assunção Cristas fez pelo país na campanha interna da sua candidatura. Nestas zonas suburbanas ouviu a pergunta sobre qual é a mensagem que o CDS tem para estas pessoas? A resposta está a ser construída e pode mesmo influenciar a estratégia das autárquicas, um dos desafios eleitorais que está marcado para 2017. O partido poderá optar por ter mais candidaturas autónomas nos arredores de grandes centros urbanos. Nos últimos anos, o número de coligações autárquicas com o PSD subiu. “Provavelmente com a Assunção vai decrescer”, refere João Rebelo. Apesar de o CDS “ser muito parlamentar e assim irá continuar” – como nota João Almeida – o partido tem as cinco câmaras conquistadas sozinho em 2013 como fasquia. E isso coloca a preparação para as autárquicas como uma das prioridades da nova líder.

Com a incerteza das legislativas, onde os resultados obrigam a um entendimento com o PSD para governar, o CDS deverá fazer a sua demarcação q.b. dos sociais-democratas. “O PSD será sempre o parceiro preferencial do CDS, mas o CDS tem de estar habilitado a fazer o seu caminho”, aponta Teresa Caeiro, que foi secretária de Estado nos governos PSD/CDS de Durão Barroso e de Santana Lopes. A relação deve ser “boa e próxima”, assume João Almeida, secretário de Estado no anterior governo de coligação, salientando a necessidade de encontrar maiorias no centro-direita: “Cada um que procure alargar a sua base para gerar uma solução maioritária. Isso faz-se numa lógica de complementaridade do que concorrencial”.

A inclusão do PS numa solução maioritária com o PSD para governar foi uma hipótese admitida por Assunção Cristas mas que alguns centristas não gostaram de ouvir. Nuno Magalhães vai, neste congresso, acentuar a relação privilegiada com o PSD face ao governo de “esquerda e de extrema-esquerda”.

No novo ciclo que se abre com a sucessão de Paulo Portas, ninguém arrisca a assumir que Assunção Cristas possa ser uma líder de transição. “Substituir uma liderança forte como a de Paulo Portas só se a que vier for forte, fizer o seu caminho e marcar a diferença. Como a Assunção tem uma candidatura com origens diferentes das de Paulo Portas e tem um caminho feito como ministra – o que não aconteceu com Portas antes de assumir a liderança – ela tem condições para criar atracção”, sustenta João Rebelo.

As condições – designadamente a “boa imagem” – para uma mudança de ciclo são sublinhadas por Nuno Melo. “Assunção Cristas ascenderá num congresso pacífico, mantendo à sua volta o essencial do aparelho com apoio das principais figuras. Tem boa imagem é bem avaliada publicamente. E tem a vantagem de ter feito um bom lugar no governo em condições difíceis”, observa o vice-presidente que rejeitou avançar para a sucessão de Portas e deu o apoio à candidata. No momento em que os centristas elogiam a forma como o partido está a fazer a mudança de ciclo, ninguém deseja vida curta à nova líder. Nuno Magalhães não vê nenhuma vantagem: “Não encaro como uma liderança transitória. Seria mau para o partido se o fosse”.