Hughes pede desculpa por insinuar que ataque de Paris teve ajuda da segurança do Bataclan
Vocalista dos Eagles of Death Metal reconhece estar a ter dificuldades em esquecer o trágico ataque terrorista. “Não tenho sido eu desde o dia 13 de Novembro.”
Depois de já ter afirmado que, se toda a gente tivesse uma arma, o ataque ao Bataclan, palco da maior carnificina da trágica noite de 13 de Novembro em Paris, podia ter feito menos vítimas, Jesse Hughes volta a estar no centro da controvérsia ao sugerir que os terroristas tiveram a ajuda da equipa de segurança da própria sala de espectáculos. A direcção do Bataclan respondeu às “acusações muitos graves e difamatórias” e o vocalista dos Eagles of Death Metal acabou a pedir desculpa, admitindo não ter ainda recuperado do choque dos ataques que mataram mais de uma centena de pessoas.
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Depois de já ter afirmado que, se toda a gente tivesse uma arma, o ataque ao Bataclan, palco da maior carnificina da trágica noite de 13 de Novembro em Paris, podia ter feito menos vítimas, Jesse Hughes volta a estar no centro da controvérsia ao sugerir que os terroristas tiveram a ajuda da equipa de segurança da própria sala de espectáculos. A direcção do Bataclan respondeu às “acusações muitos graves e difamatórias” e o vocalista dos Eagles of Death Metal acabou a pedir desculpa, admitindo não ter ainda recuperado do choque dos ataques que mataram mais de uma centena de pessoas.
Foi numa entrevista à televisão norte-americana Fox Business que Jesse Hughes insinuou, na quarta-feira, dia 9, que os seguranças do Bataclan teriam colaborado de alguma forma no ataque à sala de espectáculos quando os norte-americanos actuavam e que deixou 89 mortos e centenas de feridos. O músico explicou que o número de seguranças nessa noite era claramente insuficiente e que estes poderiam mesmo ser cúmplices dos terroristas.
Para justificar a sua teoria, o músico lembrou como, nessa noite de 13 de Novembro, um segurança não foi capaz de olhar para si. Incomodado, Hughes pediu então que este fosse substituído, ao que lhe responderam não ser possível porque não haveria outro homem para o lugar daquele segurança. “Eventualmente descobri que seis [seguranças], ou lá o que eram, nunca chegaram a aparecer. Parece-me bastante óbvio que eles tinham uma razão para não aparecer”, disse o vocalista dos Eagles of Death Metal, banda fundada por si e por Josh Homme, líder dos Queens of the Stone Age.
As reacções à sua teoria não se fizeram esperar. Nas redes sociais foram muitas as pessoas que lembraram como a própria segurança foi vítima do ataque. E, um dia depois, a direcção do Bataclan viu-se também obrigada a responder. “Jesse Hughes espalhou acusações muito graves e difamatórias contra as equipas do Bataclan”, escreveu em comunicado um representante da direcção da sala de espectáculos, fechada desde o ataque – o Bataclan está neste momento em obras e deverá abrir no final deste ano. “Está a decorrer uma investigação judicial”, continua o comunicado, destacando que “todos os testemunhos recolhidos até hoje demonstram o profissionalismo e a coragem dos agentes de segurança que estavam no terreno a 13 de Novembro”. “Centenas de pessoas foram salvas graças à intervenção destes agentes”, lê-se ainda. A atitude de Hughes ao insinuar tal coisa é por isso de loucos, conclui o mesmo texto.
Jesse Hughes recorreu então nesta sexta-feira à noite ao Facebook da sua banda para pedir desculpa por tudo o que tinha dito. “Humildemente, peço perdão às pessoas de França, à equipa e à segurança do Bataclan, aos meus fãs, família, amigos e todos aqueles que tenha magoado e ofendido com as acusações absurdas que fiz na minha entrevista à Fox Business Channel”, começa por escrever o músico, admitindo que a sua teoria é infundada e assumindo toda a responsabilidade pelas suas palavras. Hughes faz questão de reforçar que a banda não teve nada a ver com aquilo que disse ao canal norte-americano. “A vergonha é 100% minha”, afirma. Hughes conta como, através de terapia, tem lutado para compreender tudo o que aconteceu. “Eu percebo que não há desculpa para as minhas palavras [...]. Estou sinceramente arrependido por ter magoado, desrespeitado ou acusado alguém.” Na caixa de comentários, as mensagens de apoio ao músico são às centenas.
Esta não é a primeira vez, desde o ataque terrorista, que Jesse Hughes se vê envolvido em polémica. Ainda no mês passado, a propósito do regresso dos Eagles of Death Metal a Paris, o músico defendeu em entrevista ao canal iTélé que, se não houvesse restrições ao uso de armas em França, o ataque teria sido menor. Para o vocalista, o que aconteceu no Bataclan só veio provar a necessidade de se garantir “o acesso universal a armas de fogo” a todos os cidadãos. Hughes é desde sempre um defensor do livre porte de armas, sendo ele próprio membro da Associação Nacional Americana de Armas de Fogo, e nem o que se passou em Paris é capaz de o fazer mudar de opinião.
“Penso que a única coisa que mudou para mim é que, talvez, até que ninguém tenha armas, toda a gente tem que as ter. Vi pessoas morrerem que talvez pudessem ter sobrevivido”, defendeu então.
Apesar de existirem há quase 20 anos, os Eagles of Death Metal, banda blues rock/garage/stoner de Palm Desert, no estado norte-americano da Califórnia, saltaram para os holofotes mediáticos nos ataques de Paris – a banda actuava quando três homens armados dispararam contra as mais de mil pessoas que assistiam ao concerto. Os Eagles of Death Metal e a sua música tornaram-se quase no símbolo da luta contra o terrorismo e todos os passos do grupo têm sido atentamente seguidos.
A banda apresentava em Paris os temas de Zipper Down, o último álbum de originais. A digressão, que passaria por Portugal a 10 de Dezembro, foi na altura cancelada e, mais tarde, reagendada. Em Fevereiro, os Eagles of Death Metal voltaram aos palcos e a Paris, onde actuaram perante um Olympia esgotado. Em Portugal, esperava-se que actuassem a 5 de Março, mas uma lesão na mão de Jesse Hughes obrigou novamente ao cancelamento da restante digressão. O grupo, que já actuou em festivais como o Vodafone Paredes de Coura e o Nos Alive, viajará agora até Lisboa a 11 de Setembro.