Europa a postos para partida de missão a Marte

Sonda e módulo de aterragem da ExoMars vão ser lançados depois de amanhã. Em 2018, será a vez de um rover iniciar a sua viagem ao planeta para procurar vida lá. Missão em duas partes conta com a Rússia.

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Ilustração da sonda Trace Gas Orbiter, que vai procurar em Marte gases raros como o metano, um possível indício de vida ESA/ATG Medialab

O foguetão russo que vai levantar voo nesta segunda-feira, às 9h31 (hora de Lisboa), da base espacial de Baikonur, no Cazaquistão, leva no seu interior dois passageiros que viajarão até Marte: a sonda Trace Gas Orbiter e o módulo de aterragem Schiaparelli. Os dois aparelhos pertencem à missão ExoMars, da Agência Espacial Europeia (ESA) e da agência russa Roscosmos, para a procura de sinais de vida marcianos. Deverão chegar ao planeta em Outubro.

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O foguetão russo que vai levantar voo nesta segunda-feira, às 9h31 (hora de Lisboa), da base espacial de Baikonur, no Cazaquistão, leva no seu interior dois passageiros que viajarão até Marte: a sonda Trace Gas Orbiter e o módulo de aterragem Schiaparelli. Os dois aparelhos pertencem à missão ExoMars, da Agência Espacial Europeia (ESA) e da agência russa Roscosmos, para a procura de sinais de vida marcianos. Deverão chegar ao planeta em Outubro.

A sonda irá investigar a origem e a circulação de gases raros da atmosfera de Marte para tentar perceber se estes gases poderão ser de origem biológica. O módulo tem como principal objectivo demonstrar que a Europa consegue fazer uma aterragem controlada em Marte. A aterragem é um momento-chave para qualquer missão que tem de colocar um aparelho no planeta. A fina atmosfera marciana dificulta em muito a descida dos aparelhos. Até agora, só a NASA, dos Estados Unidos, teve sucesso em missões deste tipo.

Se tudo correr bem com a aterragem do módulo Schiaparelli, a ESA vai ficar mais descansada para a segunda parte da missão da ExoMars, que arrancará em 2018, quando for lançado um rover europeu que irá investigar sinais de vida presente e passada analisando o solo marciano até uma profundidade de dois metros. Estes passos serão importantes para uma possível futura missão sem tripulação, que viajará ao planeta vermelho e trará de lá amostras de solo para serem analisadas.

“Provar que a vida existe ou que existiu em Marte mostraria que a Terra não é única a ter vida”, disse à agência de notícias Reuters Rolf de Groot, responsável pelo Gabinete de Coordenação da Exploração Robótica da ESA. “Isso tornaria muito mais provável a existência de outros locais no Universo com vida.”

Durante a viagem, a sonda e o módulo vão estar ligados. Três dias antes da chegada a Marte, o módulo irá desligar-se da sonda para iniciar a sua descida. O nome Schiaparelli, dado ao aparelho, é uma homenagem ao astrónomo italiano Giovanni Schiaparelli, que no século XIX julgou ter visto canais escuros na superfície de Marte. Estes canais alimentaram a imaginação do público em geral de que seres inteligentes os tinham construído. O que se revelou ser falso. Mas a humanidade nunca parou de procurar vida em Marte, que no seu passado já foi muito mais semelhante à Terra, com uma atmosfera densa e oceanos à superfície — condições que são consideradas boas para a vida.

O módulo, com forma de um cone, está preparado para a entrada na atmosfera marciana. O material na base do módulo é resistente e vai ajudar na desaceleração. Após a libertação desta estrutura, um pára-quedas irá abrandar ainda mais o aparelho. Finalmente, quando o Schiaparelli cair no chão, a parte de baixo está preparada para se partir, absorvendo o impacto final da queda.

O local escolhido para o módulo cair é o Meridiani Planum, junto ao equador marciano. Durante três ou quatro dias, graças às baterias internas, os instrumentos do módulo vão medir a velocidade e a direcção do vento, a humidade, a pressão e a temperatura junto à superfície, além da transparência e dos campos eléctricos da atmosfera.

Já a sonda está projectada para trabalhar até 2022. Após ajustes à sua órbita, o Trace Gas Orbiter poderá começar a recolher dados em Dezembro de 2017. A sonda, de cerca de 3700 quilos, tem dois painéis solares com vários metros de comprimento e quatro instrumentos científicos.

O aparelho poderá analisar gases que existem em pouca quantidade na atmosfera de Marte, como o metano, o vapor de água, o acetileno e os óxidos de azoto. Além disso, vai procurar hidrogénio até um metro abaixo da superfície de Marte com uma resolução inédita. Esta análise pode revelar depósitos de água, informação importante para locais de aterragem futuros em missões de procura de vida.

Os cientistas estão ansiosos pela informação que a sonda poderá obter sobre o metano. Recentemente foram detectadas plumas deste gás a libertarem-se do solo marciano. Há várias formas de se produzir metano, algumas devem-se a reacções químicas nos processos geológicos. Mas o gás pode ser produzido actualmente por microrganismos ou ter sido produzido no passado também por organismo, e estar guardado na crosta. A Trace Gas Orbiter irá analisar as características deste metano para tentar distinguir a sua origem.

Missão com altos e baixos
A ExoMars é uma aposta da ESA desde 2005, mas na última década a missão teve altos e baixos. A NASA chegou a integrar a missão. Uma das suas responsabilidades era construir os foguetões que iriam lançar os aparelhos. Mas em 2012, devido a um corte no orçamento, a agência norte-americana desligou-se da aventura.

Entretanto, a ESA fez um acordo com a Rússia e a Roscosmos passou a ser parceira da missão, construindo e lançando os foguetões. Além disso, dois instrumentos científicos da sonda são russos, assim como a futura plataforma de aterragem da missão de 2018. Da parte europeia, a missão vai custar 1300 milhões de euros.