Espreme-se a Viagem Medieval da Feira e obtém-se um impacto de 10,4 milhões
Perfil dos visitantes está desenhado e 73,7% são leais à recriação histórica A próxima edição decalca reinado de D. Dinis com mais de 2000 actores no centro histórico
Pela primeira vez na história da Viagem Medieval em Terra de Santa Maria, de Santa Maria da Feira, fizeram-se cálculos para perceber o impacto que a recriação tem no território. Num inquérito feito cara a cara durante a edição do ano passado, a 604 pessoas escolhidas aleatoriamente, verifica-se que o impacto financeiro directo ronda os 10,4 milhões de euros – número que será superior, uma vez que alguns inquiridos não quiseram revelar os seus gastos. O estudo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM) revela outros dados que permitem traçar o perfil dos visitantes da Viagem Medieval: 73,7% são leais ao evento, 88% prometem voltar este ano, 96% recomendam a visita a amigos e familiares, 97,3% andam acompanhados, 63,8% não residem no concelho da Feira, e 73,8% consideram o valor do bilhete barato ou justo.
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Pela primeira vez na história da Viagem Medieval em Terra de Santa Maria, de Santa Maria da Feira, fizeram-se cálculos para perceber o impacto que a recriação tem no território. Num inquérito feito cara a cara durante a edição do ano passado, a 604 pessoas escolhidas aleatoriamente, verifica-se que o impacto financeiro directo ronda os 10,4 milhões de euros – número que será superior, uma vez que alguns inquiridos não quiseram revelar os seus gastos. O estudo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM) revela outros dados que permitem traçar o perfil dos visitantes da Viagem Medieval: 73,7% são leais ao evento, 88% prometem voltar este ano, 96% recomendam a visita a amigos e familiares, 97,3% andam acompanhados, 63,8% não residem no concelho da Feira, e 73,8% consideram o valor do bilhete barato ou justo.
Irina Saur-Amaral, do IPAM, adianta mais pormenores da edição do ano passado: 60,5% dos visitantes são do sexo feminino, 50,3% têm entre 18 e 34 anos, 56,4% têm o 12.º ano ou mais anos de escolaridade, 44,2% compraram a pulseira, 54,3% estiveram só um dia. As zonas de restauração, a qualidade dos espectáculos, o ambiente, a música, a prestação do staff, são os aspectos que mais saltam à vista pela positiva. E é sobretudo à História que a Viagem Medieval é associada, por 64,7% dos entrevistados. Nos fatores menos conseguidos, os entrevistados falam do estacionamento disponível, da confusão, do pó, das zonas de descanso e das casas-de-banho. O estudo foi apresentado esta quinta-feira à noite no salão nobre do Castelo da Feira, onde o rei D. Dinis e a rainha Isabel de Aragão, os protagonistas da próxima edição, surgiram lado a lado numa pose igual à do cartaz de promoção do evento.
A próxima Viagem Medieval já está no horizonte e o número é redondo, são 20 anos. De 27 de Julho a 9 de Agosto, o centro histórico feirense volta aos tempos medievais para recriar momentos importantes do reinado de D. Dinis, o plantador de naus. Haverá um espectáculo de grande formato todos os dias, mais de 2000 actores em acção e mais de 400 voluntários e 100 colaboradores em permanência.
A harmonia entre a temática do evento e o território onde tudo acontece, com um castelo à disposição, é um dos ingredientes que explicam o sucesso da recriação histórica que, em 2015, vendeu cerca de 502.500 entradas. Mas não é o único. Paulo Sérgio Pais, administrador da empresa municipal Feira Viva, destaca a constante capacidade de inovação, o orgulho, a identidade e o sentimento de pertença das gentes locais. Tudo isso faz a diferença. “Em 2000, a Viagem salta do castelo para a zona histórica, em 2004 muda-se para Agosto, depois vai conquistando espaço – o mercado, a zona envolvente das piscinas municipais. Esta reinvenção constante tem sido preponderante para o sucesso da Viagem”, refere. Além disso, não é comum um evento de cariz medieval ter 12 dias consecutivos de programação.
Emídio Sousa, presidente da Câmara da Feira, está convencido de que o impacto financeiro é superior a 10 milhões de euros e não duvida dos efeitos económicos que a iniciativa causa tanto no concelho como nos municípios ao redor. Preparar uma Viagem Medieval envolve muita gente, empresas, comerciantes, colectividades. “Há todo um movimento económico que já ultrapassou as fronteiras de Santa Maria da Feira”, refere. E o envolvimento do tecido associativo local não passa despercebido. “A Viagem cresceu imenso com este cimento agregador. Construímos comunidade à sombra da Viagem”. O próximo desafio é a internacionalização. “A cultura não é uma despesa, é um investimento. Um concelho que não investe na cultura não presta para nada”, sublinha o autarca.
Cultura, turismo e associativismo fazem a relação perfeita que Gil Ferreira, vereador da Cultura, “cola” à Viagem Medieval que faz questão de realçar que não é um produto comprado com chave na mão. “Neste grande palco, que é Santa Maria da Feira, os conteúdos nascem da vontade de muitos, com generosidade, com entrega, e são inéditos”.
Joaquim Tavares, presidente da Federação das Colectividades de Cultura e Recreio do Concelho da Feira, não duvida que a Viagem Medieval tem repercussões dentro e fora do concelho. Cerca de 80% da programação já é assegurada por associações locais, mas, para isso, foi preciso aprender com os melhores grupos do país e da Europa. “A Viagem Medieval é o evento que mais projecta o nosso concelho e que mais afirma o território no país e no estrangeiro”, sublinha o responsável que acredita que a recriação histórica feirense poderá chegar “a um ponto em que dificilmente alguém conseguirá tocar”.