Marcelo defende multilateralismo da política externa de Portugal

"É, certamente, o vulto mais brilhante da minha geração". Com esta "bucha", Marcelo Rebelo de Sousa publicitou a candidatura de António Guterres a secretário-geral das Nações Unidas.

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O multilateralismo como a máxima constante da política externa portuguesa foi referido esta quinta-feira à tarde pelo Presidente da República, numa intervenção perante os chefes de missões diplomáticas acreditados em Lisboa. Esta característica, plasmada na eleição de Portugal por três vezes para o Conselho de Segurança das Nações Unidas e para a Comissão de Direitos Humanos da ONU, levou, inevitavelmente, a uma outra candidatura.

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O multilateralismo como a máxima constante da política externa portuguesa foi referido esta quinta-feira à tarde pelo Presidente da República, numa intervenção perante os chefes de missões diplomáticas acreditados em Lisboa. Esta característica, plasmada na eleição de Portugal por três vezes para o Conselho de Segurança das Nações Unidas e para a Comissão de Direitos Humanos da ONU, levou, inevitavelmente, a uma outra candidatura.

“É, certamente, o vulto mais brilhante da minha geração” - foi desta forma que Marcelo Rebelo de Sousa se referiu a António Guterres, o antigo primeiro-ministro e ex-alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, cuja candidatura para secretário-geral da ONU está em marcha.

Não é novidade que esta candidatura uniu o país político e institucional, o anterior Presidente Cavaco Silva já lhe manifestara apoio. Mas, a meio da tarde de quinta-feira, na sala dos embaixadores do Palácio Nacional da Ajuda, o modo como Marcelo se referiu a Guterres ecoou afecto, tanto mais que a frase não estava contemplada num discurso longo de 12 páginas.

“É uma candidatura a favor de todos, congregadora, baseada no extraordinário mérito do candidato e assente na certeza de que, caso seja eleito, António Guterres será um brilhante secretário-geral das Nações Unidas. Valorizará a ONU e fará com a inteligência e capacidade que todos lhe reconhecem a ponte entre todas as nações”, disse. A defesa dos méritos é clara, mas a “bucha” teve a autenticidade da amizade.

A capacidade de fazer pontes dos portugueses levou o Presidente ao Património Genético Português de Manuel Sobrinho Simões. “Os portugueses são todos filhos de celtas, de iberos, de gregos e de cartagineses, de romanos e visigodos, de suevos e de alanos, de árabes e judeus, dos mais diversos povos de África a sul do Sahara e também de indianos e de chineses”, insistiu.

Assim sendo, aqui reside a capacidade inata para diálogos e pontes, consensos e acordos, mediações e equilíbrios. O multilateralismo não é, pois, retórico, mas tem comprovação de ADN: “Assim, pela sua geografia, pela sua história e pela própria origem étnica, os portugueses dão-se bem na diversidade. Isto implica dar-se bem na tolerância. Implica abertura aos outros e respeito pelos outros. Revela cosmopolitismo e sentido ecuménico.”

Daqui deriva o atractivo de ser português. O à-vontade fora e o acolhimento em casa. Os diplomatas que ouviram estas palavras foram confrontados com uma dimensão diferente a que estão habituados no mundo dos tratados. A das apetências.

Como a política externa é traçada pelo Governo, o Presidente nada de novo apresentou. “Desde o primeiro Governo constitucional de 1976 até ao dia de hoje - e isto independentemente das famílias políticas que saudavelmente se têm alternado no exercício da governação desde então -, as opções da política externa portuguesa são na sua essência as mesmas”, sublinhou.

E por ordem: União Europeia, Atlântico Norte/Estados Unidos da América, países de língua portuguesa, Magrebe, Índia, China, Japão, Tailândia, Indonésia e a Espanha, único vizinho com fronteira terrestre, bom cliente das exportações e investidor atento. Também outros, onde residem portugueses: Canadá, França, Reino Unido, Luxemburgo, Alemanha, Suíça ou África do Sul. Mais Rússia, Nigéria e Turquia, por razões estratégicas. E com este mapa mundi, da diáspora aos interesses, da língua à estratégia, da cultura à história, todo o mundo nos interessa.

À margem do texto redigido, Marcelo Rebelo de Sousa abriu um parêntesis de oralidade para o Reino Unido. Referiu-se à aliança mais antiga, manifestou o desejo do que o Brexit não se consuma e, com elegância, colmatou a falha. Improvisando e atento.

Contudo, deixou novidades. A assessoria diplomática do Presidente da República e os serviços de diplomacia do Governo vão realizar encontros conjuntos com os embaixadores e chefes de missão acreditados em Lisboa. “Posso adiantar que irei promover, conjuntamente com o senhor ministro dos Negócios Estrangeiros e com a minha assessoria diplomática, encontros com os chefes de missão nos respectivos grupos regionais com que se organizam”, anunciou.

Marcelo justificou a iniciativa de, 24 horas depois de ser empossado, se dirigir aos embaixadores. Não só o acto desta tarde era uma novidade. Também o foram os participantes da parte portuguesa. “Decidi convidar para este encontro as hierarquias da Assembleia da República que mais directamente lidam com os temas que hoje aqui trataremos”, disse. A referência era abrangente. Na sala estavam o presidente e vice-presidente da Assembleia da República, os presidentes e vice-presidentes das comissões parlamentares dos Negócios Estrangeiros, Assuntos Europeus e Defesa.