A importância dos pequenos gestos
Bloquistas e comunistas agiram como se o novo Presidente da República fosse um desconhecido.
Só o mais puro preconceito ideológico explica que PCP e Bloco de Esquerda não tenham aplaudido o discurso de posse do novo Presidente da República. E desta vez vale a pena assinalar tal atitude dada a singularidade quer do discurso quer da personalidade política do chefe de Estado que agora inicia funções. Marcelo Rebelo de Sousa é militante de primeira hora do PSD, mas é realmente um social-democrata à la nórdica nas preocupações sociais, na distribuição da riqueza, na subordinação do poder económico ao poder político, como fez questão de reafirmar no seu discurso. Neste aspecto, talvez seja mais fácil encontrar diferenças entre Marcelo e o seu antecessor Cavaco Silva, oriundo da sua área política, do que relativamente a Mário Soares ou Jorge Sampaio, os presidentes que saíram das fileiras socialistas. Mesmo a sua condição de católico praticante dificilmente poderá ser invocada como razão para o ostensivo distanciamento com que o novo inquilino de Belém foi recebido por bloquistas e comunistas. Primeiro porque Marcelo é um católico naturalmente ecuménico quer naquilo que a palavra encerra em termos de tolerância e de universalismo quer nos propósitos que transporta para o exercício do seu mandato. A celebração desta quarta-feira na mesquita de Lisboa, com a presença de todas as religiões, não podia ser mais simbólica da mensagem de tolerância e de respeito pelas diferenças num momento em que a Europa e o mundo são atravessados por ventos de desamor para com os outros. Mas o próprio clima em que decorreu toda a cerimónia, natural, distendida, calorosa, e os dias que a precederam, com António Costa, num gesto de grandeza democrática, a proporcionar a Cavaco Silva uma saída de cena com toda a dignidade, exigiriam de comunistas e bloquistas a compreensão de que é impossível continuarem fechados numa espécie de cápsula do tempo, obstinados em ignorar os sinais do presente e as urgências do futuro.
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Só o mais puro preconceito ideológico explica que PCP e Bloco de Esquerda não tenham aplaudido o discurso de posse do novo Presidente da República. E desta vez vale a pena assinalar tal atitude dada a singularidade quer do discurso quer da personalidade política do chefe de Estado que agora inicia funções. Marcelo Rebelo de Sousa é militante de primeira hora do PSD, mas é realmente um social-democrata à la nórdica nas preocupações sociais, na distribuição da riqueza, na subordinação do poder económico ao poder político, como fez questão de reafirmar no seu discurso. Neste aspecto, talvez seja mais fácil encontrar diferenças entre Marcelo e o seu antecessor Cavaco Silva, oriundo da sua área política, do que relativamente a Mário Soares ou Jorge Sampaio, os presidentes que saíram das fileiras socialistas. Mesmo a sua condição de católico praticante dificilmente poderá ser invocada como razão para o ostensivo distanciamento com que o novo inquilino de Belém foi recebido por bloquistas e comunistas. Primeiro porque Marcelo é um católico naturalmente ecuménico quer naquilo que a palavra encerra em termos de tolerância e de universalismo quer nos propósitos que transporta para o exercício do seu mandato. A celebração desta quarta-feira na mesquita de Lisboa, com a presença de todas as religiões, não podia ser mais simbólica da mensagem de tolerância e de respeito pelas diferenças num momento em que a Europa e o mundo são atravessados por ventos de desamor para com os outros. Mas o próprio clima em que decorreu toda a cerimónia, natural, distendida, calorosa, e os dias que a precederam, com António Costa, num gesto de grandeza democrática, a proporcionar a Cavaco Silva uma saída de cena com toda a dignidade, exigiriam de comunistas e bloquistas a compreensão de que é impossível continuarem fechados numa espécie de cápsula do tempo, obstinados em ignorar os sinais do presente e as urgências do futuro.
Essas urgências estão todas no discurso notável de Marcelo Rebelo de Sousa, onde diz tudo o que é essencial. Do ponto de vista histórico aos compromissos constitucionais e de soberania, dos seus valores e propósitos aos desafios do país, das palavras de esperança e de auto-estima dirigidas aos portugueses ao traçar da sua própria linha vermelha enquanto Presidente da República. A saber: “Sem querer mais do que a Constituição permite. Sem ser menos do que a Constituição impõe.” Aliás, todo o discurso é um exercício de fidelidade ao Texto Fundamental que poucos como Marcelo conhecem enquanto jovem constituinte e professor que a ensinou durante 40 anos. Por isso se sente duplamente obrigado no seu juramento e tão manifestamente identificado nos “valores matriciais” que a integram e que faz questão de enunciar: a dignidade da pessoa humana, a salvaguarda da vida e da liberdade, a identidade nacional que não limita à vivência do Estado de Direito Democrático, mas que estende ao Estado Social de Direito. É um discurso de inclusão, uma afirmação de princípios que vai muito além do mero enunciado daquilo que formalmente define uma democracia, uma promessa da qual não fica uma sensação de vazio.
Face a tudo isto, não se percebe a relutância de bloquistas e comunistas em aplaudir Marcelo. Seria um sinal positivo e importante no actual contexto. Porque, e citando o novo Presidente da República, são preferíveis “os pequenos gestos que aproximam às grandes proclamações que afastam”.