Maternidade e preconceito
Portugal, século XXI: segundo o Estado português, ao homem cabe a defesa, segurança e proteção do lar, da mulher e dos filhos. À mulher fica-lhe bem sentir-se amedrontada e frágil
Ser pai é também passar pelas expetativas que os outros sobre nós colocam, através do desempenho de um determinado papel ao qual as sociedades e as culturas atribuem certos significados. Ora, uma das fontes dessa atribuição passa pela forma como o Estado define, através da informação que presta, determinadas tarefas, funções e atributos. Qual o meu espanto quando, ao ler um prospeto sobre "aleitamento materno" da Direção-geral da Saúde, constato que os estereótipos mais tradicionais são disseminados por quem deveria ter um papel exemplar na sua superação. Segundo este folheto, uma das missões do pai durante a amamentação é "proteger" e "defender" a mãe, que precisa de se sentir segura. Confesso que, no meu caso, pai há 13 dias, quem precisa de se sentir seguro sou eu e tem sido a minha mulher a proteger-me dos medos e ansiedades. Mas é a velha visão do "pai-ativo-segurança-do-lar", que blinda o ninho e assegura a tranquilidade, a prevalecer. Ou quando se acrescenta: "Não deixe entrar em casa latas de leite, biberões e chupetas. Proteja-os [mãe e filho] do marketing agressivo que os confunde". Curiosamente, nunca considerei a minha mulher confusa ou amedrontada face à publicidade agressiva, sempre a conheci, tal como eu, atenta, crítica e seletiva. Por que razão a maternidade a colocaria, por essência ou "natureza", numa situação passiva, "sob ataque" ou a necessitar da minha ação masculina para restabelecer o perímetro de segurança das nossas vidas? Um absurdo.
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Ser pai é também passar pelas expetativas que os outros sobre nós colocam, através do desempenho de um determinado papel ao qual as sociedades e as culturas atribuem certos significados. Ora, uma das fontes dessa atribuição passa pela forma como o Estado define, através da informação que presta, determinadas tarefas, funções e atributos. Qual o meu espanto quando, ao ler um prospeto sobre "aleitamento materno" da Direção-geral da Saúde, constato que os estereótipos mais tradicionais são disseminados por quem deveria ter um papel exemplar na sua superação. Segundo este folheto, uma das missões do pai durante a amamentação é "proteger" e "defender" a mãe, que precisa de se sentir segura. Confesso que, no meu caso, pai há 13 dias, quem precisa de se sentir seguro sou eu e tem sido a minha mulher a proteger-me dos medos e ansiedades. Mas é a velha visão do "pai-ativo-segurança-do-lar", que blinda o ninho e assegura a tranquilidade, a prevalecer. Ou quando se acrescenta: "Não deixe entrar em casa latas de leite, biberões e chupetas. Proteja-os [mãe e filho] do marketing agressivo que os confunde". Curiosamente, nunca considerei a minha mulher confusa ou amedrontada face à publicidade agressiva, sempre a conheci, tal como eu, atenta, crítica e seletiva. Por que razão a maternidade a colocaria, por essência ou "natureza", numa situação passiva, "sob ataque" ou a necessitar da minha ação masculina para restabelecer o perímetro de segurança das nossas vidas? Um absurdo.
Portugal, século XXI: segundo o Estado português, ao homem cabe a defesa, segurança e proteção do lar, da mulher e dos filhos. À mulher fica-lhe bem sentir-se amedrontada e frágil. Está-se bem a ver a quem serve esta pueril visão do mundo: aos homens dominadores.
Para finalizar, um escândalo maior: o folheto é patrocinado por uma empresa de células estaminais do cordão umbilical! Enfim, vou então ser um cidadão (e não um homem) consciencioso e atento às perfídias do marketing e, juntamente com a minha mulher, remeter este mísero panfleto ao lugar que lhe reserva a inteligência: o lixo.
Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico.